sexta-feira, maio 22, 2015

Um exemplo a seguir

Há não muito tempo, o insuspeito Público titulava uma notícia com a mais isenta inocente das questões: "os call-centers vão salvar a economia portuguesa?" [1] . A pergunta - que era todo um programa político -, é respondida por dirigentes de empresas do sector com um conjunto de afirmações ora insólitas (como a proposta de uma licenciatura em Operador de Call-Center nas universidades, seguindo o modelo... das Filipinas...), ora despudoradamente reaccionárias. Apelos explícitos a que o Governo não regule as relações de trabalho no sector, elogios ao facto de a mão-de-obra portuguesa ser barata, argumentos de um descaramento extremo do estilo "mais vale isto que nada", de tudo ali se lança mão. Sente-se uma confiança generalizada na docilidade de quem trabalha, uma persuasão de invencibilidade, uma visão de mundo onde é um favor pagar salários, uma bênção estar empregado, e onde a função da política é governar para as grandes empresas que levam avante o nome do "país". Como dizia Lenine, e bem, só a classe dominante consegue transformar os seus interesses em interesse nacional. Como sabemos todos, é por isso que nenhum meio é de excluir para derrotar esta gente. 

Ocorre que, enquanto em Portugal os patrões de call-centers se sentem à vontade para vomitar estas atoardas, aqui ao lado a terra treme no mesmo sector, com os já mais de 40 dias de greve nos call-centers da Telefónica. No Estado Espanhol, a 28 de Março em Madrid, e a partir de 7 de Abril em todo o território, contratados, sub-contratados, e falsos trabalhadores autónomos, ergueram-se contra a sua situação e contra a pretensão da empresa de reduzir o seu salário. São trabalhadores que estão em linha 10 a 12 horas por dias, e que recebem salários entre os 500 e os 800 euros (no Estado Espanhol o salário mínimo nacional é de 645 euros). E isto ocorre numa empresa cujos membros do Conselho de Administração aumentaram a sua própria remuneração em 20%! 

Tendo constituído fundos de greve financiados por pessoas que têm apoiado a luta [2] , a 9 de Maio cem trabalhadores ocuparam a loja Movistar de Barcelona [3] , tendo logrado arrastar o apoio de mais de oitocentas pessoas, que reforçaram a ocupação exigindo que a administração da Telefónica se dignasse ouvir os representantes dos trabalhadores. Tendo sido apresentadas condições que não satisfaziam as exigências dos grevistas (salário mínimo para o sector, fim da sub-contratação, modificação das condições económicas e contratuais dos contratos autónomos, e garantias de não-repressão aos trabalhadores que aderiram à paralisação), estes não regressaram ao trabalho, e continuam firmes na sua combatividade. 


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