A famosa afirmação do prêmio Nobel Robert Solow de 1987, "Vemos o computador por toda parte, menos nas estatísticas de produtividade", surgiu em função da incompreensão inicial das verdadeiras finalidades da automação: Demitir trabalhadores.
Todos os profissionais de informática com razoável experiência já se defrontaram com o “Paradoxo da Produtividade”. A questão surge quando após a aquisição de um considerável número de computadores e periféricos, desenvolvimento de software e treinamento dos usuários, os controladores financeiros da empresa acusam o departamento de informática de apenas aumentar os custos.
O paradoxo surge porque teoricamente, um sistema de administração mais ágil e confiável, deveria resultar em melhora no desempenho geral e isso necessariamente deveria se refletir nos índices de produtividade.
Mesmo em caso de sucesso absoluto da implantação do novo sistema, com redução significativa de erros e inconsistências nas informações e dos prazos para atendimento das exigências burocráticas, a alta administração não parece nem um pouco satisfeita. O que estaria acontecendo?
A resposta é simples: O projeto de informatização, por questões diplomáticas, sempre foi apresentado como tendo objetivos diferentes da realidade. Assim as metas declaradas normalmente são restritas apenas a melhorias de desempenho, quando na realidade o objetivo real é a redução de custos.
Para um analista de sistemas, se um relatório que levava uma semana para ser preparado, agora leva apenas um dia, isso é aumento de produtividade. Já para um executivo do setor de finanças, isso pode não significar nada, a menos que algum empregado possa ser demitido.
Portando o paradoxo surge devido a interpretações diferentes do que seja “produtividade”. Os profissionais das áreas técnicas têm a tendência de considerar o aumento da capacidade de produção como desejável em qualquer circunstância. Isso é uma herança da “era fordista” quando de fato os lucros eram uma função direta do aumento da escala de produção.
Mas isso não é mais verdade na “era toyotista” onde os lucros devem ser obtidos sobre escalas menores com a redução obsessiva dos custos. Na era toyotista, o objetivo da informatização não é habilitar uma equipe de empregados para produzir mais e sim reduzir ao máximo o seu número.
Portanto, um projeto de informatização não deve mais se ater apenas a ganhos em relação ao desempenho e sim se concentrar na eliminação de postos de trabalho. É por isso que agora os computadores de fato geram desemprego. É por isso também que a maioria das pessoas ainda não percebeu esse fato, e as suas graves conseqüências sociais e políticas.
Muitos ainda julgam que os computadores apenas melhoram o desempenho de setores diretamente dependentes de informações como são o caso dos bancos, serviços de contabilidade, de análise financeira e serviços públicos em geral.
Uma forma simples de conferir isso, é que o paradoxo da produtividade simplesmente desapareceu nos bancos privados, por exemplo. Neles, os computadores eliminaram milhares de empregos e os lucros nunca foram tão satisfatórios (Não estamos falando somente do Brasil onde os juros estratosféricos permitiriam lucros mesmo que os bancos usassem ábacos para fazer contas e penas de ganso para escrever).
Por outro lado o paradoxo ainda é perfeitamente visível nos serviços públicos, onde em meio á fartura de equipamentos de informática, circulam milhares de funcionários ociosos e os custos da “máquina” governamental não param de crescer.
Existe inclusive um antecedente perfeito para o paradoxo da produtividade no que se refere à automação industrial. Para captarmos bem a questão, recorreremos ao próprio autor das idéias que vieram a ser denominadas como “técnicas japonesas de gerenciamento”, “just-in-time” e outras expressões mais ao gosto dos departamentos de marketing institucional.
O engenheiro Taiichi Ohno, que em 1975 tornou-se vice-presidente executivo da Toyota Motor Company, autor das idéias que hoje conhecemos como “toyotismo”, escreveu um livro sobre o assunto. Como se trata de texto de um engenheiro, tem o enorme mérito de ser muito mais objetivo e franco, sem as ambigüidades e eufemismos, tão comuns em “literatura de negócios”.
No livro, intitulado “O Sistema Toyota de Produção – Além da Produção em Larga Escala” (Porto Alegre, Bookman, 1997), Taiichi Ohno vai direto ao assunto: “...o Japão viu as médias de renda nacional subirem acentuadamente e viu diminuir a vantagem anterior de custos de produção baseados em baixos salários. Por essa razão, os empresários apressaram-se para automatizar.” (pág. 122).
Ou seja, os empresários japoneses, ao contrário dos norte-americanos e europeus, não partiram para a automação para aumentar dramaticamente a produção e sim para reduzir seus custos crescentes de mão-de-obra. Com a atividade sindical, a “vantagem competitiva” dos salários de fome do imediato pós-guerra, estava desaparecendo.
Mas é claro que a simples automação não funcionou de imediato. “Muitos acham que a redução de custos pode ser alcançada pela aquisição de robôs ou máquinas de alto desempenho. Os resultados mostram porem que, os custos não foram absolutamente reduzidos.” (pág. 122/123).
E por que os custos não foram reduzidos? É simples. Os japoneses compraram máquinas e contrataram técnicos do ocidente, onde ainda imperava o “fordismo”. A automação era vista como forma de equipar os operários para aumentar a produção e não para elimina-los.
Além disso, no ocidente, a ideologia por trás da produção capitalista ainda era dirigida ao “pleno emprego” e se falava muito na “responsabilidade social” do capital. Portanto, tecnologia para gerar desemprego ainda estava fora de questão.
Isso é muito semelhante ao ambiente político e aos objetivos iniciais da implantação de computadores nas empresas em geral. Mas os japoneses tinham outros objetivos e suas idéias logo se refletiriam no ocidente á partir da “revolução liberal” liderada por Margaret Thatcher e Ronald Reagan.
Para Taiichi Ohno existe uma clara diferença entre poupar mão-de-obra e poupar operários. No primeiro caso, a empresa está apenas melhorando as condições de trabalho do próprio operário, ao invés de manda-lo embora, que é o objetivo real.
Em suas palavras: “Se a automação está funcionando bem, ótimo. Mas, se ela é utilizada simplesmente para permitir que alguém fique mais à vontade, então ela é muito cara.” (pág. 82). Afinal, “nos negócios nós estamos sempre preocupados em produzir mais com menos trabalhadores”. “Na verdade, sempre digo que a produção pode ser feita com a metade dos operários.” (pág. 124).
Essa portanto, é a questão fundamental. Numa economia competitiva a nível global, é muito difícil obter lucros com grandes escalas de produção. Nesse caso, o clássico raciocínio de que um operário mais uma máquina produzira mais, deve ser substituído pela idéia de que uma máquina sem um operário custara menos.
Isso não é somente semântica. O sucesso da Toyota em manter-se lucrativa em meio à crise do petróleo dos anos 70 e seu desempenho posterior está baseado em sua capacidade de produzir em pequena quantidade a custos muito reduzidos.
Seu segredo, além do just-in-time (conceito também aplicável à mão-de-obra), foi a correta utilização da automação para a eliminação de postos de trabalho ao invés de uma busca por aumento de produção. Muito significativa sobre isso é o título de um dos capítulos do livro de Ohno: “0,1 operário ainda é um operário”.
Ora, quando vemos uma secretária utilizando um computador de última geração apenas como editor de textos, é disso que se trata. O computador estará apenas contribuindo para que a funcionária “fique mais à vontade” e a mão-de-obra eventualmente poupada será a dela, e isso não significará redução de custos para a empresa.
Taiichi Ohno se viu as voltas com o mesmo problema. Daí porque desenvolveu o conceito de “autonomação” como alternativa a simples automação. O termo é ironicamente traduzido como “automação com um toque humano”, mas Ohno o define claramente: “Autonomação significa a transferência de inteligência humana para a máquina.” (pág. 129).
Em outras palavras se uma máquina é incrivelmente produtiva mas não dispensa operários, não é “autônoma”, e portanto sua introdução na linha de montagem é inútil do ponto de vista da redução de custos.
O mesmo se aplica aos computadores. Sem uma rede deles fornece informações on-line para uma instituição bancária de modo a triplicar o número de clientes possíveis de serem atendidos por hora, isso não significa que o número de clientes também irá triplicar. Pode significar apenas menos serviço para cada funcionário.
A crença em que o número de clientes irá triplicar, é típica do “fordismo”. Para o “toyomtismo”, o número de clientes provavelmente será o mesmo ou até menor. Portanto os computadores só irão “aparecer” nas estatísticas de produtividade caso reduzam em dois terços o número de funcionários do banco.
Esse raciocínio, por parte dos empresários é perfeitamente legítimo em caso de crise econômica séria, como a crise do petróleo por exemplo. Mas e se ele se estende para os períodos de crescimento econômico?
O resultado é o já conhecido fenômeno da “jobless recovery” ou “recuperação sem empregos”. É quando o crescimento da economia não parece se refletir no crescimento dos empregos. Baseando-se em séries históricas longas, a previsão do número de vagas é sempre muito maior do que a realidade. Diz-se então que a recuperação do mercado de trabalho foi “decepcionante”.
Sem entender a mudança de uma economia “fordista” para uma “toyotista”, os economistas e políticos se sentem diante de um novo paradoxo. A economia cresce, a produção é maior os fluxos financeiros crescem, mas aí são os empregos que não aparecem nas estatísticas...
http://lauromonteclaro.sites.uol.com.br/
Todos os profissionais de informática com razoável experiência já se defrontaram com o “Paradoxo da Produtividade”. A questão surge quando após a aquisição de um considerável número de computadores e periféricos, desenvolvimento de software e treinamento dos usuários, os controladores financeiros da empresa acusam o departamento de informática de apenas aumentar os custos.
O paradoxo surge porque teoricamente, um sistema de administração mais ágil e confiável, deveria resultar em melhora no desempenho geral e isso necessariamente deveria se refletir nos índices de produtividade.
Mesmo em caso de sucesso absoluto da implantação do novo sistema, com redução significativa de erros e inconsistências nas informações e dos prazos para atendimento das exigências burocráticas, a alta administração não parece nem um pouco satisfeita. O que estaria acontecendo?
A resposta é simples: O projeto de informatização, por questões diplomáticas, sempre foi apresentado como tendo objetivos diferentes da realidade. Assim as metas declaradas normalmente são restritas apenas a melhorias de desempenho, quando na realidade o objetivo real é a redução de custos.
Para um analista de sistemas, se um relatório que levava uma semana para ser preparado, agora leva apenas um dia, isso é aumento de produtividade. Já para um executivo do setor de finanças, isso pode não significar nada, a menos que algum empregado possa ser demitido.
Portando o paradoxo surge devido a interpretações diferentes do que seja “produtividade”. Os profissionais das áreas técnicas têm a tendência de considerar o aumento da capacidade de produção como desejável em qualquer circunstância. Isso é uma herança da “era fordista” quando de fato os lucros eram uma função direta do aumento da escala de produção.
Mas isso não é mais verdade na “era toyotista” onde os lucros devem ser obtidos sobre escalas menores com a redução obsessiva dos custos. Na era toyotista, o objetivo da informatização não é habilitar uma equipe de empregados para produzir mais e sim reduzir ao máximo o seu número.
Portanto, um projeto de informatização não deve mais se ater apenas a ganhos em relação ao desempenho e sim se concentrar na eliminação de postos de trabalho. É por isso que agora os computadores de fato geram desemprego. É por isso também que a maioria das pessoas ainda não percebeu esse fato, e as suas graves conseqüências sociais e políticas.
Muitos ainda julgam que os computadores apenas melhoram o desempenho de setores diretamente dependentes de informações como são o caso dos bancos, serviços de contabilidade, de análise financeira e serviços públicos em geral.
Uma forma simples de conferir isso, é que o paradoxo da produtividade simplesmente desapareceu nos bancos privados, por exemplo. Neles, os computadores eliminaram milhares de empregos e os lucros nunca foram tão satisfatórios (Não estamos falando somente do Brasil onde os juros estratosféricos permitiriam lucros mesmo que os bancos usassem ábacos para fazer contas e penas de ganso para escrever).
Por outro lado o paradoxo ainda é perfeitamente visível nos serviços públicos, onde em meio á fartura de equipamentos de informática, circulam milhares de funcionários ociosos e os custos da “máquina” governamental não param de crescer.
Existe inclusive um antecedente perfeito para o paradoxo da produtividade no que se refere à automação industrial. Para captarmos bem a questão, recorreremos ao próprio autor das idéias que vieram a ser denominadas como “técnicas japonesas de gerenciamento”, “just-in-time” e outras expressões mais ao gosto dos departamentos de marketing institucional.
O engenheiro Taiichi Ohno, que em 1975 tornou-se vice-presidente executivo da Toyota Motor Company, autor das idéias que hoje conhecemos como “toyotismo”, escreveu um livro sobre o assunto. Como se trata de texto de um engenheiro, tem o enorme mérito de ser muito mais objetivo e franco, sem as ambigüidades e eufemismos, tão comuns em “literatura de negócios”.
No livro, intitulado “O Sistema Toyota de Produção – Além da Produção em Larga Escala” (Porto Alegre, Bookman, 1997), Taiichi Ohno vai direto ao assunto: “...o Japão viu as médias de renda nacional subirem acentuadamente e viu diminuir a vantagem anterior de custos de produção baseados em baixos salários. Por essa razão, os empresários apressaram-se para automatizar.” (pág. 122).
Ou seja, os empresários japoneses, ao contrário dos norte-americanos e europeus, não partiram para a automação para aumentar dramaticamente a produção e sim para reduzir seus custos crescentes de mão-de-obra. Com a atividade sindical, a “vantagem competitiva” dos salários de fome do imediato pós-guerra, estava desaparecendo.
Mas é claro que a simples automação não funcionou de imediato. “Muitos acham que a redução de custos pode ser alcançada pela aquisição de robôs ou máquinas de alto desempenho. Os resultados mostram porem que, os custos não foram absolutamente reduzidos.” (pág. 122/123).
E por que os custos não foram reduzidos? É simples. Os japoneses compraram máquinas e contrataram técnicos do ocidente, onde ainda imperava o “fordismo”. A automação era vista como forma de equipar os operários para aumentar a produção e não para elimina-los.
Além disso, no ocidente, a ideologia por trás da produção capitalista ainda era dirigida ao “pleno emprego” e se falava muito na “responsabilidade social” do capital. Portanto, tecnologia para gerar desemprego ainda estava fora de questão.
Isso é muito semelhante ao ambiente político e aos objetivos iniciais da implantação de computadores nas empresas em geral. Mas os japoneses tinham outros objetivos e suas idéias logo se refletiriam no ocidente á partir da “revolução liberal” liderada por Margaret Thatcher e Ronald Reagan.
Para Taiichi Ohno existe uma clara diferença entre poupar mão-de-obra e poupar operários. No primeiro caso, a empresa está apenas melhorando as condições de trabalho do próprio operário, ao invés de manda-lo embora, que é o objetivo real.
Em suas palavras: “Se a automação está funcionando bem, ótimo. Mas, se ela é utilizada simplesmente para permitir que alguém fique mais à vontade, então ela é muito cara.” (pág. 82). Afinal, “nos negócios nós estamos sempre preocupados em produzir mais com menos trabalhadores”. “Na verdade, sempre digo que a produção pode ser feita com a metade dos operários.” (pág. 124).
Essa portanto, é a questão fundamental. Numa economia competitiva a nível global, é muito difícil obter lucros com grandes escalas de produção. Nesse caso, o clássico raciocínio de que um operário mais uma máquina produzira mais, deve ser substituído pela idéia de que uma máquina sem um operário custara menos.
Isso não é somente semântica. O sucesso da Toyota em manter-se lucrativa em meio à crise do petróleo dos anos 70 e seu desempenho posterior está baseado em sua capacidade de produzir em pequena quantidade a custos muito reduzidos.
Seu segredo, além do just-in-time (conceito também aplicável à mão-de-obra), foi a correta utilização da automação para a eliminação de postos de trabalho ao invés de uma busca por aumento de produção. Muito significativa sobre isso é o título de um dos capítulos do livro de Ohno: “0,1 operário ainda é um operário”.
Ora, quando vemos uma secretária utilizando um computador de última geração apenas como editor de textos, é disso que se trata. O computador estará apenas contribuindo para que a funcionária “fique mais à vontade” e a mão-de-obra eventualmente poupada será a dela, e isso não significará redução de custos para a empresa.
Taiichi Ohno se viu as voltas com o mesmo problema. Daí porque desenvolveu o conceito de “autonomação” como alternativa a simples automação. O termo é ironicamente traduzido como “automação com um toque humano”, mas Ohno o define claramente: “Autonomação significa a transferência de inteligência humana para a máquina.” (pág. 129).
Em outras palavras se uma máquina é incrivelmente produtiva mas não dispensa operários, não é “autônoma”, e portanto sua introdução na linha de montagem é inútil do ponto de vista da redução de custos.
O mesmo se aplica aos computadores. Sem uma rede deles fornece informações on-line para uma instituição bancária de modo a triplicar o número de clientes possíveis de serem atendidos por hora, isso não significa que o número de clientes também irá triplicar. Pode significar apenas menos serviço para cada funcionário.
A crença em que o número de clientes irá triplicar, é típica do “fordismo”. Para o “toyomtismo”, o número de clientes provavelmente será o mesmo ou até menor. Portanto os computadores só irão “aparecer” nas estatísticas de produtividade caso reduzam em dois terços o número de funcionários do banco.
Esse raciocínio, por parte dos empresários é perfeitamente legítimo em caso de crise econômica séria, como a crise do petróleo por exemplo. Mas e se ele se estende para os períodos de crescimento econômico?
O resultado é o já conhecido fenômeno da “jobless recovery” ou “recuperação sem empregos”. É quando o crescimento da economia não parece se refletir no crescimento dos empregos. Baseando-se em séries históricas longas, a previsão do número de vagas é sempre muito maior do que a realidade. Diz-se então que a recuperação do mercado de trabalho foi “decepcionante”.
Sem entender a mudança de uma economia “fordista” para uma “toyotista”, os economistas e políticos se sentem diante de um novo paradoxo. A economia cresce, a produção é maior os fluxos financeiros crescem, mas aí são os empregos que não aparecem nas estatísticas...
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