Durante uma homenagem ao congressista norte-americano luso-descendente Devin Nunes, Paulo Portas aproveitou o palanque para lançar algumas achas eleitoralistas para a fogueira grega:
Mas nem só de ideologias se fazem os radicalismos que não se importam de dar cabo de tudo. Outros há que dele fazem uso por motivos de ambição pessoal. Quando há exactamente dois anos e um dia atrás Paulo Portas apresentou a sua demissão, na sequência da nomeação da Maria Luís Albuquerque para ocupar o lugar deixado vago por Vítor Gaspar, o então Ministro dos Negócios Estrangeiros afirmava, em carta dirigida à nação:
Expressei, atempadamente, este ponto de vista [oposição à escolha da actual ministra para o lugar] ao Primeiro-Ministro que, ainda assim, confirmou a sua escolha. Em consequência, e tendo em atenção a importância decisiva do Ministério das Finanças, ficar no Governo seria um acto de dissimulação. Não é politicamente sustentável, nem é pessoalmente exigível.
Apesar do discurso rebuscado e artificialmente patriótico, Paulo Portas acabou por optar pela dissimulação e pelo politicamente insustentável que não lhe era pessoalmente exigível. Perante a hipótese de subir na cadeia alimentar governativa, o líder do CDS pôs de lado a irrevogabilidade da sua demissão e abraçou a nova função, sendo hoje frequente vê-lo em momentos de alguma intimidade com a ministra que o levou a escolher o caminho do radicalismo que dá cabo de tudo e que, no dia 3 de Julho de 2013, fez a bolsa de Lisboa afundar-se violentamente, com os juros da dívida a tocar os 8%. Só dois anos mais tarde, precisamente na passada Segunda-feira quando as negociações entre a Grécia e a Troika foram interrompidas e o sistema financeiro afundou em bloco, é que se voltaram a registar resultados tão negativos na bolsa de valores portuguesa.
Existem efectivamente radicalismos que não se importam de dar cabo de tudo. Uns por motivos ideológicos, entre os quais podemos destacar, no passado recente, o processo de privatizações em formato liquidação total ou a reforma-fantasma do Estado que basicamente consistiu no aumento brutal da carga fiscal e na aplicação de cortes cegos em salários e pensões, que deram cabo da vida de centenas de milhares de portugueses, outros por simples ambição pessoal, como foi o caso de Paulo Portas. Fruto do radicalismo da coligação que integra, capaz de dar cabo de tudo, o fosso entre ricos e pobres aumenta há cinco anos consecutivos e a própria Comissão Europeia, insuspeita de derivas esquerdistas, acusou Portugal de ser incapaz de lidar com o aumento da pobreza, acrescentando em relatório tornado público em Fevereiro passado que os cortes nos apoios sociais prejudicaram desproporcionalmente os mais pobres. Malditos radicais sem escrúpulos.
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