domingo, maio 21, 2006

Os números da globalização capitalista

9 milhões de pessoas morrem de fome todos os anos, apesar de existirem recursos suficientes para alimentar mais de 12 mil milhões de indivíduos.9 milhões são igualmente o número de milionários que vivem nos Estados Unidos, país a que pertence a empresa Microsoft que no passado ano de 2004 obteve lucros no valor de 12 mil milhões de dólares.Os 200 homens mais ricos do mundo possuem tanto que 2 mil e trezentos milhões de indivíduosCada vaca da União Europeia recebe 3 euros de subsídios por dia, enquanto 46% dos africanos vivem com menos de 1 euro por dia.No ano de 2003 o branqueamento de dinheiro foi da ordem dos 500 mil milhões a 1 bilião de euros.500 mil milhões de dólares é o montante médio das despesas publicitárias dos países ricos.100.0000.000.000 é o orçamento militar anual de todos os países do mundo.


O preço do «progresso» da China é a sobre-exploração dos trabalhadores


A china regista presentemente um saldo positivo no seu comércio externo que não pára de aumentar. Este ano crescerá 50 % relativamente ao ano passado ( 2004) atingindo o valor de 48.000 milhões de dólares. Mas há dados que importa divulgar, até para servirem de reflexão para uso caseiro. Na verdade, 50% das exportações chinesas procedem de empresas com capital estrangeiro, ou seja, são empresas resultantes de investimento estrangeiro ou muito simplesmente de empresas deslocalizadas de outros países que procuram a China para se instalarem por causa da inexistência e desrespeito pelos direitos laborais que caracteriza o capitalismo chinês.Jornadas de trabalho com duração de 15 horas, semana de 7 dias de trabalho, baixo salários, obrigação de horas extra, remunerações em falta ou muito simplesmente não pagas, condições insalubres de trabalho, proibição de conversas, videovigilância, alojamento em dormitórios construídos nas instalações da própria empresa, retenção de documentos pessoais e limitação na circulação dos trabalhadores são realidades vulgares na China actual, especialmente entre os 140 milhões de emigrantes que deixaram as zonas rurais para virem trabalhar nas orlas industriais do litoral. Sem esquecer, evidentemente, a terminante proibição imposta pelo governo e Estado chinês na constituição de sindicatos independentes.Li Qiang, que está à frente da «China Labour Wath», afirma: «A China está apostada numa política de crescimento económico independentemente dos custos humanos. Tem uma abundante oferta de mão de obra, cujos salários baixos são artificialmente mantidos e, num sistema em que as vidas são tão baratas, não surpreende que os lucros sejam elevados»
(dedicado a Miguel Soromenho)


Como é que os capitalistas se mantêm no Poder...ou como é que o Poder político-económico se reproduz

Breve explicação sociológica sobre a Reprodução SocialAs sociedades estão estratificadas em classes sociais de tal modo que se pode falar em pirâmide social, uma vez que a maior parte da população encontra-se na base da pirâmide, enquanto apenas um pequeno número de pessoas fazem parte da elite económica e política que governa a sociedade.Perguntar-se-á então como é possível que esta estrutura de classes se mantenha ao longo do tempo sabendo que a maioria da população se encontra subordinada, se não mesmo submetida a um pequeno grupo de governantes.A resposta é dada pela sociologia.Com efeito, a classe dominante, que é minoritária, governa a sociedade e só se mantém graças à ideologia (= conjunto de ideias) dominante que consegue impor a todos os restantes elementos da sociedade. É essa ideologia dominante que explica e legitima o poder da elite económica e política.Por exemplo: o antigo poder dos reis só se conseguia manter e reproduzir-se ao longo de séculos uma vez que a sua ideologia era interiorizada pelas classes inferiores, que faziam suas as idéias que lhe eram transmitidas e incutidas: nesse caso a explicação que era vendida às pessoas era que o rei é o soberano por efeito de um poder natural ou sobrenatural.E as pessoas interiorizavam resignadamente essa ideologia dominante.Hoje em dia passa-se a mesma coisa, apenas se mudou a fonte de legitimidade do poder.Assim, só na medida em que a classe dominante consegue convencer as classes inferiores que só ela ( a classe dominante) pode ter poder económico e político, estará ela em condições de se manter no topo da pirâmide social.Actualmente, a fonte de legitimidade que se pretende incutir para legitimar e justificar o poder das classes dominantes é o fato destas terem capital (= é a posse de capital que legitima o poder da elite económica) ou de terem sido eleitas democraticamente (= é o número de votos que confere legitimidade aos governos, sem cuidar evidentemente se os votos são ou não resultado de uma decisão esclarecida)Esses critérios de legitimação para se ter poder económico ( = ter capital) e político (= ter votos) são perfeitamente arbitrários e aleatórios - sim, porque quem me garante que é quem tem mais dinheiro ou quem tem votos que está em melhores condições para governar????E porque não mudar o critério para quem tem mais inteligência?Ou para quem tenha mais músculos?Ou para quem saiba fazer melhores poemas?Só no dia em que as classes inferiores não aceitarem engolir resignadamente essa ideologia dominante é que a legitimidade política e económica das classes dominantes entrará em crise.Nesse dia, provavelmente, qualquer outro grupo social que queira conquistar o poder terá que, simultaneamente, impor a sua ideologia, convencendo a população da base da pirâmide social da sua legitimidade em apoderar-se do poder.
Nesse momento aparecerá uma nova ideologia dominante, para servir de base e cimento à também nova classe dominante.Há ainda , evidentemente, a hipótese libertária de cada um tomar em mãos a sua própria vida em cooperação com os seus e a natureza.


A Felicidade Interna Bruta deve substituir o Produto Interno Bruto (PIB)

A sociedade industrial impôs quase por toda a parte a noção de Produto Interno Bruto bem como o objectivo maior do crescimento económico, mas estes conceitos são vivamente criticados pelos ecologistas que defendem que tais termos pouco ou nada revelam sobre o bem estar das populações. Na verdade, a vida em sociedade não é um valor monetário e comparar os rendimentos de um índio Yanomani com os de um americano não tem qualquer sentido. Mudar o termómetro (isto é, mudar os critérios de avaliação do realidade existente) poderia sem dúvida contribui para mudar a visão do mundo de muita gente.Se é verdade que o PIB mundial (Produto Interno Bruto ou Produto Nacional Bruto) não cessou de crescer nos últimos 50 anos, o certo é que a desigualdade crescente da distribuição das riquezas e dos rendimentos entre os indivíduos assim como a super-exploração dos recursos naturais que acompanhou aquele desenvolvimento levou-nos a um impasse social e ecológico que não tardará a mostrar-se dramático.O mundo está doente, mas os «especialistas» entretêem-se a fazer diagnósticos sobre o crescimento económico! Ora parece Ter chegado a hora de mudar de termómetro, o mesmo é dizer mudar de critérios e modos de avaliar a realidade.O que é o efeito Kobe?Imaginai por um segundo um tremor de terra que faça 5.000 vítimas, 33.000 feridos, prejuízos materiais incalculáveis, uma cidade inteira em ruínas...Escolher os termos para nos referirmos a uma tal acontecimento torna-se de crucial importância: falaríamos então de uma terrível catástrofe natural, e uma enorme tragédia de dimensões e consequências humanas terríveis... Falar assim significaria, no entanto, para uma perspectiva economicista, um grande equívoco. Com efeito, a tragédia de um tal cataclismo obrigaria à reconstrução do parque habitacional, das infra-estruturas, dos milhares de Km de redes eléctricas e de saneamento, etc,etc... o que tudo somado bem poderia significar na prática que o tremor de terra acabaria por ser visto – na óptica de uma pura perspectiva económico-contabilistica - como um verdadeiro negócio de milhões: Ou seja: um inesperado estimulante para o crescimento económico!!!O Efeito Kobbe significa, justamente, que os acontecimentos mais destrutivos, de que se possa imaginar, podem, paradoxalmente, mostrarem-se como altamente positivos para o crescimento do PIB.... O PIB ou a ditadura do mais = melhorO PIB foi criado na maior parte dos países no pós-guerra de 1945 a fim de preparar o plano de reconstrução desses países atingidos pelos efeitos da II Guerra Mundial e consistia na operação de medição, sob a forma monetária, da quantidade de bens ou serviços produzidos num certo país durante determinado período de tempo.Ora o que o efeito Kobbe nos mostra é que nenhuma consideração qualitativa é feita relativamente ao carácter positivo ou negativo da produção. Quer sejamos vítimas de uma inundação ( excelente para o mercado da construção civil), quer de um acidente de carro ( óptima oportunidade para os sectores do automóvel e da saúde), ou ainda de um roubo ( um facto bom, sem dúvida, para o crescimento da indústria da segurança pessoal), em qualquer destas situações o PIB tem esta estranha característica de sempre contabilizar positivamente todas as despesas... Por outro lado, e não menos estranhamente, o PIB ignora e passa completamente ao lado dos actos humanos como a gratuitidade, o benevolato e o voluntariado, assim como os trabalhos caseiros....Ou seja: quando as praias são invadidas de derramas de petróleo como aconteceu com o Prestige na costa da Galiza, as actividades de despoluição levadas a cabo por empresas privadas são contadas positivamente para o aumento do PIB, mas já a ajuda benévola de milhares de voluntários na limpeza das praias é vista como um facto altamente negativo, uma vez que impede a realização de maiores negócios às empresas de despoluição e limpeza.Considerado por muitos economistas como o único critério para avaliar a situação económica de um país, o PIB ignora as múltiplas dimensões da economia real, escondendo as desigualdades e as assimetrias sociais entre a população, e os custos ecológicos sobre a natureza que sempre representa um investimento industrial ou algum empreendimento económico. A poluição que daí resulta, os riscos climáticos, a destruição dos ecossistemas, o desaparecimento gradual das espécies naturais, ou o esgotamente progressivos dos recursos – tudo isso é, completamente, ignorado e ocultado pelo PIB!!!Face ao fracasso do PIB em dar conta da verdadeira realidade económica, social e ambiental, certos autores são da opinião que a ditadura do PIB é ilegítima sobre todos os planos: moral, filosófico e político. São por isso a favor da elaboração de indicadores alternativos da conjuntura económica e do estado do Planeta, bem assim como do nível e qualidade de vida dos indivíduos concretos.Na Grã-Bretanha, os Amigos da Terra elaboraram o Index of Susteainable Economic Welfare (ISEW), calculando em cada ano um índice de bem-estar económico sustentável.
www.foe.co.uk/campaigns/sustainable_development/progress

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