sábado, junho 20, 2015

The Guardian: uma saída da Grécia seria trágica para a Europa

À medida que se vão acentuando os sinais de que está eminente uma catástrofe de proporções inimagináveis, vão-se também repetindo as maiores enormidades na esfera pública portuguesa sobre a situação na Grécia. Deixemos de lado o Observador, onde se comenta caso com o mesmo tipo de profundidade e sentido das proporções que acompanhou a chegada da Troika a Portugal. Da parte do governo, continua-se a assistir ao mesmo tipo de absurdo regozijo com o fracasso das negociações e a ridícula tentativa de manter uma pose de respeitabilidade que nunca ultrapassa a mais servil colagem às posições de quem manda na zona euro. O Presidente da República já deixou bem claro que não há qualquer tipo de hipótese de regressar ao planeta terra a tempo de terminar o seu mandato com um mínimo de dignidade. Mas até no Público, “jornal de referência”, se constata a mais desoladora colagem ao discurso austeritário, como nesta passagem do artigo de Sérgio Aníbal publicada ontem: “É preciso que a Grécia faça mais para se tornar mais competitiviva e, principalmente, não pode haver recuos em áreas como a legislação laboral.”
Uma pessoa poderia pensar estar a ficar completamente louca, se não encontrasse, aqui e ali, no espaço da opinião económica convencional, leituras um pouco mais sérias do que está em causa em tudo isto (nomeadamente como se chegou a este ponto e como é que daqui se pode sair). Vítor Bento e os economistas que escreveramisto não terão os méritos intelectuais de um Paulo Tunhas ou de um João Marques de Almeida,  mas ainda assim não deixaram de fazer um diagnóstico da crise da zona euro que vai um pouco além dos “gregos que fogem ao fisco” e dos “portugueses lamechas agarrados aos seus direitos adquiridos”. Ontem, na Quadratura do Círculo, Pacheco Pereira assinalava as várias oscilações do discurso hostil ao governo grego: começaram por ser uns ingénuos bem intencionados, depois já estavam a ceder a toda a linha no seu programa e desde o final de março que se fala sobretudo da sua “intransigência” e “irresponsabilidade”, quando não do seu “radicalismo”. Outra oscilação significativa é que onde se falou, durante três anos e contra todas as evidências, em “auxílio” ou “ajuda financeira” aos países sob intervenção da Troika, se passou a falar, com a maior das naturalidades e sem qualquer constrangimento, em “credores” e “obrigações”.

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