Ao declarar que seria preciso discutir uma solução para a Grécia, mas “com adultos dentro da sala”, a directora-geral do FMI, Christine Lagarde, estava a revelar a atitude genocida do capital internacional sempre que alguém se lhe atravessa no caminho.
Logo surgiram tentativas para minimizar o significado da frase de Lagarde, como se ela se tivesse limitado a lançar uma graçola de gosto duvidoso, ao estalar-lhe o verniz de grande dama perante a relutância de um Governo em capitular. A essa luz tratar-se-ia talvez de uma grosseria ou mesmo de uma manifestação de carácter digna de Strauss-Kahn. Só com a diferença de Lagarde não violar empregadas de limpeza e sim povos inteiros, com os seus direitos sociais e direitos humanos.
Logo surgiram tentativas para minimizar o significado da frase de Lagarde, como se ela se tivesse limitado a lançar uma graçola de gosto duvidoso, ao estalar-lhe o verniz de grande dama perante a relutância de um Governo em capitular. A essa luz tratar-se-ia talvez de uma grosseria ou mesmo de uma manifestação de carácter digna de Strauss-Kahn. Só com a diferença de Lagarde não violar empregadas de limpeza e sim povos inteiros, com os seus direitos sociais e direitos humanos.
Na verdade, o que diz a frase de Lagarde sobre a política imperialista é muito mais interessante do que aquilo que nos diz sobre o perfil violador que parece ser requisito para preencher a cúpula do FMI. E o ingrediente-chave da frase não é tanto o que dá roda de crianças aos governantes gregos – um insulto como qualquer outro, e nem dos mais violentos –, e sim aquele que os trata como indesejáveis na sala.
E este ingrediente não era metafórico: logo que o Governo grego anunciou a convocação do referendo, o Eurogrupo passou a reunir-se com Varoufakis à porta “da sala”. A exclusão faz todo o sentido, porque, ao conspirar contra alguém, não se convida esse alguém para estar presente “na sala”.
A conspiração não é apenas para expulsar Varoufakis e Tsipras “da sala”, mas sobretudo para expulsá-los do Governo. E já vimos nos últimos anos como o diktat dos mercados fez colocar “na sala” do poder governos não eleitos: o de Mario Monti em Itália, 2011, e o de Panagiotis Pikrammenos na Grécia, em 2012. E, nessas duas ocasiões, foi possível colocá-los no poder pacificamente, porque os partidos votados sabiam que os mercados existem para ser obedecidos e acharam bem dar a comissários nomeados o lugar que devia ser de governantes eleitos.
Quando irrompem na cena política “crianças”, que não sabem obedecer – ou, pelo menos, têm lealdades conflituantes entre os mercados e o eleitorado -, aí salta o verniz aos nossos líderes globalizados. Na história sempre assim foi: acima da legitimidade eleitoral estão os interesses de classe.
Um governo legítimo que não entenda a bem esta verdade elementar, terá de entendê-la a mal. Assim sucedeu a Mossadegh, no Irão, derrubado por um golpe de Estado de inspiração britânica; assim sucedeu a Allende, no Chile, derrubado por um golpe de Estado de inspiração norte-americana; assim sucedeu mais recentemente no Egipto. E, no largo etcoetera de ditaduras sangrentas resultantes deste “adulto” comportamento do imperialismo, haveria que incluir também a ditadura grega dos coronéis.
Lagarde não inventou nada de novo. A conspiração dos “adultos” para sufocar a economia grega é da massa das que no passado provocaram golpes de Estado, guerras civis, invasões, genocídios. Tudo com a candura de quem manda uma criança, de castigo, para o canto.
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