sexta-feira, maio 26, 2006

Democracia libertária versus democracia representativa

Democracia libertária opõe-se à democracia representativa.
A democracia libertária reconduz-se essencialmente à democracia directa que tem as seguintes características:
1) A Assembleia geral soberana que reúne o conjunto dos membros de um determinado colectivo a fim de decidir sobre tudo o que diga respeito à vida desse colectivo, ouvindo os vários pontos de vista em presença e decidindo por consenso ( não confundir com unanimidade)
2) A revogabilidade dos mandatos a qualquer momento
3) O mandato imperativo vincula o delegado a tomar só aquelas decisões para o qual foi especificamente mandato pelo colectivo
4)
Por ter estas características a democracia libertária traduz-se por ser mais demorada, se bem que os últimos avanços tecnológicos possam resolver algumas dificuldades para a sua operacionalidade. Para um bom funcionamento da democracia libertária exige-se normalmente que estejam reunidas um certo número de condições: igualdade, afinidade, confiança mútua, sentido prático, etc "Quando cada um combater pela sua própria causa, ninguém terá necessidade de ser representado" O anarquismo rejeita a figura do «representante» não só no plano da representação política mas em toda e qualquer outra forma de representação uma vez que esta é encarada como uma «força» exterior e manipuladora, distinta das forças reais que é suposto representar e de que tende a apropriar-se logo que possa. A figura do «representante» pode ser exemplificada com o Deputado, a Burocracia sindical, o Partido, o Estado, a Igreja ou até a própria comunidade científica. Opondo a democracia directa à democracia representativa o anarquismo exprime uma critica radical à representação mas também dá a ver intuitivamente qual é a natureza e sentido do seu projecto revolucionário.
Pergunta de alguém anónimo:

Tenho lido com interesse muitos dos comentários aqui publicados, e apesar de ser anarquista (sou comunista confesso) há certos aspectos no anarquismo que atraem-me bastante especialmente no aspecto economico. Infelizmente nunca encontrei pensadores anarquistas com a profundidade intelectual por exemplo de Marx ou Engels, capazes de uma analise séria e critica da realidade social e de apreender a luta de classes e as contradiçoes apresentadas pelo capitalismo (e atenção que não me estou a referir a proudhon, bakunine e outros que tais pois esse nunca conseguiram). Gostaria portanto de saber se realmente existiram ou existem pensadores de grande calibre entre as vossas fileiras capazes de analisar um problema economico de forma coerente e perspicaz e de propor soluções alternativas ao sistema dominante. Creio que vos deixo aqui uma questão pertinente. Abraços


Resposta de Francisco Trindade:

A questão é pertinente...a maneira como a colocas é que de pertinente não tem nada. A maneira como colocas a questão toma o nome de falácia. Repara: perguntas se houveram anarquistas "capazes de uma analise séria e critica da realidade social e de apreender a luta de classes e as contradiçoes apresentadas pelo capitalismo" para logo de seguida responderes que "atenção que não me estou a referir a proundhon, bakunine e outros que tais pois esse nunca conseguiram" Chama-se a atenção para a expressão " e outros que tais" ou seja, "outros esquerdistas, outros anarquistas, gajos do mesmo tipo" Depois rematas dizendo que "Gostaria portanto de saber se realmente existiram ou existem pensadores de grande calibre entre as vossas fileiras capazes de analisar um problema economico de forma coerente e perspicaz e de propor soluções alternativas ao sistema dominante". Subentende-se, "do tipo de Marx e Engels" ou seja "comunistas de pendor marxista"... Chamo a esta falácia "pescadinha de rabo na boca" Por isso a questão muito "pertinente" que colocas já está respondida.

Diálogo retirado do Indymedia

Francisco Trindade:

Estes últimos comentários que estão do meu ponto de vista a elevar o debate (ainda bem, não desejo outra coisa)levam-me a tecer algumas considerações que à dois dias pensava serem desnecessárias... Mas como o Milé Sardera diz: "Pode sempre voltar-se a discutir. A verdade final não existe."
atraso de vida:
"Dizer que alguem é cobarde por fazer uma pichagem..?! Será que é o termo mais adequado? Ou para ti (francisco trindade) o termo cobarde não é agressivo? para mim é agressivo e depreciativo..." A questão do cobarde que utilizei no meu primeiro comentário não se aplicava às pessoas mas sim ao acto em si. Será que houve outras pessoas que interpretaram as minhas palavras da mesma maneira? Pela releitura de vários comentários anteriores parece que sim...
Vanglohria:
"vai haver alguém no futuro a interessar-se por reconhecer a imortalidade a um autor de livros a dizer o que o Proudhon disse." Este sim é uma questão muito interessante, mas este espaço não é muito prático para a análise duma questão com várias vertentes. Mas contudo importante. Não há imortalidade do autor. O que há é a obra. E isso é que conta. De qualquer das maneiras não falaria de imortalidade, porque é metafísica!
Francisco Trindade:

"autor de livros a dizer o que o Proudhon disse."
E esta, então, é uma questão decisiva e é também para mim decisiva. Mesmo assim do meu ponto de vista um "autor de livros a dizer o que o Proudhon disse." será sempre importante porque: 1 - Proudhon é, na minha perspectiva o pensador anarquista mais importante de todos eles, em vários sentidos - mas aqui foco só este - no sentido que todos os anarquistas lhe são devedores. O testemunho histórico mais célebre e que tive ocasião de mencionar num ensaio é o de Kropotkine no Processo de Lyon. Quando compareceu perante o juiz que lhe perguntou: "Então você é que é considerado o fundador da anarquia?" Resposta de Kropotkine em pleno tribunal: "É muita honra que me querem fazer. O pai da anarquia é o imortal Proudhon, que a expôs pela primeira vez em 1848.”2 - Em língua portuguesa as reflexões sobre os grandes temas proudhonianos que são os grandes temas do anarquismo serem praticamente inexistentes. Era importante para o florescimento ou para sermos mais precisos o reflorescimento do movimento que esse trabalho fosse feito.Se eu sou "simplesmente" um "autor de livros a dizer o que o Proudhon disse" sem reflexão própria, sem âmago interior, aquilo que em literatura se chama de estilo, ou seja sem estilo, para responder cabalmente a esta pergunta (obrigado Vanglohria por a teres feito) é preciso:
1 - ler a obra de Proudhon
2 - ler a obra de Francisco Trindade
3 - tirar conclusões.
Alguém quer ter o prazer de realizar essa obra?


Nenhum testemunho é suficiente para demonstrar um milagre, a não ser que o testemunho seja de natureza tal que a sua falsidade seja mais milagrosa do que o facto que tenta demonstrar. David Hume, «Dos Milagres» (1748)




[Usarei] esta ideia de Hume no que diz respeito a um dos milagres melhor atestados de todos os tempos, um milagre que se afirma ter sido presenciado por 70 000 pessoas e recordado por algumas delas ainda vivas. Trata-se da aparição de Nossa Senhora de Fátima. Vou citar um website católico que refere que, das muitas aparições da Virgem Maria, esta é rara porque é oficialmente reconhecida pelo Vaticano:
A 13 de Outubro de 1917 estavam mais de 70 000 pessoas reunidas na Cova da Iria, em Fátima, Portugal. Tinham vindo presenciar um milagre que tinha sido anunciado pela Virgem Maria a três jovens visionários: Lúcia dos Santos e os seus dois primos, Jacinta e Francisco Marto […] Pouco depois do meio-dia, a Nossa Senhora apareceu aos três visionários. Quando estava prestes a partir, apontou para o Sol. Lúcia repetiu o gesto, emocionada, e as pessoas olharam para o céu […] Depois, uma onda de terror varreu a multidão porque o Sol parecia romper-se dos céus e esmagar as pessoas horrorizadas […] Justamente quando parecia que a bola de fogo iria cair e destruí-los, o milagre parou e o Sol reassumiu o seu lugar normal, brilhando pacífico como nunca.
Se o milagre do Sol em movimento tivesse sido observado apenas por Lúcia (a jovem que no fundo foi responsável pelo culto de Fátima), não haveria muita gente que o levasse a sério. Poderia facilmente ser uma alucinação individual ou uma mentira com motivos óbvios. O que impressiona são as 70 000 testemunhas. Será que 70 000 pessoas podem ser simultaneamente vítimas da mesma alucinação? Ou conspirar numa mesma mentira? Ou, se nunca houve 70 000 testemunhas, poderia o repórter do acontecimento safar-se ao inventar tanta gente?
Apliquemos o critério de Hume. Por um lado, é-nos pedido que acreditemos numa alucinação em massa, num artifício de luz ou numa mentira colectiva envolvendo 70 000 pessoas. Isto é reconhecidamente improvável, mas é menos improvável do que a alternativa: que o Sol realmente se moveu. O Sol que estava sobre Fátima não era, afinal, um Sol privado: era o mesmo Sol que aquecia todos os outros milhões de pessoas no lado do planeta em que era dia.
Se o Sol se moveu de facto, mas o acontecimento só foi visto pelas pessoas de Fátima, então teria de se ter dado um milagre ainda mais notável: teria de ter sido encenada uma ilusão de não-movimento relativamente a todos os milhões de testemunhas que não estavam em Fátima. E isso se ignorarmos o facto de que, se o Sol se tivesse realmente deslocado à velocidade referida, o sistema solar se teria desintegrado. Não temos alternativa senão a de seguir Hume, escolher a menos miraculosa das alternativas disponíveis e concluir, contrariamente à doutrina oficial do Vaticano, que o milagre de Fátima nunca aconteceu.
Richard DawkinsTrad. de Paulo Cartaxana.Excerto retirado de Decompondo o Arco-Íris (Gradiva, Lisboa, 2000, pp. 161-163).

PERNAS ATADAS

(fragmento)
Errico Malatesta

Como todos os animais, o homem adapta-se, habitua-se às condições nas quais vive, e transmite por hereditariedade os hábitos adquiridos. Nascido e vivendo na escravidão, herdeiro de uma longa linhagem de escravos, o homem, quando começou a pensar, acreditou que a escravidão fosse uma condição essencial de vida: a liberdade pareceu-lhe impossível. É assim que o trabalhador coagido há séculos a esperar trabalho, isto é, o pão, do belprazer de um amo, habituado a ver sua vida continuamente à mercê daquele que possui terra e capital, acabou por crer que é o patrão que lhe dá de comer; ingênuo, ele se diz: o que faria para viver se os amos não existissem?
Tal seria a situação de um homem que tivesse suas pernas atadas desde o nascimento, mas de modo a poder ainda assim caminhar um pouco; ele poderia atribuir a faculdade de se mover a suas ligaduras que só fazem, entretanto, diminuir e paralisar a energia muscular de suas pernas.
E, se aos efeitos naturais do hábito, eu acrescento a educação dada pelo patrão, pelo padre, pelo professor, etc., que estão todos interessados em pregar que os governos e os amos são necessários, se incluírmos o juiz e o policial que se esforçam para reduzir ao silêncio aquele que pensa de forma diferente e quer propagar seu pensamento, compreender-se-á de que maneira, no cérebro pouco culto da massa, enraizou-se o preconceito da utilidade, da necessidade do patrão e do governo.
Imaginem, pois, que ao homem de pernas atadas, do qual falamos, o médico expõe toda uma teoria e dá mil exemplos habilmente inventados para persuadí-lo de que, com suas pernas livres ele não poderia caminhar nem viver. Este homem defenderia enraivecidamente suas correntes e consideraria como inimigo aqueles que quisessem arrebentá-las.

Para a constituição de uma dinâmica própria no movimento sindical, sóvejo como viável que, quem tem (ou deseja ter) intervenção no terrenosindical forme comissões de base, no local de trabalho e nas regiões,comissões essas abertas à participação de TODOS os interessados numadinâmica:- De base: o sindicato são os próprios que se reunem, discutem edeliberam. Se houver que escolher alguém, como porta-voz, esse alguémdeve ter um mandato preciso, dado pela assembleia deliberativa.- Autónoma: não se aceitam ingerências de qualquer espécie,nomeadamente de índole partidária- De democracia directa: ao contrário dos organismos burgueses, nãohaverá hierarquias, ninguém tem maior ou menor autoridade, asdeliberações têm como objectivo encontrarem-se plataformas para aacção, o mais alargadas possível, e não a afirmação de força ou dehegemonia dumas correntes sobre outras, rivais.

Paradoxos do Nosso Tempo

O paradoxo de nosso tempo na história é que temos edifícios mais altos,mas pavios mais curtos; auto-estradas mais largas, mas pontos de vistamais estreitos; gastamos mais, mas temos menos; nós compramos mais, masdesfrutamos menos.Temos casas maiores e famílias menores; mais conveniências, mas menostempo; temos mais graus acadêmicos, mas menos senso; mais conhecimento emenos poder de julgamento; mais proficiência, porém mais problemas; maismedicina, mas menos saúde.Bebemos demais, fumamos demais, gastamos de forma perdulária, rimos demenos, dirigimos rápido demais, nos irritamos muito facilmente, ficamosacordados até tarde, acordamos cansados demais, raramente paramos paraler um livro, ficamos tempo demais diante da TV e raramente oramos.Multiplicamos nossas posses, mas reduzimos nossos valores. Falamosdemais, amamos raramente e odiamos com muita freqüência. Aprendemos comoganhar a vida, mas não vivemos essa vida. Adicionamos anos à extensão denossas vidas, mas não vida à extensão de nossos anos. Já fomos à Lua edela voltamos, mas temos dificuldade em atravessar a rua e nosencontrarmos com nosso novo vizinho.Conquistamos o espaço exterior, mas não nosso espaço interior. Fizemoscoisas maiores, mas não coisas melhores. Limpamos o ar, mas poluímos aalma. Dividimos o átomo, mas não nossos preconceitos. Escrevemos mais,mas aprendemos menos. Planejamos mais, mas realizamos menos.Aprendemos a correr contra o tempo, mas não a esperar com paciência.Temos maiores rendimentos, mas menor padrão moral. Temos mais comida,mas menos apaziguamento. Construímos mais computadores para armazenarmais informações para produzir mais cópias do que nunca, mas temos menoscomunicação. Tivemos avanços na quantidade, mas não em qualidade.Estes são tempos de refeições rápidas e digestão lenta; de homens altose caráter baixo; lucros expressivos, mas relacionamentos rasos. Estessão tempos em que se almeja paz mundial, mas perdura a guerra no lares;temos mais lazer, mas menos diversão; maior variedade de tipos decomida, mas menos nutrição. São dias de duas fontes de renda, mas demais divórcios; de residências mais belas, mas lares quebrados.São dias de viagens rápidas, fraldas descartáveis, moralidade tambémdescartável, facadas de uma só noite, corpos acima do peso, e pílulasque fazem de tudo: alegrar, aquietar, matar.É um tempo em que há muito na vitrine e nada no estoque; um tempo em quea tecnologia pode levar-lhe estas palavras e você pode escolher entrefazer alguma diferença, ou simplesmente apertar a tecla "Delete" ...

Um pensamento que não Age ou é Aborto ou é Traição. Bento Jesus Caraça

os crentes hegelianos estão em vias de desaparecer depois de alguns acidentes registados no laboratório das sínteses.

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