quarta-feira, abril 01, 2015

Os bem intencionados

É sempre para o nosso bem. Quando há um atentado terrorista, são os big brothers adormecidos que despertam com a oportunidade de nos transformarem a todos em terroristas em potência para poderem angariar apoios para a concretização do sonho adiado de nos vigiarem cada movimento. Quando é um piloto de aviação com problemas psiquiátricos por si ocultados da entidade patronal a levar consigo para a morte 150 passageiros, tornam-nos pilotos kamikaze em potência, com toda a certeza não aparecerá tão cedo  melhor oportunidade para finalmente conceder às entidades patronais a informação que contem o poder de contratar os mais saudáveis e suspender ou despedir os menos produtivos. O bastonário da Ordem dos Médicos admitiu ontem a criação de um mecanismo para as baixas serem comunicadas directamente à entidade patronal, sem que seja violado o segredo médico, nos casos que impliquem riscos para terceiros. Mas afinal que interesse teria essa informação nestas condições? Nenhum. O segredo médico é que lhe confere todo o interesse. E o que será lá isso de "riscos para terceiros"? Se incluir o risco de contágio de doenças infecciosas, em vez de avançarem também sobre o direito à privacidade, podiam começar por conceder o direito a estar doente aos portugueses que obrigam a levar os vírus e as bactérias aos colegas no local de trabalho se não quiserem perder o direito ao salário dos dias em que necessitarem de ficar em casa. O risco desaparece. Da mesma forma, o  direito à estabilidade no emprego, que inclui o direito a não ter medo de ser despedido por se estar com problemas psiquiátricos, se não fizesse desaparecer, pelo menos minimizaria o risco de um piloto com tendências suicidas se apresentar ao serviço para a seguir matar 150 pessoas. Se o objectivo fosse realmente minimizar o perigo e fazer a nossa civilização avançar no sentido correcto, era isto que estaria a ser debatido, mais direitos e não menos. Já nos restam tão poucos.

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