Onde estava Mário Draghi, presidente do Banco Central Europeu, a entidade que executa as ordens dos credores para asfixiar o povo grego, quando se teceram as malhas fraudulentas que ajudaram a trepar a dívida soberana da Grécia aos níveis estratosféricos em que se encontra?
Consultando o seu currículo profissional apura-se que, durante os primeiros anos do século, Mário Draghi foi o vice-presidente para a Europa do banco norte-americano Goldman Sachs, o tal que “governa o mundo”, de acordo com alguma comunicação social que não enferma de quaisquer doenças de esquerda, e pelo qual passaram ainda nomes sonantes envolvidos nas malfeitorias da União Europeia e da troika, como é o caso doméstico do secretário adjunto do primeiro ministro de Portugal em exercício, Carlos Moedas.
Nessas funções, Draghi tinha sob a sua alçada as relações do Goldman Sachs com as empresas e os países europeus. O actual presidente do Banco Central Europeu é, sem qualquer dúvida, um dos responsáveis pelas manobras realizadas a partir de 2001 pelo Goldman Sachs e os gestores gregos para esconderem a dimensão da dívida de Atenas de modo a enganar Bruxelas e a mascarar a grosseira violação pela Grécia dos critérios de convergência estabelecidos no Tratado de Maastricht.
A história foi descoberta e contada há tempos por órgãos de comunicação como a Der Spiegel, o New York Times, a BBC, a própria Bloomberg, catedrais do neoliberalismo reinante, pelo que até as consciências virgens e tão incomodadas com os supostos gastos sumptuosos que o governo grego pretende renegociar deviam por de lado as hipócritas e convenientes amnésias.
Sob a tutela do actual presidente do Banco Central Europeu, Mário Draghi, na primeira década do século o Goldman Sachs providenciou empréstimos à Grécia envolvendo swaps cambiais com valores fictícios de mercado – imagine-se, nem o mercado escapou – que praticamente duplicaram a dívida grega ao banco. Só entre o momento do primeiro acordo e o dia da assinatura, estava-se então em Junho de 2001, as fraudulentas trocas de swaps em ienes e dólares por euros, a taxas falsas, fizeram crescer a dívida grega em 600 milhões de euros, ao mesmo tempo que os descomunais excessos desta desapareciam dos radares de Bruxelas. Além disso, o banco norte-americano cobrou grossa comissão para por em prática tal engenharia financeira
Os gestores da dívida grega confessaram depois que assinaram de cruz porque não se aperceberam da complexidade e dos alçapões do acordo. Pediram então ao Goldman Sachs uma renegociação dos reembolsos e este banco, generoso como sempre, envolveu novos produtos tóxicos que agravaram a situação. Não contente com isso, precavendo-se de um eventual incumprimento grego, tratou de vender os swaps ao Banco Nacional da Grécia, presidido por Petros Christodoulos, um gestor com afinidades ao citado banco norte-americano e que depois passou a gerir a dívida grega. Como se percebe, o actual presidente do Banco Central Europeu esteve em todas.
Não se julgue que Mario Draghi era um estreante nestas actividades, que já testara no seu país natal, a Itália. Quem o explica é o ex-presidente Francesco Cossiga. Segundo ele, Draghi favoreceu a Goldman Sachs em contratos importantes quando exercia funções de diretor do Tesouro, numa altura em que avançava a todo o vapor o processo privatizador italiano.
Conta-se que em 2010, quando a crise explodiu e tramoias como estas se tornaram conhecidas, a senhora Merkel comentou que “será um escândalo quando se descobrir que os mesmos bancos que nos deixaram à beira do abismo ajudaram a falsificar as estatísticas”.
Disse “escândalo”? Não se incomode! Lukas Papademus, governador do Banco da Grécia quando tudo foi congeminado, tornou-se primeiro-ministro grego não eleito, indicado pela senhora Merkel para substituir Papandreu e cumprir as ordens de Bruxelas e da troika para combater a dívida – com os resultados que estão à vista.
E o homem que esteve ao leme de tudo, Mário Draghi, foi recompensado com o lugar de presidente do Banco Central Europeu, a instituição que – sob ordens do governo de Merkel e dos credores agiotas em geral – fustiga o povo grego para o fazer pagar uma dívida que ele ajudou a mascarar enquanto contribuía para a aumentar desmedidamente. É nesta Europa que estamos, à mercê de traficantes de humilhação e miséria como Mário Draghi.
Lloyd Blankfein, o número 1 do Goldman Sachs e um dos responsáveis pelas fraudes que catapultaram a dívida grega para os níveis actuais, costuma dizer que é “um banqueiro a fazer o trabalho de Deus”. Sendo assim, Mário Draghi é o seu anjo exterminador.
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