A nova lógica da economia global pode ser resumida em poucas palavras: Uso intensivo de alta tecnologia combinado com alto nível de desemprego e baixos salários. Essa é a verdadeira “nova economia”.
No final dos anos 1990, começou-se a falar muito em “nova economia”. Seria uma nova lógica económica que seria baseada no uso intensivo dos recursos de alta tecnologia de informática e telecomunicações que permitiria ganhos espantosos com as novas empresas “ponto.com”.
Teoricamente essa nova economia não sofreria de crises cíclicas, típicas do sistema capitalista de produção, por se achar concentrada em novos mercados ainda inexplorados e praticamente inesgotáveis. As facilidades da internet e os aperfeiçoamentos da logística, de âmbito global, abriam um verdadeiro universo de possibilidades às novas empresas que estavam sendo criadas.
Além das aparentemente ilimitadas possibilidades de ganhos com acções, por parte de quase todo mundo, prometia-se um novo mercado de trabalho. Os empregos não só não seriam eliminados pelas novas tecnologias, como na realidade seriam criados milhares de novos empregos especializados e bem remunerados, seja nas empresas que utilizassem as novas ferramentas tecnológicas, seja nas novas empresas que iriam desenvolvê-las.
Dois novos paradigmas surgiram para representar a “nova economia”: A rede Wal-Mart e o “Vale do Silício” na Califórnia. Eles eram o contraponto da velha economia, centrada nas indústrias, e obedecendo a velha lógica “fordista”. Os tempos agora eram outros. Chegava à era do “just-in-time” e do sistema “toytista” de produção.
Nas relações trabalhistas, deviam ser deixados de lado os anacrónicos sindicatos e suas idéias bitoladas de negociações colectivas, reivindicações salariais e de benefícios padronizados e partir-se para a “flexibilização” do trabalho. Afinal os novos empregos iriam exigir alta qualificação e especialização. O trabalho deixaria de ser monótono para ser muito criativo e estimulante, podendo ser realizado no conforto da própria residência do empregado.
Muitos especialistas em mercado financeiro alertaram para os perigos da “bolha especulativa”, para a “exuberância irracional”, para os exageros de optimismo e para as “fortunas virtuais” criadas pelo NASDAQ. Mas poucos se lembraram de alertar para os sinais que apontavam claramente para a deterioração do mercado de trabalho.
Dizia-se que a um “curto” período de provável surto de desemprego, se seguiria uma verdadeira revolução no mundo do trabalho. Os leigos em tecnologia digital e em sistemas informatizados eram simplesmente incapazes de perceber que as novas máquinas exigiam um número muito pequeno de técnicos, altamente especializados para criá-las, e apenas pessoas com o nível mental de uma criança de 10 anos para operá-las.
Todos ficavam admirados com a facilidade com que as crianças aprendiam a lidar com vídeo game, computadores e a internet. Ninguém notou, no entanto, que o que permitia isso eram as “interfaces amigáveis” dos novos equipamentos. Essas interfaces logo estariam nas máquinas industriais, nos veículos, nos bancos e nas grandes redes varejastes.
Em resumo, a “nova economia” representaria, na prática, um espantoso decréscimo da necessidade de mão-de-obra qualificada. Operadores de máquinas gigantescas só teriam de manipular “joisticks”, caixas de supermercado e funcionários de bancos, só teriam de seguir instruções ilustradas, com desenhos e ícones coloridos, de aparência infantil.
Depois do estouro da “bolha” das empresas “ponto.com”, muito se falou sobre a necessidade de se repensar o uso irresponsável das novas tecnologias. Mas todas as preocupações se concentraram apenas no fato óbvio de que havia um enorme desconhecimento sobre as reais consequências económicas do novo paradigma tecnológico.
Os “profetas” da “nova economia” imediatamente caíram em descrédito. Acções de empresas de alta tecnologia foram substituídas pelas das velhas e boas empresas tradicionais. Mas a crença de que os trabalhadores só poderiam esperar por melhorias, permanece misteriosamente intacta até hoje.
Livros, artigos, manuais, palestras e simpósios de gurus da “nova economia” foram discretamente arquivados e esquecidos após os fiascos do “crash” do NASDAQ. Mas os profetas da “empregabilidade” e do “novo trabalhador” continuam fazendo sucesso. Isso apesar da realidade estar estampada por toda à parte.
Jeremy Rifkin, já alertava em meados da década de 1990 que: “O desemprego global atingiu agora seu nível mais alto desde a grande depressão da década de 1930, Mais de 800 milhões de seres humanos no mundo estão desempregados ou sub empregados”. (1)
A verdadeira “nova economia”, como haviam previsto os “pessimistas” como Rifkin, agora se impõe de forma muito clara. Já vai longe o tempo dos eufemismos e dos discursos optimistas:
“Já se fala em uma ‘teoria económica a.WM (antes do Wal-Mart)’ que estaria sendo superada por outra. A ‘antiga’ teoria, ‘pregava que a prosperidade é criada quando as grandes empresas pagam bons salários e seus milhões de funcionários podem ir às compras como consumidores abastados. O Wal-Mart desdenha essa lógica”.
“Do alto de um faturamento anual de US$ 256 biliões, sua contribuição ao ciclo económico mundial consiste em três itens: pressionar os fornecedores para reduzir preços, usar tecnologia digital de primeira linha para baratear a gestão de seus estoques e, finalmente, pagar aos seus 1,6 milhões de funcionários o menor salário possível, encolhendo os custos da empresa’”. (2)
Mas é claro que nada disso é um problema para a classe trabalhadora. Isso porque existe uma nova lógica que os críticos não conseguem perceber em toda a sua excelência:
“Enquanto todos os manuais dizem que é preciso paparicar a mão-de-obra, o Wal-Mart nadou na direcção oposta. Combatem a sindicalização, paga salários 20% menores do que os concorrentes, resiste em remunerar horas extras e é espantosamente mesquinho quando se trata de planos de saúde”.
“Ao contrário do que fizeram General Motors e General Electric na construção da economia americana, o Wal-Mart não massifica a prosperidade, ele produz deflação. A teoria de Bill Wertz, diretor de Relações Internacionais da empresa, ouvido pela revista é simples: ‘Nós permitimos que as pessoas comprem mais gastando menos. Isso é como dar um aumento. Competindo, nós ajudamos a melhorar a vida dos trabalhadores’”. (3)
Em outras palavras, não importa muito que agora os trabalhadores fiquem pobres e desunidos. Eles sempre poderão comprar o essencial, e até algumas bugigangas, nas próprias lojas da rede. É por isso que o Wal-Mart “não massifica a prosperidade”. Afinal para que os trabalhadores precisam de dinheiro, não é mesmo? Mais um pouco e voltaremos ao velho empório da fábrica ou ao armazém da fazenda, onde o operário ficava endividado para sempre...
É claro que junto com todas as quinquilharias vendidas pela rede, os preços de imóveis, os planos de saúde e qualquer outra coisa que um trabalhador precise, estará caindo de preço na mesma proporção em que os seus salários. Não faz todo sentido? É nisso que todos devem acreditar. Nada como baixos salários e nenhum benefício para “melhorar a vida dos trabalhadores”.
Mas agora vamos ver o outro lado da questão, ou seja, os trabalhadores que produzem a própria tecnologia. Como estariam eles? Em recente artigo do New York Times, reproduzido na Folha de S. Paulo, o título já nos responde boa parte da pergunta: “Lucro maior não gera emprego no Vale do Silício”.
“As coisas estão melhorando na Wyse Tecnology, uma respeitada fabricante de terminais de computador. Só não estão Melhorando para os interessados em trabalhar para a empresa no Vale do Silício”. (4)
“Nos últimos três anos, os lucros das sete maiores empresas do Vale do Silício, em termos de valor de mercado, aumentaram em mais de 500% em média. Ao mesmo tempo, o número de pessoas empregadas no condado de Santa Clara caiu de 787.200 para 767.600”.(5)
Isso só parece um contra-senso para quem não é do ramo de tecnologia digital e microeletrônica. Mas é sem dúvida um golpe decisivo nos argumentos dos “optimistas”, que pregavam o deslocamento natural do emprego das áreas industriais convencionais, como o metalúrgico, têxtil, automobilístico e electrónico, para o de informática e telecomunicações.
Quem acreditava que a fabricação de computadores e periféricos, bem como a indústria de software, iria criar empregos “aos milhares”, simplesmente não conhecia nada sobre o assunto. A eliminação de milhares de empregos nas áreas bancária, de contabilidade e consultoria, fez ruir o conceito de que a “terceira revolução industrial”, na verdade, iria gerar empregos no “sector de serviços”.
O artigo esclarece: “As mudanças tecnológicas e na estratégia económica estão levantando dúvidas fundamentais sobre o futuro do vale, onde está concentrada a alta tecnologia americana. As mudanças estão sendo provocadas em parte pela automação possibilitada pelo próprio Vale do Silício, tornando possível às empresas gerar mais valor com menos pessoas”. (6)
Hora, essa é exactamente a afirmação que nós, os “pessimistas”, sempre fizemos: As novas tecnologias tendem a eliminar empregos sempre numa velocidade muitas vezes maior do que o mercado livre pode criar. O desemprego passa a ser cumulativo, e aumenta na razão directa do sucesso dos novos sistemas.
É exactamente o caso da empresa citada, que reagindo ao aumento da demanda na Ásia e Europa, “esta montando novas equipas de desenvolvimento na Índia e na China e ampliando sua força de trabalho mundial de 260 para 380. Seus lucros são registrados no Vale do Silício, mas quase nenhuma das novas vagas de trabalho surgiu ali”. (7)
Em outras palavras, mesmo as empresas de alta tecnologia, quando geram algum emprego (380 empregados em seu quadro “mundial”), utilizam essa mesma tecnologia para “exportar” as vagas para países onde podem pagar salários miseráveis.
Além disso, nas próprias empresas de alta tecnologia, o “aumento de produtividade”, sempre traduzido em dispensa de funcionários, vem aumentando. “A grande fabricante de equipamentos para internet Cisco hoje tem vendas anuais de US$ 680 mil por funcionário, contra US$ 480 mil em 2001”. (7)
Isso significa que a Cisco teria de ter um aumento no volume de vendas de mais de 40%, em apenas quatro anos, apenas para manter o mesmo número de empregados. Devemos notar que a média de valor adicionado por funcionário nos Estados Unidos é de US$ 85 mil. O que reforça a tese de que a tendência à eliminação de mão-de-obra é directamente proporcional ao nível tecnológico da produção, e não existe nenhuma área imune a novos “enxugamentos”.
Em resumo, a sombria perspectiva de que as novas tecnologias eliminam empregos até mesmo entre os que a produzem, vem se tornando realidade. Mas quem sabe se na Índia e na China, a exemplo da Califórnia, os trabalhadores não tenham sempre uma loja do Wal-Mart para socorrê-los...
Notas:
(1) Rifkin, Jeremy, “O Fim dos Empregos”, São Paulo, Makron Books, 1996, Pág. XVII.
(2) Revista “Isto é” Dinheiro, 28-4-04, Citada em: “a.WM e d.WM“ – Disponível em: http://www.unisinos.br/ihu/index.php?coming_from=noticias&dest=20040428590956 - Acesso em: 17/07/2005.
(3) Idem.
(4) Markoff, John e Richtel, Matt “Lucro maior não gera emprego no Vale do Silício”. – New York Times – Reproduzido pela Folha de S. Paulo – 17/07/2005 – Pág. B-10.
(5) Idem. (6) Idem. (7) Idem.
No final dos anos 1990, começou-se a falar muito em “nova economia”. Seria uma nova lógica económica que seria baseada no uso intensivo dos recursos de alta tecnologia de informática e telecomunicações que permitiria ganhos espantosos com as novas empresas “ponto.com”.
Teoricamente essa nova economia não sofreria de crises cíclicas, típicas do sistema capitalista de produção, por se achar concentrada em novos mercados ainda inexplorados e praticamente inesgotáveis. As facilidades da internet e os aperfeiçoamentos da logística, de âmbito global, abriam um verdadeiro universo de possibilidades às novas empresas que estavam sendo criadas.
Além das aparentemente ilimitadas possibilidades de ganhos com acções, por parte de quase todo mundo, prometia-se um novo mercado de trabalho. Os empregos não só não seriam eliminados pelas novas tecnologias, como na realidade seriam criados milhares de novos empregos especializados e bem remunerados, seja nas empresas que utilizassem as novas ferramentas tecnológicas, seja nas novas empresas que iriam desenvolvê-las.
Dois novos paradigmas surgiram para representar a “nova economia”: A rede Wal-Mart e o “Vale do Silício” na Califórnia. Eles eram o contraponto da velha economia, centrada nas indústrias, e obedecendo a velha lógica “fordista”. Os tempos agora eram outros. Chegava à era do “just-in-time” e do sistema “toytista” de produção.
Nas relações trabalhistas, deviam ser deixados de lado os anacrónicos sindicatos e suas idéias bitoladas de negociações colectivas, reivindicações salariais e de benefícios padronizados e partir-se para a “flexibilização” do trabalho. Afinal os novos empregos iriam exigir alta qualificação e especialização. O trabalho deixaria de ser monótono para ser muito criativo e estimulante, podendo ser realizado no conforto da própria residência do empregado.
Muitos especialistas em mercado financeiro alertaram para os perigos da “bolha especulativa”, para a “exuberância irracional”, para os exageros de optimismo e para as “fortunas virtuais” criadas pelo NASDAQ. Mas poucos se lembraram de alertar para os sinais que apontavam claramente para a deterioração do mercado de trabalho.
Dizia-se que a um “curto” período de provável surto de desemprego, se seguiria uma verdadeira revolução no mundo do trabalho. Os leigos em tecnologia digital e em sistemas informatizados eram simplesmente incapazes de perceber que as novas máquinas exigiam um número muito pequeno de técnicos, altamente especializados para criá-las, e apenas pessoas com o nível mental de uma criança de 10 anos para operá-las.
Todos ficavam admirados com a facilidade com que as crianças aprendiam a lidar com vídeo game, computadores e a internet. Ninguém notou, no entanto, que o que permitia isso eram as “interfaces amigáveis” dos novos equipamentos. Essas interfaces logo estariam nas máquinas industriais, nos veículos, nos bancos e nas grandes redes varejastes.
Em resumo, a “nova economia” representaria, na prática, um espantoso decréscimo da necessidade de mão-de-obra qualificada. Operadores de máquinas gigantescas só teriam de manipular “joisticks”, caixas de supermercado e funcionários de bancos, só teriam de seguir instruções ilustradas, com desenhos e ícones coloridos, de aparência infantil.
Depois do estouro da “bolha” das empresas “ponto.com”, muito se falou sobre a necessidade de se repensar o uso irresponsável das novas tecnologias. Mas todas as preocupações se concentraram apenas no fato óbvio de que havia um enorme desconhecimento sobre as reais consequências económicas do novo paradigma tecnológico.
Os “profetas” da “nova economia” imediatamente caíram em descrédito. Acções de empresas de alta tecnologia foram substituídas pelas das velhas e boas empresas tradicionais. Mas a crença de que os trabalhadores só poderiam esperar por melhorias, permanece misteriosamente intacta até hoje.
Livros, artigos, manuais, palestras e simpósios de gurus da “nova economia” foram discretamente arquivados e esquecidos após os fiascos do “crash” do NASDAQ. Mas os profetas da “empregabilidade” e do “novo trabalhador” continuam fazendo sucesso. Isso apesar da realidade estar estampada por toda à parte.
Jeremy Rifkin, já alertava em meados da década de 1990 que: “O desemprego global atingiu agora seu nível mais alto desde a grande depressão da década de 1930, Mais de 800 milhões de seres humanos no mundo estão desempregados ou sub empregados”. (1)
A verdadeira “nova economia”, como haviam previsto os “pessimistas” como Rifkin, agora se impõe de forma muito clara. Já vai longe o tempo dos eufemismos e dos discursos optimistas:
“Já se fala em uma ‘teoria económica a.WM (antes do Wal-Mart)’ que estaria sendo superada por outra. A ‘antiga’ teoria, ‘pregava que a prosperidade é criada quando as grandes empresas pagam bons salários e seus milhões de funcionários podem ir às compras como consumidores abastados. O Wal-Mart desdenha essa lógica”.
“Do alto de um faturamento anual de US$ 256 biliões, sua contribuição ao ciclo económico mundial consiste em três itens: pressionar os fornecedores para reduzir preços, usar tecnologia digital de primeira linha para baratear a gestão de seus estoques e, finalmente, pagar aos seus 1,6 milhões de funcionários o menor salário possível, encolhendo os custos da empresa’”. (2)
Mas é claro que nada disso é um problema para a classe trabalhadora. Isso porque existe uma nova lógica que os críticos não conseguem perceber em toda a sua excelência:
“Enquanto todos os manuais dizem que é preciso paparicar a mão-de-obra, o Wal-Mart nadou na direcção oposta. Combatem a sindicalização, paga salários 20% menores do que os concorrentes, resiste em remunerar horas extras e é espantosamente mesquinho quando se trata de planos de saúde”.
“Ao contrário do que fizeram General Motors e General Electric na construção da economia americana, o Wal-Mart não massifica a prosperidade, ele produz deflação. A teoria de Bill Wertz, diretor de Relações Internacionais da empresa, ouvido pela revista é simples: ‘Nós permitimos que as pessoas comprem mais gastando menos. Isso é como dar um aumento. Competindo, nós ajudamos a melhorar a vida dos trabalhadores’”. (3)
Em outras palavras, não importa muito que agora os trabalhadores fiquem pobres e desunidos. Eles sempre poderão comprar o essencial, e até algumas bugigangas, nas próprias lojas da rede. É por isso que o Wal-Mart “não massifica a prosperidade”. Afinal para que os trabalhadores precisam de dinheiro, não é mesmo? Mais um pouco e voltaremos ao velho empório da fábrica ou ao armazém da fazenda, onde o operário ficava endividado para sempre...
É claro que junto com todas as quinquilharias vendidas pela rede, os preços de imóveis, os planos de saúde e qualquer outra coisa que um trabalhador precise, estará caindo de preço na mesma proporção em que os seus salários. Não faz todo sentido? É nisso que todos devem acreditar. Nada como baixos salários e nenhum benefício para “melhorar a vida dos trabalhadores”.
Mas agora vamos ver o outro lado da questão, ou seja, os trabalhadores que produzem a própria tecnologia. Como estariam eles? Em recente artigo do New York Times, reproduzido na Folha de S. Paulo, o título já nos responde boa parte da pergunta: “Lucro maior não gera emprego no Vale do Silício”.
“As coisas estão melhorando na Wyse Tecnology, uma respeitada fabricante de terminais de computador. Só não estão Melhorando para os interessados em trabalhar para a empresa no Vale do Silício”. (4)
“Nos últimos três anos, os lucros das sete maiores empresas do Vale do Silício, em termos de valor de mercado, aumentaram em mais de 500% em média. Ao mesmo tempo, o número de pessoas empregadas no condado de Santa Clara caiu de 787.200 para 767.600”.(5)
Isso só parece um contra-senso para quem não é do ramo de tecnologia digital e microeletrônica. Mas é sem dúvida um golpe decisivo nos argumentos dos “optimistas”, que pregavam o deslocamento natural do emprego das áreas industriais convencionais, como o metalúrgico, têxtil, automobilístico e electrónico, para o de informática e telecomunicações.
Quem acreditava que a fabricação de computadores e periféricos, bem como a indústria de software, iria criar empregos “aos milhares”, simplesmente não conhecia nada sobre o assunto. A eliminação de milhares de empregos nas áreas bancária, de contabilidade e consultoria, fez ruir o conceito de que a “terceira revolução industrial”, na verdade, iria gerar empregos no “sector de serviços”.
O artigo esclarece: “As mudanças tecnológicas e na estratégia económica estão levantando dúvidas fundamentais sobre o futuro do vale, onde está concentrada a alta tecnologia americana. As mudanças estão sendo provocadas em parte pela automação possibilitada pelo próprio Vale do Silício, tornando possível às empresas gerar mais valor com menos pessoas”. (6)
Hora, essa é exactamente a afirmação que nós, os “pessimistas”, sempre fizemos: As novas tecnologias tendem a eliminar empregos sempre numa velocidade muitas vezes maior do que o mercado livre pode criar. O desemprego passa a ser cumulativo, e aumenta na razão directa do sucesso dos novos sistemas.
É exactamente o caso da empresa citada, que reagindo ao aumento da demanda na Ásia e Europa, “esta montando novas equipas de desenvolvimento na Índia e na China e ampliando sua força de trabalho mundial de 260 para 380. Seus lucros são registrados no Vale do Silício, mas quase nenhuma das novas vagas de trabalho surgiu ali”. (7)
Em outras palavras, mesmo as empresas de alta tecnologia, quando geram algum emprego (380 empregados em seu quadro “mundial”), utilizam essa mesma tecnologia para “exportar” as vagas para países onde podem pagar salários miseráveis.
Além disso, nas próprias empresas de alta tecnologia, o “aumento de produtividade”, sempre traduzido em dispensa de funcionários, vem aumentando. “A grande fabricante de equipamentos para internet Cisco hoje tem vendas anuais de US$ 680 mil por funcionário, contra US$ 480 mil em 2001”. (7)
Isso significa que a Cisco teria de ter um aumento no volume de vendas de mais de 40%, em apenas quatro anos, apenas para manter o mesmo número de empregados. Devemos notar que a média de valor adicionado por funcionário nos Estados Unidos é de US$ 85 mil. O que reforça a tese de que a tendência à eliminação de mão-de-obra é directamente proporcional ao nível tecnológico da produção, e não existe nenhuma área imune a novos “enxugamentos”.
Em resumo, a sombria perspectiva de que as novas tecnologias eliminam empregos até mesmo entre os que a produzem, vem se tornando realidade. Mas quem sabe se na Índia e na China, a exemplo da Califórnia, os trabalhadores não tenham sempre uma loja do Wal-Mart para socorrê-los...
Notas:
(1) Rifkin, Jeremy, “O Fim dos Empregos”, São Paulo, Makron Books, 1996, Pág. XVII.
(2) Revista “Isto é” Dinheiro, 28-4-04, Citada em: “a.WM e d.WM“ – Disponível em: http://www.unisinos.br/ihu/index.php?coming_from=noticias&dest=20040428590956 - Acesso em: 17/07/2005.
(3) Idem.
(4) Markoff, John e Richtel, Matt “Lucro maior não gera emprego no Vale do Silício”. – New York Times – Reproduzido pela Folha de S. Paulo – 17/07/2005 – Pág. B-10.
(5) Idem. (6) Idem. (7) Idem.
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