Em menos de uma semana de ofensiva, as forças armadas israelenses assassinaram no Líbano cerca de 200 civis e provocaram ferimentos em outros 500. Nos seis dias transcorridos desde o início dos bombardeamentos aéreos, terrestres e marítimos sobre cidades e aldeias libanesas, o regime de Tel Aviv destruiu boa parte da infraestrutura e devastou bairros inteiros de Beirute, Baalbek, Tiro e outros centros urbanos. Com as descargas militares de Israel contra o Líbano e contra Gaza o conflito árabe-israelense retorna aos piores momentos dos anos oitenta, mas num cenário internacional no qual não existem condições para moderar, não se diga deter, os contendores.Hoje em dia, a maior potência militar do planeta oferecer pleno respaldo ao governo do estado hebreu e este alinha-se no bando da "guerra contra o terrorismo" lançada em fins de 2001 pela Casa Branca como um enorme guarda-chuva diplomático, político e militar para remodelar o mundo de acordo com os interesses financeiros e estratégicos do empresariado próximo ao presidente George W. Bush.Com o processo de paz de Oslo liquidado pelos falcões de Tel Avi e sob a pilhagem e os ataques permanentes de Israel, as facções radicais árabes e palestinas não têm, pelo seu lado, outro caminho senão reiniciar as acções de resistência frente ao invasor. Neste sentido, é importante destacar que os "sequestros" com os quais Israel pretende justificar suas incursões criminosas em Gaza e no Líbano foram, na realidade, capturas legítimas de efectivos estrangeiros que não tinham nada que fazer em território de outros países.Em tais circunstâncias, a destruição impune do Líbano pelas forças israelenses mostra em toda a sua magnitude a hipocrisia do Ocidente: não há legalidade internacional possível nem concebível em que resulte legítimo e aceitável bombardear os civis de um país em represália pela captura de um efectivo militar. Por muito menos do que isso, e até por simples dissensões ideológicas, os Estados Unidos e a União Europeia qualificaram diversos governo de terroristas e os isolaram e os castigaram com sanções económicas. Mas, perante a evidência exasperante, fotografada, filmada e narrada, de que Tel Aviv perpetra crimes de guerra contra seus vizinhos, as potências ocidentais limitam-se a pedir-lhe "moderação". Semelhante docilidade converte-se em cumplicidade. Enquanto Washington e os governos europeus não obrigarem Israel a deter o ataque, serão cúmplices no massacre que está a ter lugar no Líbano.O mínimo que podem fazer os árabes é defender-se com os meios que tiverem ao seu alcance e apelar à solidariedade entre eles. Pouco lhe pode importar, nestas alturas, se por acaso acabarem classificados como "terroristas", porque de qualquer modo foram colocados de antemão, e sem razão, nesse rubrica. Tel Aviv sabe perfeitamente que seus ataques contra os civis do Líbano e de Gaza podem produzir muitos resultados diversos, mas que entre eles não está uma maior segurança para a população de Israel. Pelo contrário, a violência delirante lançada contra os habitantes do vizinho do norte garante uma abundante colheita de rancores que muito provavelmente exprimir-se-ão em seu momento em forma tão bárbaras como as aplicadas pelo governo de Ehud Olmert contra o país dos cedros.Outro resultado paradoxal é que nestes seis o regime israelense fez mais pela unidade dos seus vizinhos que o conseguido pela Liga Árabe em anos de trabalho. Se não for o caso com os governos, é claro que as sociedades árabes observam como um agravo em carne própria a carnificina provocada por Tel Aviv no Líbano. Tão em carne própria, certamente, como vivem o agravo da barbárie estadunidense contra os iraquianos.
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