quarta-feira, abril 22, 2015

A indignidade dos lacaios

Após a vitória do Syrisa na Grécia, e a propósito de algumas iniciativas e propostas do governo grego em relação à União Europeia, ficou clara uma das facetas fundamentais desta Europa: o domínio da ditadura do grande capital, actualmente capitaneado pela Alemanha de Merkel e Schauble, assim como a sua posição opressora e agressiva face às classes trabalhadoras e aos povos da União Europeia. Duas significativas declarações do ministro das finanças alemão, Wolfgang Schauble caracterizam a posição arrogante do imperialismo alemão: “Sinto muito pelos gregos. Elegeram um governo que de momento se comporta de maneira bastante irresponsável”. E, após as difíceis negociações no Eurogrupo, feliz com as cedências do Syriza, o senhor Schauble, irónico e vingativo, afirmava: “Os gregos certamente vão ter dificuldades em explicar aos seus eleitores este acordo”.
Este caso também foi exemplar no que diz respeito à subserviência e à baixeza dos diversos lacaios do imperialismo alemão. Alguns exemplos da casa: o facto de Maria Luís Albuquerque ter aceitado ser exibida como troféu da imposta e execranda política (dita exitosa) de Merkel e Schauble; de Passos Coelho, a poucas horas da reunião do Eurogrupo, considerar “não aceitável” a proposta do governo grego. Passos, na linha de Schauble, aparece aqui como mais exigente do que o próprio presidente da Comissão Europeia, Juncker, que via nesta carta um “sinal positivo”, que “pode abrir caminho para um compromisso razoável no interesse da estabilidade financeira da zona euro como um todo”.
O mesmo se verificou com Cavaco, que disse e repetiu as baboseiras do costume, que se lamuriou dos juros que nos caberiam dos empréstimos feitos à Grécia e que teríamos devolvido a este país. Enquanto Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia, admitia, tardia e hipocritamente, o falhanço parcial dos programas da Troika — afirmando “Pecámos contra a dignidade dos cidadãos na Grécia, Portugal e, muitas vezes, na Irlanda também” — um porta-voz do governo português, o ministro Marques Guedes, criticava estas declarações de Juncker dizendo: “Acho, manifestamente, que é uma declaração bastante infeliz do presidente da CE, porque nunca a dignidade de Portugal nem dos portugueses foi beliscada, pela Troika ou qualquer das suas instituições”!
A vitória do povo grego (e caberá a este povo avaliar o bom ou mau comportamento do Syriza em todo este processo), obtida sobretudo por via da derrota dos partidos da Troika, foi, entre nós, mais uma oportunidade de conhecer a verdadeira natureza de políticos, burocratas e jornalistas germanófilos que actualmente governam e pontificam na sociedade portuguesa. Tem sido clara a aposta desta gente cobarde e mesquinha na derrota do povo grego, particularmente devido à ousadia deste povo em escorraçar do poder alguns dos principais agentes da sua exploração, assim como a decisão, apesar do cerco, de fazer frente ao imperialismo alemão.