quinta-feira, abril 23, 2015

O Costa porta-se "bem"

Mau demais para ser de esquerda é o mínimo que se pode dizer daquela espécie de cenário macroeconómico que o PS ontem apresentou. E mau demais para ser digno de confiança é o mínimo que se pode dizer de um líder partidário que apresenta publicamente um documento para, acto contínuo, dele se distanciar. Quem sabe se não foi vergonha. António Costa sabe que imediatamente se percebe de onde é que vem o sustento da sua aposta no consumo, estamos de acordo, necessário para impulsionar o crescimento económico e a criação de emprego. Vem das reformas futuras dos portugueses e de aumentos ainda mais rápidos da idade mínima para a aposentação, não de qualquer coisita que se aventurasse a retirar aos que enriqueceram como nunca nestes últimos anos e que quisesse devolver aos que empobreceram para os enriquecer. Pelo contrário, na amálgama ontem apresentada encontramos, entre outras, a mesma redução da TSU proposta pelo actual Governo, a subsidiação da manutenção do salário mínimo de miséria que o PS congelou em 2010 e ainda mais flexibilização laboral, não tivesse a coisa sido encomendada a uma equipa liderada por alguém como o ultraliberal Mário Centeno, autor de propostas como o “contrato único” da precariedade máxima para todos. Mas António Costa sente-se acossado por sondagens que colocam o PS no mesmo desconforto que gerou o descontentamento que depôs António José Seguro e vê-se obrigado a, sem nunca dizer que vai fazê-lo, acenar com a possibilidade de a sobretaxa de IRS e os cortes salariais na função pública poderem vir a ser suprimidos em metade do tempo proposto por PSD e CDS. Uma das poucas certezas deixadas ontem é a de que acabar com o roubo que o Tribunal Constitucional deixará de tolerar a partir de 2016 é uma ideia demasiado radical para este PS de Costa. A senhora Merkel pode ficar descansada. A reposição de salários e da sobretaxa que trata ricos e pobres em pé de igualdade também não serão motivos para lhe dar com a porta no nariz em Bruxelas. O Costa porta-se "bem".

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