terça-feira, maio 05, 2015

Já fomos iguais mas já não somos mais

O Eurogrupo continua à espera de um programa de reformas que lhes agrade.
Yanis Varoufakis jogador implacável, conseguiu o impensável unir os dezoito países da zona euro.
Quando o Syriza ganhou as eleições, a 25 de Janeiro começou por ter um apoio cauteloso da Itália, da França e da Comissão Europeia. Parecia estarmos num bom caminho quando Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão, afirmava “Pecámos contra a dignidade dos povos, especialmente na Grécia, em Portugal e também na Irlanda. Eu era presidente do Eurogrupo e pareço estúpido em dizer isto, mas há que retirar lições da história e não repetir os erros”. Mas tudo isto desvaneceu, estamos em Maio e parece que a mea culpa já foi sacudida do capote.
Deste povo lusitano também esperavam alguma simpatia, solidariedade. Não esperavam de certo que mandássemos foguetes e apanhássemos as canas mas que conversássemos, que discutíssemos o futuro. Claro que em vez de apanharmos o barco deixamo-lo passar e ficamos apenas como espectadores do nosso próprio dilúvio.
Esta atitude de indiferença e egoísmo perante a coragem do povo grego, não é exclusiva de Portugal. Por estranho que pareça os países que mais se opõe à Grécia são os países mais pobres, os que estão na mesma situação ou numa situação pior. Em vez de se criar uma corrente de solidariedade entre estes países, o que encontramos é esta atitude humana egotista. Por muitas cimeiras, apertos de mão e sorrisos amarelos tudo fica na mesma, primeiro os mercados depois as pessoas.
Quatro dos seis países mais pobres da zona euro são do leste europeu. Nos anos 90, após a queda da União Soviética estes países sofreram uma enorme reestruturação económica. Com a crise de 2008/2009 a Letónia foi obrigada a aceitar o programa do Fundo Monetário Internacional (FMI), em Dezembro de 2008. O PIB da Letónia encolheu em 16% e para ajudar ainda mais à festa, aproximadamente 10% da população emigrou. A atitude crítica da Letónia em relação à benevolência do Eurogrupo perante a Grécia foi bem demonstrada na última reunião, que curiosamente decorreu em Riga, na Letónia.
O sentimento que estes países demonstram principalmente a Lituânia e a Letónia é de incompreensão, porque em 2008 quando estava iminente o colapso destes dois países não existiram greves, não houve agitação –  as pessoas serravam os punhos, sustinham a respiração e esperavam que tudo passasse, rapidamente. Suportaram tudo isto para poder entrar no euro – a Letónia, em 1 Janeiro de 2014 e a Lituânia um ano depois.
Rimantas Šadžius, ministro da finanças lituano à chegada da reunião do Eurogrupo, em Riga disse que a Grécia poderia aprender com a Lituânia como implementar reformas durante a crise, em vez de se focar tanto em arranjar ajuda externa. “Claro que existem analogias que podem ser feitas em relação à Grécia. Nós tivemos numa situação muito difícil em 2009 quando a receita dos impostos baixou um terço devido à crise financeira. E nós conseguimos ultrapassar estas dificuldades sem ajuda externa, sem pedinchar às instituições”, disse Šadžius referindo-se ao FMI e à União Europeia.
O problema na atitude destes países e destas declarações, que são legítimas é certo. É que apesar de estarem melhor, não estão bem.
Na Lituânia o ordenado mínimo é de 300€ e na Letónia é de 360€. Desde 2008 que a pobreza infantil não para de aumentar. Na Irlanda, Croácia, Islândia, Letónia e Grécia o aumento da taxa foi superior a 50%. Na Grécia, em 2012, o rendimento mediano dos agregados familiares com crianças baixou para os níveis de 1998 – uma perda equivalente a 14 anos de progresso em matéria de rendimentos. Seguindo o mesmo indicador, a Irlanda, o Luxemburgo e a Espanha perderam uma década. A Islândia perdeu nove anos. A Itália, a Hungria e Portugal perderam oito anos. (dados do relatório da UNICEF “Crianças da Recessão”, Setembro 2014.)
Já fomos iguais e continuamos a ser.