segunda-feira, junho 22, 2015

SOCIEDADES ATRASADAS SÃO MAIS DESCONFIADAS

E quais são as instituições mais confiáveis nas sociedades mais atrasadas? As religiosas, diz o estudo doPúblico do passado fim de semana, e as da alta finança, digo eu e já explico.

Na página 15 da revista, e citando Pedro Magalhães, lê-se que "para pessoas como Putnam, a origem deste capital tem a ver com as instituições políticas no passado serem mais ou menos centralizadas, hierarquizadas, autoritárias; quanto mais, maiores os padrões de desconfiança". Villaverde Cabral "adverte que no caso português havia um indicador nada desprezível: o distanciamento ao poder é inversamente proporcional ao nível de educação".

Quem conheça o sistema escolar português não vacilará na conclusão: a hiperburocracia, por exemplo, deve-se a um estado insuportável de desconfiança. Por outro lado, a história recente comprovou a generalização da desconfiança para cima das classes média e baixa (quem não se lembra do mil vezes repetido: não prestam contas) enquanto a alta, com os casos BES & BPN como expoentes, vivia numa roda livre da máxima confiança.

Voltando ao sistema escolar, e agarrando num exemplo do momento, pensemos no acesso ao ensino superior: o júri nacional de exames montou paulatinamente uma teia que divinizou a desconfiança num processo de exames que equivale a 30% da nota de acesso, enquanto que estudos recentes comprovaram que há mais de uma década que há instituições mais endinheiradas que cometem irregularidades graves, e que têm provocado injustiças brutais e "irreparáveis", nos outros 70% da nota. E nada muda, nem sequer são emitidos quaisquer sinais disso, e repito uma antiga impressão inesquecível para quem tem memória para além do dia anterior: confiar?! Só confiamos no BES.


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