quarta-feira, novembro 23, 2005

ARGUMENTANDO

Quando se resvala para as considerações de ordem pessoal
é porque já se perdeu a razão em relação às matérias que estão a ser discutidas.

O que são argumentos? Os argumentos são formas de organizar informações, a que se chama as premissas, com vista a um determinado fim, a que se chama a conclusão. Há vários tipos de argumentos: dedutivos, por analogia, de autoridade, através de exemplos e causais. Para todos eles existem regras que distinguem os bons dos maus argumentos.
A argumentação, como o seu próprio nome sugere, corresponde a um encadear de argumentos intimamente solidários entre si, com o fim de mostrar a plausibilidade das conclusões. Se uma das premissas do raciocínio argumentativo for contestada, quebra-se essa cadeia de solidariedade, independentemente do valor intrínseco da tese apresentada pelo orador. É que uma coisa é a verdade da tese, outra é a adesão que ela suscita, pois mesmo que a tese fosse verdadeira, supô-la admitida, quando é controversa, constitui uma petição de princípio característica. E porque a adesão pressupõe consenso, o orador deve recorrer aos possíveis objectos de acordo para neles fixar o ponto de partida da sua argumentação.
Algumas pessoas pensam que argumentar é apenas expor os seus preconceitos de uma forma nova. É por isso que muitas pessoas pensam também que os argumentos são desagradáveis e inúteis. Argumentar pode confundir-se com discutir. Neste sentido, dizemos por vezes que duas pessoas discutem, como numa espécie de luta verbal. Acontece muito. Mas não é isso o que os argumentos realmente são.
Apresentar um argumento quer dizer oferecer um conjunto de razões a favor de uma conclusão ou oferecer dados favoráveis para uma conclusão. Um argumento não é apenas a afirmação de certos pontos de vista, e não é apenas uma disputa. Os argumentos são tentativas de apoiar certos pontos de vista com razões. Neste sentido, os argumentos não são inúteis mas sim essenciais.
Os argumentos são essenciais, em primeiro lugar, porque são uma forma de tentar descobrir quais os melhores pontos de vista. Nem todos os pontos de vista são iguais. Algumas conclusões podem ser apoiadas com boas razões; outras, com razões menos boas. Mas muitas vezes não sabemos quais são as melhores conclusões. Precisamos de apresentar argumentos para apoiar diferentes conclusões, e depois avaliar tais argumentos para ver se são realmente bons.
Neste sentido, um argumento é uma forma de investigação.
Os argumentos também são essenciais por outra razão. Uma vez chegados a uma conclusão bem apoiada por razões, os argumentos são a maneira pela qual a explicamos e defendemos. Um bom argumento não se limita a repetir as conclusões. Em vez disso, oferece razões e dados para que as outras pessoas possam formar a sua própria opinião. As regras para argumentar não são, pois, arbitrárias: elas têm um objectivo específico. Qualquer estudo básico sobre argumentação denuncia a existência das falácias, que se dividem em formais e não formais. As formais implicam erros na sua forma, na estrutura do raciocínio. As não formais, em geral são pseudo argumentos que disfarçam a sua inconsistência com algum tipo de artifício, como um apelo abusivo a autoridades, um exagero ou uma anedota.
Todos sabemos o que é uma mentira. Feita de uma pessoa para outra, ou para muitas outras, é uma afirmação cujos factos enunciados não correspondem à verdade. Mentiras são maneiras de evitar uma possível punição ou de encobrir uma situação ridícula; pode ser também uma estratégia para não comprometer outras pessoas injustamente. Afinal, ninguém gosta de ser, ou merece ser, vítima de mentiras no que elas têm de condenável porque escondem a verdade. A vítima de uma mentira está sempre em desvantagem porque não sabe a verdade, não tem a informação correcta para tomar uma decisão acertada, podendo ainda sentir-se em dúvida, num cepticismo perturbador, até que a verdade se imponha. A vítima de uma mentira age sob a influência de um ardil verbal. Acredita naquilo que supõe ser verdadeiro quando não o é. Podemos ser vitimados também por um outro tipo de desvio de pensamento que é tão perigoso e enganador quanto a mentira: a falácia. Enquanto a mentira é uma informação falsa, uma falácia é um argumento falso, ou uma falha num argumento, ou ainda, um argumento mal direccionado ou conduzido. Para entender bem isso, é preciso lembrar que quando pessoas esclarecidas tentam convencer outras também esclarecidas a acreditar nas suas afirmações, precisam usar argumentos, isto é, exemplos, evidências ou casos ilustrativos que confirmem a veracidade do enunciado. Como se vê, estamos a falar de discursos, de enunciados, de declarações feitas com o fim de persuadir, levando alguém ou um grupo a acreditar numa coisa ou outra. A diferença entre uma pessoa esclarecida e uma não esclarecida é a maneira como ambas lidam com discursos: a primeira tem critérios para aceitar ou rejeitar argumentos; a segunda ainda não aprendeu os critérios para distinguir argumentos que carecem de fundamentação. Não confundir mentiras com falácias. Mentiras são desvios ou erros propositados sobre factos reais; falácias, por outro lado, são discursos, ou tentativas de persuadir o ouvinte ou leitor; promovendo um engano ou desvio, porque as suas estruturas de apresentação da informação não respeitam uma lógica correcta ou honesta, pois foram manipuladas certas evidências ou há insuficiência de prova concreta e convincente. Uma afirmação falaciosa pode ser composta de factos verdadeiros, mas a sua forma de apresentação conduz a conclusões erradas. Existem três grandes categorias de falácias: as que são baseadas em truques de palavras que chamamos de falácias semânticas também conhecidas pelo nome de falácias de ambiguidade; aquelas que representam a perversão de métodos de argumentos legítimos, especialmente o indutivo chamadas falácias indutivas que também têm o nome de falácias de dados insuficientes; e aquelas que representam argumentos extraviados ou desencaminhados são as falácias dedutivas materiais e as argumentações defeituosas ou, falácias de não relevância.




Falácias da não relevância

Este tipo de falácias têm uma característica comum: são argumentos cujas premissas não são logicamente rele­vantes para a conclusão que delas se pretende derivar. Contudo, são argumentos em que se estabelece um laço emocional entre as premissas e a conclusão, isto é, procu­ram estabelecer uma determinada conclusão tirando partido de factores psicológicos como a piedade, o medo, a opinião da maioria, a importância social e cultural de certas pes­soas, etc. Por essas razões as falácias deste tipo — muito comuns — parecem argumentos persuasivos e, frequente­mente, iludem quem não está atento e confunde relevância psicológica e relevância lógica.



Falácia do Apelo à Força
(argumentum ad baculum)


A falácia do apelo à força verifica-se quando quem argumenta a favor de uma conclusão sugere ou afirma que algum mal ou algum problema acontecerá a quem não a aceitar. Portanto, este tipo de argumentação baseia-se em ameaças explícitas ou implícitas ao bem-estar físico e inclusive psicológico do ouvinte ou do leitor seja ele um indivíduo ou um grupo de indivíduos. Todos temos noção de que a defesa de certas ideias muitas vezes não se faz em público por­que cedemos, para nossa própria segurança, à pressão que certos grupos exercem e ao medo de reacções violentas que possam afectar a nossa integridade, a nossa reputação, a estima de que somos objecto, etc.
É evidente que as ameaças, a temor e o medo são logicamente irrelevantes para a conclusão. É por más e não boas razões (logicamente relevantes) que se adere à conclusão dos "argumentos" desta espécie: a intimidação toma o lugar da razão. Sendo obviamente falaciosos tais argumentos têm tido e terão um uso quantitativamente assinalável em virtude da forte pressão psicológica que os acompanha.


Falácia do Apelo ao Povo
(argumentum ad populum)


Esta forma de argumento falacioso verifica-se quando, por falta de razões convincentes ou per­tinentes, se manipulam e exploram sentimentos da audiência para a fazer adoptar o ponto de vista de quem fala. O "argumento" dirige-se a um conjunto de pessoas — "ao povo"— e tira partido de preconceitos, desejos e emoções para tornar persuasiva uma ideia ou uma conclusão para qual não se encontram nem dados, nem provas nem argumentos racionais. O princípio que orienta quem recor­re ao "apelo ao povo" é o de que aquilo que a maioria das pessoas considera verdadeiro, valioso, agradá­vel é verdadeiro, valioso e agradável. A opinião da maioria toma o lugar da verdade. Exploram-se senti­mentos muito humanos como "o desejo de ser como os outros", de ser estimado e aceite.
Com frequência, recorrem a este estratagema os políticos demagogos e os publicitários. Hitler era um mestre nesta técnica de manipulação dos sentimentos, desejos e aspirações das multidões mas os políticos actuais também o são. Basta simplesmente recordar alguma das campanhas eleitorais a que assistimos ("Querem a mudança ou a continuidade em segurança?"; "Eles vão aumentar os impostos! Votai em mim";
Os argumentos ad populum não são, com propriedade, argumentos mas estratagemas para despertar e manipular as emoções, desejos e paixões da maioria das pessoas. E, como se sabe, o apelo aos sentimen­tos é, em muitos casos, o caminho mais eficaz — e curto — para persuadir um auditório.

Falácia do Ataque Pessoal
(argumentum ad hominem)

Esta falácia comete-se quando alguém tenta refutar o argumento de uma outra pessoa atacando não o argumento mas sim a pessoa. Em vez de uma contra-argumentação (oposição de um argu­mento a outro) temos um ataque pessoal, ou seja, em vez de apresentar razões adequadas ou perti­nentes contra determinada opinião ou ideia, pretende-se refutar tal opinião ou ideia censurando, desacreditando ou desvalorizando a pessoa que a defende.
É evidente que partimos de um pressuposto errado ou pelo menos muito discutível quando julgamos que o carácter de uma pessoa, a sua profissão, a sua nacionalidade, a sua ideologia, a sua religião, etc, são relevantes para julgar a verdade ou falsidade das suas opiniões. As falácias ad hominem são muito frequentes nos debates e nas controvérsias mais acesas e polémicas. Se alguém conseguir criar um ambi­ente hostil a alguém, tal hostilidade pode estender-se à maior parte das opiniões desse indivíduo.
O estratagema do argumento ad hominem é este: reprova-se ou desacredita-se alguma ou algumas características da pessoa (o seu temperamento, o modo de ser, o comportamento moral, a profissão, a nacionalidade, a etnia, a ideologia, a religião ou a ausência dela, etc.) utilizando-as como meio de refuta­ção das suas, opções.

Falácia do Apelo à Autoridade não Qualificada
(argumentum ad verecundiam)

Quando, para provarmos a verdade de certa ideia ou conclusão, nos apoiamos numa tradição obsoleta, na reputação de uma pessoa que não é uma autoridade nem um especialista no assunto em causa, ou na opinião da maioria, cometemos a falácia do apelo a autoridade não qualificada.
O que torna uma suposta autoridade não credível? Primeiro, como já se deu a entender, o facto de não ser um especialista no assunto em causa; segundo, o facto de poder estar afectada por preconceitos, por interesses pessoais.
É evidente que em muitos assuntos o nosso saber é nulo ou inadequado e por isso recorremos a quem julgamos ser especialista ou autoridade na matéria: consultamos advogados, médicos, professores, livros, etc.
Recorrer, num dado problema, a uma autoridade competente é delegar a solução desse problema numa outra pessoa quando o nosso saber não é adequado.
É uma atitude reveladora de modéstia e razoabilidade. Não há, contudo, nenhuma razão para ficar impressionado com as opiniões dadas por pessoas que devido à sua reputação noutras áreas não têm nenhuma competência especial no assunto.


Falácia do Apelo à Ignorância
(argumentum ad ignorantiam)
Esta falácia ocorre quando se argumenta que uma proposição é verdadeira porque não foi pro­vado que é falsa ou falsa porque não foi provado que é verdadeira.
Sempre que acerca de um determinado problema não temos nenhuma evidência — ou então muito escassas — a favor ou contra, tirar uma conclusão afirmativa ou negativa é falacioso. A não existência de prova revela única e simplesmente que o nosso conhecimento é limitado, que o método científico não é bem sucedido na reso­lução de todo e qualquer problema. Por outro lado, se o que não está provado não existe como compreen­der a evolução do conhecimento científico?

Falácia do Apelo à Piedade
(argumentum ad misericordiam)


A falácia do apelo à piedade acontece quando alguém argumenta recorrendo a sentimentos de pie­dade e de compreensão por parte da audiência de modo a que a conclusão ou afirmação defendida seja aprovada. Ora, "falar ao coração" não é um modo racional de argumento. Este tipo de argumento é com frequência utilizado por estudantes para convencerem os seus professores a aprová-los. Em vários fil­mes de Hollywood, as cenas de tribunal mostram-nos muitas vezes os advogados de defesa a tentarem obter a ilibação do réu apelando, dentro do que as circunstâncias permitem, à piedade, compreensão e altruísmo dos jurados.

Falácia do Espantalho

Aquele que a utiliza procura distorcer o argumento a fim de o refutar com mais facilidade. Não analisa com honestidade o argumento e dá-lhe a interpretação que mais lhe convém para efeitos de refutação. É a técnica de descrever enganosamente ou de deturpar as ideias do oponente a fim de destruí-las mais facilmente, para em seguida atacar essas ideias e concluir que foram demolidas. É uma falácia porque deixa de lidar com os argumentos verdadeiros feitos pelo oponente.


Falácias de Dados Insuficientes

Estas falácias são, em geral, argumentos indutivos incorrectos porque as premissas são apresentadas como base segura e sólida da conclusão quando na realidade o suporte que dão à conclusão é escasso ou mesmo nulo.
Neste tipo de falácias, o defeito não é o de as premissas serem logicamente irrelevantes para a conclusão, mas sim o facto de a conexão entre aquelas e esta não ser suficiente­mente forte para suportar ou justificar a conclusão.

Generalização Apressada ou Inadequada


A generalização apressada é uma falácia tipicamente indutiva. Verifica-se quando uma afirmação (conclusão) acerca de uma classe de pessoas, de situações ou de objectos se baseia na observação de um número pouco representativo ou mal seleccionado dos membros da classe em questão.
0 esquema da falácia da generalização apressada é o seguinte:
«Se isto é verdade acerca de poucas coisas de uma certa espécie, então é verdade acerca de todas as coisas daquela espécie.»Duas exigências se colocam para que as generalizações que efectuamos sejam legítimas. Deve haver um número suficiente de casos que justifique o "salto indutivo". Os casos devem ser propriamente da generalização efectuada a "amostra" a partir da qual se generaliza pode ser pequena e, contudo, ser suficientemente forte para suportar a conclusão.

Falsa Causa


Quando cometemos esta falácia? Quando julgamos que o facto de um acontecimento preceder outro é prova suficiente de uma relação causal (necessária) entre os dois acontecimentos. Mais propriamente: julgamos que se B tem até agora sucedido a A então A é causa de B.
Ora a sucessão temporal (B acontece depois de A) não é necessari­amente sinónimo de relação causal (A é causa de B).
Muitas vezes, transformamos o que simplesmente acontece antes em causa do que acontece depois. Assim, é frequente algumas pessoas julgarem que certas bebidas alcoólicas curam constipações ou resfria­dos quando, em muitos casos, é o próprio organismo que se cura a si mesmo com uma boa noite de sono e uma boa refeição; também se julga que fumar um cigarro alivia a dor de dentes; durante muito tempo acre­ditou-se que o arco-íris era a causa que, em determinadas circunstâncias, fazia cessar a chuva, etc, etc.
Em suma, a falácia da falsa causa ocorre quando um argumento apresenta como causa de um facto algo que não tem nenhuma relação directa com o facto que se pretende que explique. A tradi­ção criou a expressão post hoc, ergo propter hoc (depois disto, logo por causa disto) para designar este defeito no raciocínio. A falácia da falsa causa tem o seguinte esquema geral: Até agora ao acontecimento A tem sucedido o acontecimento B Por isso, A é causa de B.
Contudo, para não sermos simplistas, a falácia da falsa causa não se verifica somente quando con­fundimos sucessão temporal com conexão causal.
Acontece também quando o que julgamos ser a causa de algo não o é realmente.
«A violência que a televisão e os cinemas mostram é a causa da violência real. E não venham com mais explicações.»

A Petição de Princípio

A petição de princípio consiste em pretender provar uma conclusão, tendo, contudo, como premissa a própria conclusão, ou seja, supõe-se como verdadeiro o que se queria provar.
Apesar de à primeira vista isto parecer um evidente disparate, a verdade é que o modo de formular este argumento falacioso é, por vezes, subtil. A ausência de elementos ou dados que justifiquem dada conclusão, leva quem argumenta, a disfarçar a conclusão transformando-a aparentemente — dando-lhe a aparência — em premissa. Podemos dada a forma como o "argumento" é mascarado, não detectar que o que se pretende provar já está na premissa como sinónimo.
Mais difícil é detectar a circularidade do argumento (toda a petição de princípio é um argumento cir­cular) quando entre a pretensa conclusão e o início do raciocínio intervêm várias premissas.

O Declive ardiloso ou a Encosta Escorregadia

Esta modalidade de argumento falacioso consiste em dizer que uma vez desencadeada certa acção, esta não terminará enquanto não se chegar às últimas consequências. É o argumento sugerindo que se nós permitimos que algo aconteça ou comece, consequentemente uma outra coisa acontecerá, com certeza ou boa probabilidade, seguida ainda de outra coisa, e assim por diante, descendo uma "encosta escorregadia", até chegar a uma situação claramente indesejável.


As Falácias de Ambiguidade

Este tipo de falácias ocorre quando os argumentos con­têm termos ou frases que ao longo de um mesmo raciocínio são usadas com mais de um sentido. A ambiguidade — usar num mesmo contexto diferentes significados de uma palavra ou frase — conduz a erros que, em vários casos, se tornam difíceis de detectar.

Equivocação


A falácia da equivocação verifica-se quando, aciden­tal ou deliberadamente, num argumento usamos um termo em dois sentidos diferentes.
Só o homem ri
Nenhuma mulher é homem
Logo, nenhuma mulher ri
O argumento é falacioso porque na premissa inicial "homem" significa "espécie humana" e na segun­da "ser humano do sexo masculino".
A ciência tem como objectivo descobrir leis
A existência de leis implica a existência de alguém que as fez
Logo, a ciência aceita que Deus existe.
Este argumento utiliza dois sentidos da palavra "lei". Na premissa inicial "lei" significa "relação uni­forme e constante entre dois ou mais objectos naturais" e na segunda "norma de conduta estabelecida por alguma autoridade". Do sentido científico na premissa primeira passou-se para um sentido moral ou jurí­dico na segunda. Por outro lado, não há ligação necessária entre a existência de Deus e a existência de leis, sejam elas de que tipos forem.

Anfibologia

Se a equivocação se baseava numa ambiguidade léxica (de uma palavra) a anfibologia é uma falácia que deriva da ambiguidade sintáctica de uma parte do argumento, isto é, de uma proposição. Assim, a anfibologia ocorre quando alguém procura sustentar uma conclusão utilizando uma interpretação errada de uma proposição gramaticalmente ambígua.
“Este produto tem garantia para toda a vida. É por isso que deve comprá-lo.”
Com frequência publicita-se dado produto afirmando que é garantido para toda a vida (lifetime guarantee). Procura-se convencer o comprador com base nesta ambiguidade: o consumidor é levado a julgar que o produto tem garantia enquanto ele viver — parece garantido durante toda a vida do consumidor — quando uma leitura mais atenta revela que a garantia se refere à "vida" do produto.

Composição

A falácia da composição verifica-se quando, ao argumentar, se parte da premissa de que cada um dos elementos de uma dada classe têm uma certa propriedade e se conclui necessariamente que a classe em si mesma possui tal propriedade. Argumenta-se que um todo — considerado como entidade singular — tem certas características porque cada uma das suas partes tem tais características.
Cada membro da equipa é excelente
Logo, a equipa é excelente
Podemos compreender melhor esta falácia se distinguirmos o uso distributivo do uso colectivo dos termos gerais. Um termo é usado num sentido distributivo quando designa propriedades possuídas por cada um dos membros de uma classe. É usado em sentido colectivo quando designa uma propriedade possuída por todos os membros de uma classe. Por exemplo, toda e qualquer folha de um livro é leve mas seria errado concluir que uma tonelada de folhas é leve ou que um livro é tão leve como uma folha: cada folha, em sentido distributivo, é leve mas uma tonelada de folhas não é leve. Assim é falacioso argumentar que, sendo cada membro de uma orquestra um excelente executante, necessariamente a orquestra tocará excelentemente: individualmente excelentes podem não se entender a tocar juntos ou podem não ter um maestro à altura.
Quando um atributo é transferido de cada uma das partes para o todo não se distinguindo a predicação distributiva da predicação colectiva corre-se o risco de argumentar falaciosamente.


Divisão

A falácia da divisão consiste em concluir necessariamente que cada um dos elementos de uma classe tem uma certa propriedade, partindo da premissa de que a classe tem tal propriedade. Argumenta-se transferindo ilegitimamente um atributo do todo (da classe) para as partes (para cada um dos membros da classe).
Por vezes, esta falácia é óbvia como, por exemplo, quando se diz que se uma anedota é divertida cada uma das palavras que a integram é divertida. Menos óbvia é a falácia no argumento que defende que Susana é uma das melhores basquetebolistas do mundo porque integra uma das melhores equipas do mundo.

A Falsa Dicotomia

As falsas dicotomias consistem em repartir uma classe de objectos em dois pólos que se supõe serem os únicos possíveis e incompatíveis — ignorando o facto de poder existir uma alternativa a ambos. É uma falácia que, normalmente, confunde opostos e contraditórios. É a falácia do "ou tudo ou nada".

Ou estás do nosso lado ou contra nós

Ou continuo a fumar ou engordo.
Não quero engordar.Logo não posso deixar de fumar.

Toda a pessoa esclarecida, instada a elaborar argumentos, por força do trabalho que executa ou de situações quotidianas, deve reconhecer nos próprios argumentos o uso propositado do raciocínio falacioso (intenção de ludibriar) e a imperícia de raciocínio (lógica acidentalmente comprometida). De uma forma ou de outra, compra-se ou vende-se gato por lebre. Há quem cometa falácias sem malícia, meramente como resultado do raciocínio apressado ou ingénuo. Mas é mais frequente encontrar falácias em argumentos de pessoas ou instituições que querem enganar o cidadão, querem convencê-lo a concordar com o enunciado seja votar, comprar ou decidir, manipulando a vontade do interlocutor. Assim, uma falácia não é apenas um erro; é um erro de um certo tipo, que resulta do raciocínio impróprio ou fraudulento. A falácia tem todo o aspecto de um argumento correcto e válido, embora não o seja. Esse é o seu grande perigo: parece correcto, mas não é, além do que, leva a outros erros de pensamento, como conclusões erradas.

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