Claro sinal do novo perfil do mercado de trabalho na Era da Informação, as profissões que mais cresceram em 2004 no Brasil são aquelas em que a automação se mostra antieconómica ou (ainda) inviável.
Uma das características mais marcantes do novo mercado de trabalho, sob o novo paradigma tecnológico, é a polarização do mercado de trabalho. Há uma minoria de profissionais com níveis elevados de especialização de um lado e profissões sem nenhum pré-requisito do outro.
As funções intermediárias, compostas por pessoal técnico e de nível médio, tendem a desaparecer. Os sistemas de administração “enxutos”, eliminam um número imenso de vagas nessas faixas intermediárias. Isso significa que para a imensa maioria da população, sobram apenas empregos de baixa qualidade.
“De acordo com o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), que é o retrato do emprego formal no país, vendedores e demonstradores são os campeões na variação positiva entre admissões e dispensas ocorridas em 2004. Juntas, essas ocupações tiveram um saldo de 160.837 postos de trabalho criados com carteira assinada”.(1)
Isso é muito fácil de entender, se levarmos em conta que um vendedor ou um demonstrador de uma loja não pode ser substituído por um robô por exemplo. O mesmo não acontece com o processo de fabricação das mercadorias que esses mesmos profissionais manuseiam. No passado, a relação entre o pessoal ocupado em fabricar mercadorias e o envolvido em sua comercialização, guardavam uma relação enormemente favorável, em termos numéricos, aos primeiros. A automação no entanto, tende a reverter essa situação.
“Os embaladores, presentes nos dois sectores [indústria e comércio], e os alimentadores de produção, exclusividade do segmento industrial, formam a segunda família de ocupações com melhor desempenho na geração de postos -122.591”.(2)
Aqui, mais uma vez notamos, que os únicos empregos que de fato crescem na indústria é o de “alimentadores” – eufemismo para pessoas cuja função se limita a escolher e entregar peças de acordo com códigos definidos pelas linhas de montagem informatizadas. Uma expressão mais adequada seria “auxiliar de robô”.
Quanto à função de embalador, dispensa comentários o nível de especialização exigido para desempenha-las.
“Em terceiro lugar, com 87.222 novas posições de trabalho, aparecem os escriturários, assessores e auxiliares administrativos e, em quarto, os trabalhadores em condomínios e edifícios, com resultado positivo de 74.014 vagas”.(3)
O cargo de “escriturário” bem como as designações genéricas de “assessores e auxiliares” na verdade se refere às pessoas ainda necessárias para a digitação de informações fornecidas verbalmente por outras pessoas, ou das cada vez mais escassas planilhas e outros documentos preenchidos a mão. Aqui também o termo mais correcto seria “auxiliar de computador”.
O nível de especialização exigido para empregos em “condomínios e edifícios” também dispensa maiores comentários.
“O saldo registrado entre todas as contratações e as demissões no ano passado foi de mais de 1,5 milhão de vagas. É o maior volume desde, pelo menos, 1995, para quando há estatísticas disponíveis”.(4)
Em outras palavras, o ano de 2004 foi um ano excepcionalmente positivo para a economia e para o mercado de trabalho. Mas exactamente por isso devemos nos perguntar: Onde estão os bons empregos?
Seria de fato necessário um grande esforço para a elevação do nível de educação e especialização dos trabalhadores para desempenhar essas tarefas? Afinal: “Demonstrar, vender e embalar são a rotina de quem ocupa os cargos que mais abriram vagas de emprego no ano passado”.(5)
Os comoventes relatos sobre os novos portadores de carteira assinada a que se refere o artigo que vimos citando, são de um vendedor de livros da rede Siciliano, de uma moça que se empregou no hotel Hyatt, na zona oeste de São Paulo, como recepcionista dos restaurantes do estabelecimento e de um embalador do hipermercado Pão de Açúcar.
A propósito, a jovem recepcionista do hotel tem graduação superior em publicidade, já havia feito estágio em uma agência de propaganda e actuado como vendedora. Depois, passou quatro meses em um hotel nos Estados Unidos, o que deixou “mais atraente o seu currículo”.Alias, como era de se esperar, os empregos das áreas de hotelaria e alimentação ocupam o sexto lugar na classificação das profissões, segundo o Caged. É difícil imaginar em futuro próximo, robôs capazes de substituir recepcionistas, camareiras, garçons e seguranças.
É curioso saber por que, em nenhum momento, ninguém se pergunta a razão do crescimento dos empregos de baixa qualificação, ao mesmo tempo em que os de melhor qualidade e remuneração permanecem estagnados.
Será tão difícil perceber que não são as vagas de embaladores, vendedores e demonstradores que cresceram mais e sim as de torneiro mecânico, electricista, encarregados de produção, cargos administrativos de nível técnico e mesmo superior, é que começam a desaparecer?
(1) “Ocupação ligada a comércio lidera em vagas” - Marcelo Billi E Bruno Lima – Folha de S. Paulo – 1/5/2005.
(2) (3) (4) e (5) Idem.
http://lauromonteclaro.sites.uol.com.br/
Uma das características mais marcantes do novo mercado de trabalho, sob o novo paradigma tecnológico, é a polarização do mercado de trabalho. Há uma minoria de profissionais com níveis elevados de especialização de um lado e profissões sem nenhum pré-requisito do outro.
As funções intermediárias, compostas por pessoal técnico e de nível médio, tendem a desaparecer. Os sistemas de administração “enxutos”, eliminam um número imenso de vagas nessas faixas intermediárias. Isso significa que para a imensa maioria da população, sobram apenas empregos de baixa qualidade.
“De acordo com o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), que é o retrato do emprego formal no país, vendedores e demonstradores são os campeões na variação positiva entre admissões e dispensas ocorridas em 2004. Juntas, essas ocupações tiveram um saldo de 160.837 postos de trabalho criados com carteira assinada”.(1)
Isso é muito fácil de entender, se levarmos em conta que um vendedor ou um demonstrador de uma loja não pode ser substituído por um robô por exemplo. O mesmo não acontece com o processo de fabricação das mercadorias que esses mesmos profissionais manuseiam. No passado, a relação entre o pessoal ocupado em fabricar mercadorias e o envolvido em sua comercialização, guardavam uma relação enormemente favorável, em termos numéricos, aos primeiros. A automação no entanto, tende a reverter essa situação.
“Os embaladores, presentes nos dois sectores [indústria e comércio], e os alimentadores de produção, exclusividade do segmento industrial, formam a segunda família de ocupações com melhor desempenho na geração de postos -122.591”.(2)
Aqui, mais uma vez notamos, que os únicos empregos que de fato crescem na indústria é o de “alimentadores” – eufemismo para pessoas cuja função se limita a escolher e entregar peças de acordo com códigos definidos pelas linhas de montagem informatizadas. Uma expressão mais adequada seria “auxiliar de robô”.
Quanto à função de embalador, dispensa comentários o nível de especialização exigido para desempenha-las.
“Em terceiro lugar, com 87.222 novas posições de trabalho, aparecem os escriturários, assessores e auxiliares administrativos e, em quarto, os trabalhadores em condomínios e edifícios, com resultado positivo de 74.014 vagas”.(3)
O cargo de “escriturário” bem como as designações genéricas de “assessores e auxiliares” na verdade se refere às pessoas ainda necessárias para a digitação de informações fornecidas verbalmente por outras pessoas, ou das cada vez mais escassas planilhas e outros documentos preenchidos a mão. Aqui também o termo mais correcto seria “auxiliar de computador”.
O nível de especialização exigido para empregos em “condomínios e edifícios” também dispensa maiores comentários.
“O saldo registrado entre todas as contratações e as demissões no ano passado foi de mais de 1,5 milhão de vagas. É o maior volume desde, pelo menos, 1995, para quando há estatísticas disponíveis”.(4)
Em outras palavras, o ano de 2004 foi um ano excepcionalmente positivo para a economia e para o mercado de trabalho. Mas exactamente por isso devemos nos perguntar: Onde estão os bons empregos?
Seria de fato necessário um grande esforço para a elevação do nível de educação e especialização dos trabalhadores para desempenhar essas tarefas? Afinal: “Demonstrar, vender e embalar são a rotina de quem ocupa os cargos que mais abriram vagas de emprego no ano passado”.(5)
Os comoventes relatos sobre os novos portadores de carteira assinada a que se refere o artigo que vimos citando, são de um vendedor de livros da rede Siciliano, de uma moça que se empregou no hotel Hyatt, na zona oeste de São Paulo, como recepcionista dos restaurantes do estabelecimento e de um embalador do hipermercado Pão de Açúcar.
A propósito, a jovem recepcionista do hotel tem graduação superior em publicidade, já havia feito estágio em uma agência de propaganda e actuado como vendedora. Depois, passou quatro meses em um hotel nos Estados Unidos, o que deixou “mais atraente o seu currículo”.Alias, como era de se esperar, os empregos das áreas de hotelaria e alimentação ocupam o sexto lugar na classificação das profissões, segundo o Caged. É difícil imaginar em futuro próximo, robôs capazes de substituir recepcionistas, camareiras, garçons e seguranças.
É curioso saber por que, em nenhum momento, ninguém se pergunta a razão do crescimento dos empregos de baixa qualificação, ao mesmo tempo em que os de melhor qualidade e remuneração permanecem estagnados.
Será tão difícil perceber que não são as vagas de embaladores, vendedores e demonstradores que cresceram mais e sim as de torneiro mecânico, electricista, encarregados de produção, cargos administrativos de nível técnico e mesmo superior, é que começam a desaparecer?
(1) “Ocupação ligada a comércio lidera em vagas” - Marcelo Billi E Bruno Lima – Folha de S. Paulo – 1/5/2005.
(2) (3) (4) e (5) Idem.
http://lauromonteclaro.sites.uol.com.br/
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