terça-feira, junho 02, 2015

Isabel Jonet, um papagaio ideológico do regime


No rescaldo de mais uma campanha do Banco Alimentar Contra a Fome (BACF), a inenarrável Isabel Jonet fez uma declaração à Isabel Jonet admitindo que “apesar da recuperação económica, esta ainda não terá chegado às famílias que são apoiadas pelas instituições de solidariedade social” [via Expresso].
Nem vai chegar tão cedo, isto se algum dia chegar. É que essas são precisamente as famílias que perderam empregos, que foram alvo de cortes em pensões, salários e/ou prestações sociais e/ou que estão hoje sujeitas a cargas fiscais verdadeiramente brutais que as impedem de conseguir fazer face às suas despesas. Aquelas que os amigos de Jonet no governo – com os quais a presidente do BACF parece concordar – disseram que teriam que empobrecer.
De pouco serve às camadas mais desfavorecidas da população que o PSI-20 esteja a crescer, que as exportações das contribuintes holandesas estejam a aumentar e que a situação da balança comercial esteja a melhorar por via da redução drástica das importações, que acontece porque não existe dinheiro para as fazer e não porque os portugueses decidiram ser patriotas e passar a comprar o que é nosso. O fosso continua a aumentar, o desemprego – cujos maiores inimigos têm sido políticos corruptos, clientelistas e incompetentes e não as redes sociais – só desce por via da engenharia política do desemprego e do estratagema dos estágios profissionais, a emigração em massa de centenas de milhares de jovens reduz o número de cérebros e afecta a demografia e o SNS não consegue dar resposta à procura, ao mesmo tempo que os abutres do sector privado, apoiados pelos mercenários liberais que desgovernam o país, o tomam de assalto. Falar em “recuperação económica” poderá fazer sentido nos círculos de tias e de banquetes solidários, opulentos e hipócritas, onde Isabel Jonet ocasionalmente se move, mas pouco ou nada se aplica ao mundo real onde a fome e o desespero crescem e se multiplicam. Contudo, serve na perfeição a agenda pró-austeridade deste governo num período pré-eleitoral tão delicado.
Não é a primeira vez que a presidente do BACF nos presenteia com este alinhamento saloio com a narrativa governamental. Ou é o empobrecimento necessário, ou são os mandriões dos portugueses que vivem acima das suas possibilidades com os seus frigoríficos e ocasionais refeições de carne, ou são as crianças carenciadas que chegam à escola de barriga vazia, algo que segundo esta personagem se deve à “não responsabilização e falta de tempo dos pais” e não a “hipotéticas” dificuldades financeiras, ou são os portugueses irresponsáveis que desperdiçam, por oposição à grande distribuição que faz uma gestão rigorosíssima dos bens alimentares e às regras comunitárias que, para proteger a aristocracia dos supermercados, obrigam milhares de produtores e destruir alimentos que ultrapassem determinadas cotas de produção. Mas os verdadeiros “profissionais da pobreza” que existem neste país estão no governo a trabalhar em prol do nosso empobrecimento e nos corredores lobistas a proteger o lucro da grande distribuição em detrimento da sobrevivência dos pequenos produtores e das condições laborais dos trabalhadores. Para além de pessoas como a senhora Jonet, que não só funcionam como papagaios ideológicos deste e de outros governos como acabam por usar a sua influência para (tentar) legitimar manipulações repugnantes como o conto para crianças do português comum que viveu acima das suas possibilidades, contribuindo desta forma para a narrativa de desculpabilização da incompetência e irresponsabilidade de quem nos governa e nos trouxe até aqui.
Quero sinceramente acreditar que a mediocridade comunicativa e argumentativa de Isabel Jonet é a outra face de uma moeda que no seu reverso apresenta uma gestora capaz que está efectivamente a fazer um bom trabalho à frente do BACF. Mas ouvir/ler as alucinações que a senhora traz a público leva-me por vezes a acreditar na possibilidade de haver ali um qualquer problema do foro psicológico a que se junta um alinhamento ideológico com os fanáticos da austeridade que, esses sim, viveram e vivem acima das suas possibilidades enquanto governam este país e nos mandam empobrecer. Para esses não endereça Isabel Jonet os seus falsos moralismos. Porque será?

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