quarta-feira, novembro 23, 2005

O PRIMEIRO 1º DE MAIO

A manifestação internacional do 1º de Maio é a tomada de consciência pelo proletariado da sua existência enquanto classe unida à escala mundial por uma comunidade de interesses, a afirmação do seu valor social e da sua vontade de derrubar o capitalismo e de o substituir pelo auto-governo dos produtores; a manifestação internacional do 1º de Maio é, o quarto estado que se levanta e que chega à conquista do poder.
A origem do 1º de Maio está ligada à luta pela obtenção da jornada de oito horas. Nos inícios dos anos oitenta a cidade de Chicago era o baluarte do anarquismo revolucionário nos Estados Unidos e a influência da Aliança Internacional Social Democrata de Bakunine era muito forte entre os trabalhadores nacionais e os emigrantes. Quase todos os emigrantes alemães e checos eram socialistas ou anarquistas. Havia cinco jornais anarquistas – um diário e quatro periódicos – com uma circulação total de 30.000 o que significava um número de leitores em torno de uns 250.000. A maioria dos trabalhadores revolucionários era também influenciada pela Associação dos Trabalhadores Internacionais também conhecida como Internacional Negra. O grande incitador deste movimento era Jacob Most, um anarquista alemão cujo credo era a violência indiscriminada contra o “establishment”. Na Primavera de 1885, o poderoso Sindicato Central do Trabalho (associado da Internacional Negra) declarou uma greve como parte da sua campanha para o dia de oito horas e a ela aderiram 60.000 trabalhadores. Houve uma combinação entre os industriais e a Câmara da cidade, e os grevistas foram impiedosa e selvaticamente massacrados pela polícia e por pistoleiros profissionais da agência Pinkerton. A Internacional Negra incitou os grevistas a responderem à violência com violência ainda maior, e aconselhava aos trabalhadores para se armarem pois só assim poderiam enfrentar os exploradores. Logo depois toda a imprensa socialista e anarquista incitava os trabalhadores a prepararem-se para uma revolução sangrenta.
Existia assim esse estado de tensão quando, na Primavera de 1886, a McCormick Harvester Corp. enfrentou o sindicato, a respeito da sua reivindicação para o dia de oito horas, fechando as portas das fábricas e contratando 300 agentes da Pinkerton para protegê-la. Os trabalhadores reagiram fazendo comícios do lado de fora dos portões, e no dia 3 de Maio a polícia e os homens da Pinkerton abriram fogo num dos comícios matando muitos que ali estavam. No dia seguinte houve um outro comício de protesto em Haymarket Square, e enquanto a polícia tentava dissolver os manifestantes, alguém deitou uma bomba que matou alguns polícias. A polícia perdeu a cabeça e abriu fogo indiscriminadamente chegando até mesmo a atingir os seus próprios homens juntamente com muitos manifestantes que também estavam armados e respondiam ao fogo. Morreram sete polícias e um número desconhecido de manifestantes. A repressão foi impiedosa e o resultado foi a prisão de todos os anarquistas conhecidos e o estabelecimento de um pseudo julgamento. Cinco operários foram condenados e pagaram com a vida as suas convicções, que não deixaram de afirmar até ao fim. Estes anarquistas eram Spies, Engel, Parsons e Fisher que foram enforcados no dia 11 de Novembro de 1887. O quinto Lingg suicidou-se momentos antes da execução.
Contra os acusados nada ficou provado a não ser os seus sentimentos revolucionários. O mais provável é que a bomba tivesse sido atirada por um agente provocador pago por McCormick, e um inquérito judicial posterior mostrou que todos os anarquistas acusados estavam inocentes.
Quatro anos passaram e no 1º de Maio de 1890, uma nova manifestação teve lugar com o mesmo objectivo. Quanto à internacionalização da jornada do 1º de Maio, ela é devida a uma iniciativa francesa. Foi o cidadão Raymond Lavigne, delegado do partido operário e dos sindicatos da Gironda, que a fez adoptar no Congresso Internacional de Paris em Julho de 1889. O 1º de Maio de 1890 é portanto a primeira manifestação internacional com data fixa, do proletariado organizado. No ano seguinte, a manifestação renovou-se, mas a sua periodicidade foi adoptada definitivamente pelo Congresso Socialista Internacional de Bruxelas em Agosto de 1891 e pelo de Zurique em 1893. Deste modo, marcado na origem e nacionalmente com a chancela anarquista, a jornada do 1º de Maio era finalmente “internacionalizada” pelos marxistas...

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