segunda-feira, agosto 28, 2006

O Hezbollah poderá estar a fortalecer - se

O contínuo bombardeamento israelita do sul do Líbano e do sul de Beirute pode apenas ter fortalecido o Hezbollah.
Os bombardeamentos parecem ter particularmente fortalecido o poder do xeque Hassan Nasrallah, o seu carismático líder.
Ao longo dos anos, o Hezbollah conquistou apoio entre a população libanesa graças, principalmente, à prestação de serviços sociais, assumindo projectos de infra-estrutura e atendendo às necessidades dos seus seguidores. O assalto israelita está a dar ao Hezbollah margem para ganhar muito mais poder.
O Hezbollah controla agora, por exemplo, mais de metade das cerca de 100 escolas em Beirute que foram transformadas em abrigos para refugiados.
«Estes ataques mostram a verdadeira força de Israel», disse um jovem à IPS num campo de refugiados num parque da cidade. «Estava com o Hezbollah antes, mas agora quero juntar-me a eles para poder lutar contra os israelitas, que só querem a nossa terra, e querem atacar o Islão».
Um membro do Hezbollah encarregado de um grupo de combatentes no sul de Beirute assegurou que o apoio ao Hezbollah cresceu drasticamente desde que os ataques de Israel começaram há duas semanas.
«As pessoas estão assustadas, e em necessidade, e nós estamos a protegê­‑las e a ajudar a tomar conta dos refugiados criados por esta agressão sionista», disse à IPS. «Quanto mais tempo durar esta luta, mais apoio teremos. Estamos preparados para lutar até ao fim».
O apoio ao Hezbollah parece ser mais forte entre os jovens. E alguns cristãos também estão a falar em apoio do Hezbollah. Ramzi Semaan, um cristão de 21 anos, disse à IPS que «o Hezbollah estava a defender este país, e a resposta israelita estava a ser planeada com meses de antecedência. Assim, o Hezbollah está a ajudar a defender o Líbano dos sionistas».
Mas a maior parte da população cristã parece responsabilizar o Hezbollah. Dos 3,8 milhões de libaneses, cerca de 60% são muçulmanos, a maioria xiitas, e a maior parte dos 40% restantes são cristãos.
As opiniões sobre o Hezbollah caem amplamente, embora não inteiramente, em questões religiosas. A maioria da larga população xiita segue obedientemente cada palavra de Nasrallah.
Muitos dos que têm as suas dúvidas sobre o Hezbollah ainda assim falam da necessidade da protecção do Hezbollah contra a agressão israelita. A maioria concorda que o Hezbollah é uma forte força política, com a qual será preciso negociar. É claro que não poderá haver paz na região sem incluir o Hezbollah em qualquer processo para um cessar­‑fogo e, adicionalmente , em qualquer solução duradoira.
A destruição disseminada da infra-estrutura foi decisiva em voltar a fúria popular contra Israel, em vez de contra o Hezbollah.
«Israel está a proteger­‑se porque o Hezbollah fez a sua operação contra os seus soldados», disse Fuad Rashed, um cristão de 33 anos proprietário de uma loja de electrodomésticos na capital. «A sua reacção é contudo demasiado forte, porque agora estão a destruir o nosso país».
Nassan Hanin, um cristão de 50 anos, disse que «o Hezbollah errou em levar a cabo a sua operação, e Israel erra na sua reacção extrema. Estou feliz por o Hezbollah ter sido golpeado pelo que fez, mas isto agora teve um custo muito alto para nós».
Muitos dos que viveram o pior da guerra civil nos anos oitenta culpam ambos.
«Mal podemos acreditar que haja guerra aqui outra vez», disse à IPS um empregado de mesa de 52 anos no distrito de Hamra, em Beirute. «Pensávamos que nos tínhamos livrado disso em 1990. Creio que foi errado o Hezbollah ter raptado os soldados israelitas, mas este nível de reacção dos israelitas, de destruírem todo o Líbano, é completamente injustificado. É uma loucura».
Dahr Jamail
http://infoalternativa.org/autores/jamail/jamail016.htm

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