sábado, maio 23, 2015

ESTARÁ A CHINA NA EMINÊNCIA DE UM COLAPSO?

Cerca de 6,6 gigatoneladas de betão! Com isso poderia betonar-se todo o Hawai e transformá-lo num  enorme parque de estacionamento, exclamava no final de Março o "Washington Post" (WP). Esta quantidade estonteante de material de construção foi o que a China consumiu, de acordo com as estatísticas oficiais, entre 2011 e 2013, tendo a República Popular, condenada a um boom duradouro, produzido mais betão em três anos do que os EUA durante todo o século XX. Os Estados Unidos teriam consumido no século passado 4,5 gigatoneladas de betão, segundo o WP, sendo que os números oficiais de Pequim também resistiriam perfeitamente a um exame mais detalhado – o que de modo nenhum é óbvio. As informações seriam "surpreendentemente lógicas", porque uma grande parte das infra-estruturas chinesas foram construídas apenas no século XXI e a urbanização do país mais populoso do mundo foi progredindo rapidamente. Em 1978 apenas um quinto dos chineses viviam em cidades, em 2020 serão 60 por cento.

E todavia na notícia de 24 de Março ("How China used more cement in 3 years than the U.S. did in the entire 20th Century: Como a China utilizou mais cimento em 3 anos do que os EUA durante todo o século XX") surge a ideia de que as relações causais para esse crescimento vertiginoso podem ser outras, nomeadamente, podem ser localizadas no irracional. O boom chinês de infra-estruturas e construção, que catapultou a produção de betão para alturas astronómicas, é impulsionado pelas contradições internas crescentes da relação de capital que, como é sabido, consiste numa auto-valorização ilimitada, cega e intrinsecamente dinâmica – sendo tudo o resto apenas um subproduto. É também o que ilustram as 6,6 gigatoneladas de betão usadas em três anos na China.

É a esse subproduto que correspondem os resultados deste boom, que não produziram qualquer urbanismo alternativo, mas sim cópias das metrópoles ocidentais sufocando cobertas de smog. São literalmente novas construções (brevemente) em colapso, erguidas do solo em substituição da dinâmica de valorização, que estava a falhar. Cerca de um terço da construção em betão na República Popular apresenta defeitos de qualidade graves, de modo que os edifícios afectados terão de ser demolidos no médio prazo, informou o WP. Além disso o sector, que agora é responsável por metade da produção de betão de todo o mundo e por 2,5 por cento das emissões globais de CO2, sofre – tal como outros ramos industriais chineses – de enormes capacidades excedentárias, que foram construídas numa fase de "crescimento explosivo".