terça-feira, maio 02, 2006

Vírus de computador e motivações políticas

Os criadores de vírus de computador teriam motivações políticas específicas? Fariam parte de grupos organizados? Os vírus não são criados pelas próprias empresas que vendem os programas para combatê-los?
Quando a informática e os microcomputadores se tornaram vitais para o funcionamento de escritórios, empresas e serviços públicos, deixaram de ser máquinas para aficionados em electrónica e outros amadores da tecnologia e passaram a integrar o quotidiano de um número muito grande de pessoas.
Mas ao contrário dos antigos computadores de grande porte, eles são vulneráveis a uma praga antes desconhecida: os vírus de computador. Os micros não ficam trancados em salas especiais e conectados a outros somente por linhas telefónicas privadas. Estão ao alcance de qualquer usuário, se comunicam por redes locais, e se conectam a Internet.
Nesse ambiente de “promiscuidade”, é muito comum que usuários de uma grande empresa, por exemplo, instalem programas que obtiveram de amigos ou “baixaram” da Internet. Os aplicativos de e-mail recebem a toda hora um número enorme de outra praga da actualidade: Os “spam” ou mensagens não solicitadas com fins normalmente comerciais.
Com a invasão dos computadores, muitas pessoas leigas passaram a ter seu trabalho ligado directamente a máquinas cujo funcionamento não compreendiam, portanto passaram a desconfiar delas e de tudo ligado a elas. Nesse ambiente, surgem os vírus. De repente, os operadores de micros paravam seu trabalho e entravam em pânico. Arquivos eram perdidos, reinava a confusão e o caos.
Os leigos, já desconfiados, passaram a ter motivos a mais para se preocupar e logo começaram a especular sobre o que acontecia. Disso nasceram várias lendas sobre o assunto. Algumas são hilárias, como a preocupação de que os tais vírus pudessem contaminar pessoas. Outros acreditavam que disquetes “com vírus” colocados no mesmo estojo com outros podiam contaminá-los.
Desfeitas essas primeiras lendas, pelo menos duas resistiram a todos as tentativas de desmistificação: A de que os vírus são criados por empresas que vendem programas antivírus e a mais perigosa de todas: A possível motivação política dos criadores das pragas.
A primeira lenda, embora difícil de negar a priori, não tem base na experiência acumulada. Nunca se obteve nenhuma prova de que uma empresa desenvolvesse deliberadamente um vírus para depois vender seu “antídoto”. Uma das razões é simples: Não precisam se dar a esse trabalho e correr esse risco.
Desenvolver vírus é uma tarefa relativamente simples para um programador experiente e com bons conhecimentos sobre sistemas operacionais. Isso não costuma ser divulgado, pois só aumentaria o pânico.
O Windows, vítima preferida dos criadores de vírus, é um sistema operacional bastante vulnerável. Isso porque seu projecto teve como prioridade máxima ás exigências comercias da Microsoft. A versão 95 ou “Chicago” foi desenvolvida por várias equipes independentes, todas sobre enorme pressão para concluir o projecto a tempo de reverter às contínuas desvalorizações das acções da empresa nas bolsas.
A partir daí, a história do Windows é uma luta diária para corrigir as falhas originais do projecto. É só ver a quantidade de actualizações de segurança “recomendáveis” no site da própria empresa.
Portanto não é difícil imaginar que milhares de programadores de humor duvidoso ou francamente mal intencionados divirtam-se explorando essas falhas.
Quanto à motivação política, a lenda surgiu a partir do primeiro vírus realmente conhecido mundialmente: O Sexta-feira treze. O vírus foi descoberto pela primeira vez em Dezembro de 1987 na Universidade Hebraica em Jerusalém.
Ao “desmontarem” o código do vírus, os profissionais dessa universidade descobriram que dentre outra coisas, o vírus apagaria todos os programas infectados que fossem utilizados em qualquer sexta-feira, dia 13. Coincidentemente ou não, a única sexta-feira 13 que ocorria em 1988 seria o dia 13 de Maio (aniversário de 40 anos do último dia em que a Palestina foi reconhecida como nação).
Muitas especulações surgiram a partir daí: Seria um protesto dos estudantes contra o fato de o governo não decretar feriado em 14 de Maio (Fundação de Israel). Seria uma associação com as superstições relativas a datas assim, tão populares lá como no ocidente. Para o público leigo não havia dúvidas: Era coisa da OLP (Organização para a Libertação da Palestina) e portanto, um protesto político e um ato “terrorista”.
De lá para os dias de hoje, milhares de vírus causaram grandes estripulias. Muitos “Hackers” foram descobertos e alguns presos. Sendo pessoas das mais variadas origens e orientações políticas, ideológicas e religiosas, não foi difícil descobrir “conexões” e “teorias conspiratórias” por trás de suas actividades.
Com a divulgação, via processos antitrustes, das manobras pouco ortodoxas da Microsoft para dominar o mercado mundial de software, a coisa esquentou. Os programadores mais especializados, que em geral são pessoas que cultivam um forte senso de independência e aversão ao “mundo dos negócios”, logo passaram a demonstrar seu repúdio.
O surgimento do Linux, um sistema operacional cujo código-fonte foi divulgado pelo seu criador, foi recebido com entusiasmo e passou a ser visto como uma espécie de opção “rebelde” ao domínio arrogante do Windows.
Isso tudo nada tem a ver com política no sentido tradicional do termo (o que alias, esse pessoal abomina), a associação com ideias do tipo “Ciberpunks”, anarquismo, etc. pertence mais ao folclore da Web do que as sinistras maquinações de Hackers com propósitos inconfessáveis. A única ideologia que une todas essas tribos bizarras é a defesa intransigente da liberdade dentro da Internet.
Mas existe um perigo que parece estar tomando forma. Ele pode não esta sendo maquinado entre figuras esquisitas do mundo Hacker. Seus autores podem não se vestir nem falar de modo excêntrico. Podem usar ternos caros e carregar pastas de couro bastante convencionais. Podem trabalham para escritórios de advocacia que defendem os interesses de empresas gigantes da indústria de informática.
Em carta enviada a 535 deputados e senadores americanos Darl McBride, presidente da SCO argumenta que os programas de código aberto, entre os quais o mais usado é o Linux, “ameaçam a segurança nacional e a competitividade dos EUA na economia globalizada”.
O vírus MyDoom, cujo alvo era precisamente a SCO, foi apontado imediatamente como uma “resposta” da comunidade Linux as provocações do Senhor McBride e o processo que a SCO move contra a IBM (o que pode destruir o Linux). Imediatamente se iniciou uma verdadeira “caça as bruxas” com ofertas de recompensa para informações que levem a prisão dos “terroristas digitais”.
Logo em seguida a Microsoft (que por coincidência usa os serviços do mesmo escritório de advocacia que defende a SCO e é a maior interessada em combater o Linux), acusou um “vazamento” de grande parte dos código-fonte do Windows. Logo se formou um grande espalhafato com investigações e agentes do FBI por toda à parte. Não é difícil imaginar o potencial explosivo que a associação, por parte do público leigo, entre vírus de computador e Hackers com grupos e actividades terroristas pode provocar. Seria possível legitimar quaisquer tentativas de controlar a Internet, erradicar softwares “rebeldes”, perseguir empresas que distribuem músicas em MP3, etc. Todo é claro em nome da “segurança nacional” e do “combate ao terrorismo”.
Conclusão: É preciso ficar atento a esses fatos, saber com certeza o que, e se há alguma coisa por traz disso. Isso sim pode ter claras finalidades políticas e motivações inconfessáveis.


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