sábado, maio 09, 2015

A queima e as fitas

Começou a festa aqui em Coimbra. Por quase duas semanas, a cidade sofrerá, perdão, beneficiará de todos os efeitos funestos, quer dizer, festivos, desse facto. Gozará de todas as alegrias que cabem aos reféns. E não é preciso estar atento ao calendário. Os sons,os cheiros alertam-nos para a festança. Que bom! Ainda ontem tomei nota da data de início ao ouvir os urros de júbilo que ecoavam na noite (durante toda ela…). Ouvi o bonito som das garrafas de cerveja que se partem contra os obstáculos que se interpõem no seu trajecto, o excitante exercício de percussão sobre contentores do lixo, que nos faz dançar na cama e – oh excelência de imaginação! – o rodar desses mesmos contentores empurrados, em roda livre, pela rua abaixo. Lindo! E notem: mais de cem quilos de contentor rodando livremente, sobre as suas quatro rodas, pela ladeira, acrescenta um je ne sais quoi de emoção: irá acertar numa porta? Irá embater num carro que, incauta e despropositadamente vai subindo a rua? Ou num cidadão ou, maior emoção ainda, numa criança? Tudo pode acontecer e ninguém vai levar a mal aos simpáticos e irreverentes foliões. A minha vizinha, a quem, no ano passado, urinaram na caixa de correio – que engraçado! – no dia em que recebia correspondência da sua filha emigrante espera, com a natural e ansiosa emoção, o que lhe irá acontecer este ano. Hoje apanhei um autocarro que, apesar de ir vazio, cheirava vibrantemente a mijo e vómito. Quer dizer: os alegres celebrantes, não se poupando a esforços, querem, até, partilhar connosco os seus fluidos festivos. Afinal – pensam eles, ‘taditos, ninguém lhes explicou melhor – isto é tudo tradição da Academia e tal e coisa. Quem não vai gostar são os médicos, enfermeiras, auxiliares e técnicos do Hospital da Universidade que, em vez de terem a Urgência cheia de doentes, vão tê-la cheia de estudantes em coma alcoólico. Esta malta da Saúde tem cá um mau feitio…

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