domingo, maio 10, 2015

De pequeninos se separam os destinos

"Aos seis anos já se aprende nas escolas como ser um empresário de sucesso". O título indignou-me, li-o no Público. As escolas deviam ensinar cidadania, a ser gente, e não o fazem. Identifico nesta falha uma das principais causas do fracasso de uma revolução sem paralelo nas mentalidades que não produziu a ruptura com o padrão de cidadão-modelo obediente e acéfalo que a Escola da ditadura modelava, uma falha que foi uma escolha consciente do tal arco que se queria completamente à vontade para, uma a uma, engolir como vem engolindo as conquistas de Abril. Lendo o artigo percebe-se que já estão na fase seguinte. Quem, "à esquerda",  comandava os destinos do país no ano lectivo de 2005/2006 escancarou as portas da Escola pública que pagamos com os nossos impostos a um exército de pregadores pago por uma organização internacional da qual em Portugal fazem parte, entre outros benfeitores da nossa sociedade, os grupos Mello e Jerónimo Martins, as Fundações EDP, Sonae e PT. Todos eles se puseram de acordo quanto à rentabilidade no longo prazo de um investimento presente na domesticação das gerações que, na quase ausência de resistência dos paizinhos, a doutrina do lucro se vai encarregando de moldar à imagem do individualista socialmente neutro porque completamente desprovido de valores colectivos orientado para a busca de uma felicidade medida pelo valor supremo do dinheiro. É bem visto. Respeito ao dinheiro. O lucro é o lucro e o resto é o resto. Competição em vez de cooperação. Disputa  em vez de solidariedade. A união faz a força. E de pequeninos se separam os destinos. Serão eles capazes de nos rentabilizar as velhices?

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