terça-feira, maio 26, 2015

COMO A CIA FALHOU NA MACEDÓNIA

O golpe de Estado da CIA previsto para o passado dia 17 na Antiga República Jugoslávia da Macedónia foi desmantelado pelas forças governamentais quando já estava em andamento. É a segunda tentativa de mudança de regime fracassada pela ponta de lança do terrorismo de Estado norte-americano nos últimos meses, depois de o governo venezuelano ter feito abortar uma intentona fascista. Apesar dos insucessos, os acontecimentos revelam que as décadas passam e os Estados Unidos da América continuam a praticar a política de não olhar a meios para atingir os fins – instalar os seus agentes à cabeça de governos onde quer que seja.
O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, lamentou os acontecimentos na Macedónia e pediu uma investigação “transparente”. Aqui se registam alguns dados já confirmados, num quadro de rigor e transparência. No dia 17 de Maio esteve prevista em Skopje, capital da Macedónia ex-jugoslava, uma manifestação da minoria albanófona na qual seriam distribuídas duas mil máscaras entre os participantes, a entregar pelos organizadores, o Partido Social Democrata de Zoran Zaev. Durante o desfile, alguns desses mascarados atacariam edifícios de várias instituições e tentariam provocar uma “revolução” inspirada nos acontecimentos na Praça Maidan e que deixaram a Ucrânia no estado saudável em que se encontra.
O golpe falhou porque os serviços governamentais macedónios conseguiram deter, em 11 de Maio, a infiltração do comando terrorista que, sob o disfarce das máscaras, iria lançar os ataques durante a manifestação. Todos os principais chefes do comando foram figuras destacadas do UCK, o grupo terrorista islâmico e albanófono a quem a NATO e a União Europeia entregaram o território do Kosovo arbitrariamente amputado à Sérvia. Um dos comandos foi identificado como sendo Rijai Bey, antigo membro da segurança de Ramush Haradinaj, traficante de drogas, antigo chefe militar do UCK e ex-primeiro ministro do Kosovo. Haradinaj compareceu duas vezes perante o tribunal dos crimes na antiga Jugoslâvia e foi absolvido em ambos os casos: durante os processos foram assassinadas nove testemunhas consideradas fundamentais.
A infiltração foi contida pelas forças governamentais durante um confronto no qual morreram 14 terroristas e oito membros dos serviços macedónios. Salomonicamente, o secretário-geral da NATO manifestou “simpatia” pelas famílias de todas as vítimas, abstendo-se de condenar o terrorismo e de manifestar apreço pelo facto de a legitimidade governamental ter prevalecido.
Porém, Washington e o seu embaixador em Skopje, Paul Wohlers, não vão desistir porque na Macedónia se joga também a guerra energética declarada contra a Rússia.
O expansionismo albanês na região, com o apoio da NATO e da União Europeia, é um combustível importante para objectivos como este. O mapa da Grande Albânia, com a integração do Kosovo e de parte da Macedónia, continua afixado nos gabinetes dos chefes de Tirana. Trata-se de uma estratégia a prazo e que, neste caso, serviu interesses mais imediatos. Através do golpe, de que já tinha havido sinais em Janeiro, os Estados Unidos tentaram frustrar a concretização do gasoduto alternativo ao South Stream, que Washington sabotou ao forçar a Bulgária a retirar-se.
Putin não desistiu e em Dezembro do ano passado convenceu a Turquia de Erdogan a colaborar numa alternativa; seguiu-se o acordo do novo governo grego de Tsipras e da Macedónia, negociado em Março. A Sérvia decidiu transitar do falhado South Stream para a nova alternativa e, com isso, passou a sentir os efeitos de novas pressões pela secessão da Voivodina. O novo projecto de gasoduto permitirá à Turquia distribuir gás russo através da Europa, contornando o embargo internacional decretado pelos Estados Unidos. Percebe-se pois, como absoluta “transparência”, talvez não a desejada pelo senhor Stoltenberg, onde queria chegar o “mundo civilizado” com esta tentativa de golpe na Macedónia. Outros capítulos se seguirão pois se dizem que Deus não dorme, Washington também não.