sexta-feira, maio 01, 2015

Não, não foram os pilotos que destruíram a TAP

Vamos partir de uma premissa justa: a TAP está feita em fanicos. Ora, tal como se deve fazer com as boas premissas, vamos então formular todo um raciocínio: Porque é que a TAP está feita em fanicos?
Aparentemente, por decisões de gestão que saíram furadas, também por alguns galos e diz o seu dono – o Estado – que a impossibilidade de investir também foi uma gaita. Recorde-se que as companhias aéreas não podem ser subvencionadas graças à legislação comunitária e este é, aliás, o melhor argumento para a privatização.
Bom, tendo em conta alguns dos grandes negócios da TAP, ainda bem que o Estado não pôde lá meter dinheiro. É até engraçado dizer-se que o problema de uma empresa é a falta de investimento quando praticamente todos os grandes investimentos que ela fez rebentaram com ela. Como é que isto se explica a uma criança? Olha, pequenote, a TAP andou a deitar dinheiro ao rio e agora nós queríamos deitar mais dinheiro ao rio mas não nos deixam. É isto?
É evidente que há um problema sério ao nível da gestão, o que dá azo a outra pergunta: Porque é que não se substituiu entretanto a administração da TAP, que também está a precisar de uma manutenção? Uma situação financeira dramática, erros grosseiros, azares diversos, instabilidade… e nada? O acionista não faz nada? Fica a ver? A curtir?
Bem sei que está em curso um processo de privatização, mas não será melhor privatizar-se uma empresa estável? Quem é que teve esta ideia de rebentar com a empresa para o povo perceber que ela tem mesmo de ser privatizada? Bem sei que este povo é um pouco casmurro e não está a ser fácil explicar-lhe que estamos numa comunidade que obedece a regras e uma das quais é não se poder subsidiar companhias de aviação, mas destruir a empresa jamais podia ser o caminho. Porém, foi. Foi mesmo esse o caminho. E a culpa não é dos pilotos, porque ainda não é aos comandos de uma aeronave que se destrói empresas, a menos que se aterre em cima delas.
A TAP está na miséria. Uma greve de dez dias é de facto pesada, mas uma companhia devia ter a capacidade de aguentar. Uma empresa não pode desaparecer do mapa por causa de uma greve. Há menos de um ano, os pilotos da Air France estiveram em greve 14 dias.
Não foram os pilotos que destruíram a TAP. Foi um processo. “Mas nós não pudemos investir, a sério, a Europa não deixa, juro» – dirá o Governo, mas deixem-se de tretas. Se pusermos dinheiro na TAP, a Europa não nos bombardeia. Eventualmente levanta-nos um auto e prega-nos uma coima. Mas é fazer as contas com a coima. Talvez compensasse privatizar a empresa melhor, já estabilizada, e pagar a multa. Isto se houvesse multa, porque às vezes, bem conversado e bem explicado, a boa Europa ajuda.
Por outro lado, se o Governo percebe que há uma questão passional com a TAP, porque não admite a hipótese de ficar com uma percentagem da empresa? Organiza-a, estabiliza-a, dá-lhe valor e privatiza a maioria do seu capital, ficando só ali com uma coisa para ir às reuniões. Isto não faz sentido?
Repito, não foram os pilotos que destruíram a TAP, independentemente da greve avançar e durar mais ou menos tempo, com mais ou menos adesão. Foi um processo. A TAP tem vindo a ser destruída. Apresenta resultados dramáticos e não houve, em anos, uma única alteração de estratégia ou de política. Calendarizou-se uma privatização e aqui vai disto, ninguém nos pára.
Os resultados estão aí. Uma empresa sem valor, que, diz o seu dono, nem aguenta uma greve. A culpa até pode ser dos pilotos, mas não dos que comandam os aviões, é dos que comandam a TAP.