quarta-feira, novembro 23, 2005

DA GLOBALIZAÇÃO DA ECONOMIA À MUNDIALIZAÇÃO DOS MOVIMENTOS DE OPOSIÇÃO

O movimento anti globalização demonstrou a sua capacidade em mobilizar-se. Pela primeira vez fez recuar o FMI, inventou novas estratégias, praticou novas formas de acção, encontrou a sua comunicação. Mas também já foram mostrados os seus limites. É preciso passar agora a uma outra etapa: a da composição de alternativas ao ultra liberalismo. As possibilidades de luta não faltam, mas a resistência peca no momento na aparente falta de perspectivas.
É urgente inventar um outro mundo possível.
Imaginá-lo em conjunto é o propósito: reunir trabalhos, análises, reflexões e contributos de vária ordem contra a globalização económica, reforçar as solidariedades internacionais, alargar as formas de resistência, reflectir a um outro modo de trocas económicas...
A globalização dos mercados é uma nova ditadura globalizante
Outro mundo é possível, globalizemos as resistências e a solidariedade
As declarações dos líderes europeus, justificando as actuações policiais e anunciando a aplicação de medidas extraordinárias que regulem a mobilidade e o controlo dos grupos que actuam contra a globalização neoliberal, faz prever uma intensificação notável da repressão e a criminalização dos movimentos sociais, um aumento da actividade das brigadas de informação, uma maior violação do direito a uma informação verdadeira e à privacidade nas comunicações. Os dossiers, as detenções, as multas e os julgamentos multiplicar-se-ão. Perante isso só podemos declarar que os milhares de colectivos e organizações que actuam contra a globalização económica deverão continuar a fazê-lo e essa luta irá aumentando na medida em que aumentam os efeitos da perversão e a decomposição do sistema capitalista, convertido já no principal inimigo da humanidade. Perante esta luta, os governos terão que meditar se o caminho é restringir os direitos sociais e políticos da população, avançar para um estado policial ou pôr cobro a um sistema económico baseado na corrupção e na expoliação dos recursos e do trabalho.Devemos responsabilizar as instituições financeiras globais pelas suas responsabilidades na extensão da pobreza, no desastre ecológico, na precarização do trabalho e na exclusão social; pela sua responsabilidade no desenho e aplicação das políticas de ajustamento estrutural que atiram para o desemprego milhões de trabalhadores todos os anos, pela destruição acelerada das bases produtivas e de recursos locais, e pela sua responsabilidade na imposição de um sistema produtivo depredador e consumista, que está a destruir de forma acelerada os recursos naturais, as bases sobre as quais se sustenta a própria existência da humanidade
A proclamação de que “outro mundo é possível” e a necessidade de “globalizar as resistências e a solidariedade” não é uma mera frase feita, mas o repto fundamental do nosso tempo. Expressamos a nossa vontade de avançar na articulação das lutas e na construção de propostas, para tornar possível esse outro mundo em que acreditamos. Consideramos fundamental projectar as nossas ideias junto da população e aprofundar a construção de dinâmicas capazes de articular o tecido associativo local como base de trabalho continuado e conectado com a sociedade. Necessitamos de projectos e campanhas que nos permitam tomar a iniciativa, avançar para objectivos unitários e para uma sociedade sem capitalismo.
Tendo em conta que a vitória é feita da conquista de pequenas batalhas é importante termos presente aspectos no dia a dia que considero essenciais. Uma questão essencial num protesto público é de saber como é que nos podemos proteger de um ataque com gases químicos.
Antes de participar de uma acção, o activista deve saber que pessoas com asma, com problemas respiratórios ou infecciosos, mulheres grávidas, mulheres que pretendem engravidar, qualquer pessoa doente ou com o sistema imunológico diminuído, pessoas com infecção nos olhos utilizadores de lentes de contacto e crianças, não devem expor-se ao risco de contaminação por agentes químicos como é o caso do gás lacrimogéneo e o gás pimenta. Para essas pessoas os agentes químicos podem ser fatais.
Para se proteger do gás pimenta, o método mais efectivo e mais barato é a utilização de óculos de natação com tubo respiratório. O gás pimenta actua junto às mucosas dos olhos e da boca, causando irritação e ardor. Um simples bloqueio do gás, impedindo que ele entre em contacto com essas partes do corpo costuma ser eficiente. Use óculos de natação justos que não deixem frestas. O tubo deve ser usado de modo a cobrir a boca. Lembre-se que se o gás entrar dentro dos óculos, o efeito pode ser aumentado porque o gás ficará preso.
Para se proteger do gás lacrimogéneo, a melhor alternativa são as máscaras de gás. Ao contrário do gás de pimenta, normalmente utilizado na forma de spray, o gás lacrimogéneo é utilizado na forma de bombas que são arremessadas e depois soltam o gás. Em contacto com o sistema respiratório, o gás provoca ardor e náusea. Máscaras de gás são encontradas em lojas de materiais de construção e devem vir acompanhadas de filtro para gases orgânicos. A máscara deve ser regulada justa para que os químicos não entrem. Se a máscara for uma opção cara, uma alternativa razoável é o uso de lenços embebidos em vinagre. Use-o junto à boca e nariz e respire através dele. O vinagre não anula o efeito do gás lacrimogéneo, mas minimiza os seus efeitos. Em qualquer dos casos, não use cremes, maquiagem ou qualquer tipo de produto químico na pele. Alguns desses produtos reagem com o gás lacrimogéneo e prendem-no à pele. Lentes de contacto também absorvem os químicos.
Além disso, o activista deve usar roupas que cubram a maior parte do corpo e impeçam que o gás entre em contacto com a pele. A exposição ao gás lacrimogéneo contamina a roupa da vítima. Se alguém for exposto a grande quantidade desse gás, deve assim que possível, trocar a roupa por uma muda nova, durante as acções, deve-se sempre levar uma muda nova na mochila). Se não tiver uma muda à mão, saia da área contaminada pelo gás e caminhe por alguns minutos com os braços abertos para que o ar puro o descontamine. Lembre-se que a roupa contaminada deve ser mudada pois uma muda de roupa no quarto por exemplo, pode contaminar todo o ambiente. Uma opção para isso são os macacões brancos, que além do significado político, representam a desobediência civil não violenta protegem a roupa dos gases. Os macacões (vendidos para proteger a roupa de pintores de parede) encontram-se também em lojas de material de construção.
As crianças não devem expor-se ao risco de contaminação por agentes químicos (gás lacrimogéneo e gás pimenta). Para eles os agentes químicos podem ser fatais. Outro aspecto fundamental e muitas vezes decisivo tem a ver com o facto de polícias à paisana se infiltrarem na manifestação como agentes provocadores espancando manifestantes indefesos e surpresos. Temos que antecipar estas situações de modo organizado senão o resultado será o mesmo de imensas manifestações do passado...
É também importante reflectir sobre a seguinte problemática: Qual a postura a ter durante uma manifestação anti globalização? A violência faz invariavelmente o jogo do adversário. Para além disso, em caso de provocação, e quando a polícia é claramente responsável pelo começo das hostilidades, como frequentemente acontece, somos todos vistos à mesma luz. É evidente que os orgãos de comunicação de massas não abordam esta questão. As ideias, as razões pelas quais protestamos, as propostas permanecem completamente ocultas.
O Estado define-se pelo seu monopólio da violência legítima. Qualquer um que pense que pode competir e ganhar neste campo não foi ainda muito longe na sua análise política. Qualquer um que pense que partir montras e atacar polícias ameaça o capitalismo não possui pensamento político. Não podemos construir um movimento popular alargado baseado numa cultura juvenil e de pessoas dispostas a que lhes partam a cara. Todas as pessoas que têm medo de gás lacrimogéneo, de violência - famílias com crianças, pessoas de débil condição física - irão abster-se e não participarão numa única das nossas manifestações.
Questões de ordem prática e também teórica que temos e teremos de equacionar de modo convergente entre os vários colectivos.

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