Mais de 1000 soldados norte-americanos já assinaram uma petição ao Congresso dos EUA apelando ao fim da ocupação do Iraque. O Pentágono sente-se afrontado.
«Como patriota americano orgulhoso de servir a nação em uniforme, insto respeitosamente os meus dirigentes políticos no Congresso a apoiar a pronta retirada de todas as forças norte-americanas e bases militares do Iraque. Permanecer no Iraque não é solução e não vale o preço que se está a pagar. Está na hora de as tropas dos EUA voltarem para casa».
Este o teor da petição lançada a 24 de Outubro por 65 soldados norte-americanos que está a mobilizar os sentimentos de oposição generalizada à ocupação do Iraque.
Se a reacção de soldados no activo e na reserva significa alguma coisa, pode dizer-se que o movimento contra a ocupação do Iraque no seio das forças armadas dos EUA não está sentado à espera que o Congresso ponha fim à guerra. O movimento está em permanente organização e luta.
A petição – lançada pelo grupo Appel for Redress – foi lançada a 24 de Outubro e divulgada pela imprensa capitalista. Em Novembro, segundo os promotores da iniciativa, mais de 1000 soldados no activo e reservistas já a tinham assinado.
Apesar do tom patriótico do documento, as altas patentes do Pentágono – que dependem da obediência cega dos soldados – encaram-no como um desafio à cadeia de comando, tanto mais que entre os subscritores se contam tropas estacionadas nos EUA, Iraque, Kuwait, Bahrain, Alemanha, Itália e Japão.
O Avante! falou com o marine Jonathan Hutto, da base de Norfolk, Va., que é um dos principais promotores do Appel for Redress.
Para Hutto, como afro-americano nascido e criado em Atlanta e formado no caldo de cultura do movimento pelos direitos cívicos, Martin Luther King Jr foi um herói. «Eles começaram a trabalhar no memorial de King a 13 de Novembro, na capital», diz Hutto. «Os memoriais de Washington, Lincoln e Jefferson, são dedicados a presidentes. O de King é dedicado à justiça e à paz. É nesse espírito de King que nós queremos inserir este apelo». O objectivo é apresentar as assinaturas recolhidas ao Congresso, no Dia de Martin Luther King, em meados de Janeiro próximo, refere este marine de 29 anos, licenciado pela Universidade de Howard.
«Fazêmo-lo, não como militares que infringem a lei, mas como defensores do nosso direito de participação em democracia. Afirmamos esse dever e esse direito», sublinha Hutto. E acrescenta: «Aos que dizem que os militares não se podem pronunciar, nós dizemos que só nas ditaduras fascistas as pessoas podem ser impedidas de fazer ouvir a sua voz. Nas forças armadas nós temos também o direito de apelar ao Congresso sem sermos punidos.» Hutto refere-se à directiva 7050.6 do Departamento da Defesa, que garante aos militares no activo, da Guarda Nacional e aos reservistas o direito de enviarem comunicações aos membros do Congresso sobre qualquer assunto, sem estarem sujeitos a represálias.
A derrota de Bush, na opinião de Hutto, «foi o resultado do que as pessoas sentem quanto à ocupação [do Iraque]. As pessoas querem mudanças. Vêem que a guerra está a ser um sorvedouro de dinheiro e de membros das suas comunidades. Muitos dos seus filhos morreram e muitos mais ficaram gravemente estropiados e incapacitados.» Mas não é só isso, acrescenta Hutto, dizendo: «Eu considero-me um defensor dos direitos humanos. Temos de pôr fim à destruição do povo iraquiano. O relatório de Johns Hopkins dá conta de 650.000 mortos iraquianos. Esta desvalorização da vida humana é também perigosa para as tropas norte‑americanas. Cerca de 61 por cento dos iraquianos apoiam a morte de soldados dos EUA. E isto sucede porque somos uma força de ocupação.»
VETERANOS DE GUERRA TOMAM POSIÇÃO
Garett Reppenhagen, Jeff Englehart e Joe Hatcher, que integraram a Primeira Divisão de Infantaria estacionada na província iraquiana de Diyala, de 2004 a 2005, falaram contra a guerra e a ocupação num comício realizado em Nova Iorque, a 17 de Novembro. Actualmente membros dos Veteranos do Iraque Contra a Guerra, os três veteranos deram conta das dificuldades que enfrentam os dissidentes. «Temos a sensação de ter um poder esmagador sobre as nossas cabeças, que torna difícil assumir abertamente a resistência. Não podemos sequer ir às latrinas sem que o nosso sargento seja informado», disse Reppenhagen.
«Não há “retaguarda” nem linhas laterais», afirmou por seu turno Englehart, que acrescentou: «Nós somos pequenas bases e estamos sob constante vigilância dos comandantes. Sentimos que o nosso papel principal como dissidentes foi transmitir o nosso testemunho ao povo americano. A nossa maior campanha foi a divulgação do cartaz “Bush mente, quem morre?” (Bush lies, who dies?) por toda a base. Quando os afixámos em cada esquina e nas portas das latrinas, os soldados deixaram-nos lá ficar.»
Os veteranos participam agora em desfiles contra a guerra e incentivam o crescente número de pessoas que protestam contra a ocupação do Iraque.
John Catalinotto
http://www.infoalternativa.org/usa/usa131.htm
«Como patriota americano orgulhoso de servir a nação em uniforme, insto respeitosamente os meus dirigentes políticos no Congresso a apoiar a pronta retirada de todas as forças norte-americanas e bases militares do Iraque. Permanecer no Iraque não é solução e não vale o preço que se está a pagar. Está na hora de as tropas dos EUA voltarem para casa».
Este o teor da petição lançada a 24 de Outubro por 65 soldados norte-americanos que está a mobilizar os sentimentos de oposição generalizada à ocupação do Iraque.
Se a reacção de soldados no activo e na reserva significa alguma coisa, pode dizer-se que o movimento contra a ocupação do Iraque no seio das forças armadas dos EUA não está sentado à espera que o Congresso ponha fim à guerra. O movimento está em permanente organização e luta.
A petição – lançada pelo grupo Appel for Redress – foi lançada a 24 de Outubro e divulgada pela imprensa capitalista. Em Novembro, segundo os promotores da iniciativa, mais de 1000 soldados no activo e reservistas já a tinham assinado.
Apesar do tom patriótico do documento, as altas patentes do Pentágono – que dependem da obediência cega dos soldados – encaram-no como um desafio à cadeia de comando, tanto mais que entre os subscritores se contam tropas estacionadas nos EUA, Iraque, Kuwait, Bahrain, Alemanha, Itália e Japão.
O Avante! falou com o marine Jonathan Hutto, da base de Norfolk, Va., que é um dos principais promotores do Appel for Redress.
Para Hutto, como afro-americano nascido e criado em Atlanta e formado no caldo de cultura do movimento pelos direitos cívicos, Martin Luther King Jr foi um herói. «Eles começaram a trabalhar no memorial de King a 13 de Novembro, na capital», diz Hutto. «Os memoriais de Washington, Lincoln e Jefferson, são dedicados a presidentes. O de King é dedicado à justiça e à paz. É nesse espírito de King que nós queremos inserir este apelo». O objectivo é apresentar as assinaturas recolhidas ao Congresso, no Dia de Martin Luther King, em meados de Janeiro próximo, refere este marine de 29 anos, licenciado pela Universidade de Howard.
«Fazêmo-lo, não como militares que infringem a lei, mas como defensores do nosso direito de participação em democracia. Afirmamos esse dever e esse direito», sublinha Hutto. E acrescenta: «Aos que dizem que os militares não se podem pronunciar, nós dizemos que só nas ditaduras fascistas as pessoas podem ser impedidas de fazer ouvir a sua voz. Nas forças armadas nós temos também o direito de apelar ao Congresso sem sermos punidos.» Hutto refere-se à directiva 7050.6 do Departamento da Defesa, que garante aos militares no activo, da Guarda Nacional e aos reservistas o direito de enviarem comunicações aos membros do Congresso sobre qualquer assunto, sem estarem sujeitos a represálias.
A derrota de Bush, na opinião de Hutto, «foi o resultado do que as pessoas sentem quanto à ocupação [do Iraque]. As pessoas querem mudanças. Vêem que a guerra está a ser um sorvedouro de dinheiro e de membros das suas comunidades. Muitos dos seus filhos morreram e muitos mais ficaram gravemente estropiados e incapacitados.» Mas não é só isso, acrescenta Hutto, dizendo: «Eu considero-me um defensor dos direitos humanos. Temos de pôr fim à destruição do povo iraquiano. O relatório de Johns Hopkins dá conta de 650.000 mortos iraquianos. Esta desvalorização da vida humana é também perigosa para as tropas norte‑americanas. Cerca de 61 por cento dos iraquianos apoiam a morte de soldados dos EUA. E isto sucede porque somos uma força de ocupação.»
VETERANOS DE GUERRA TOMAM POSIÇÃO
Garett Reppenhagen, Jeff Englehart e Joe Hatcher, que integraram a Primeira Divisão de Infantaria estacionada na província iraquiana de Diyala, de 2004 a 2005, falaram contra a guerra e a ocupação num comício realizado em Nova Iorque, a 17 de Novembro. Actualmente membros dos Veteranos do Iraque Contra a Guerra, os três veteranos deram conta das dificuldades que enfrentam os dissidentes. «Temos a sensação de ter um poder esmagador sobre as nossas cabeças, que torna difícil assumir abertamente a resistência. Não podemos sequer ir às latrinas sem que o nosso sargento seja informado», disse Reppenhagen.
«Não há “retaguarda” nem linhas laterais», afirmou por seu turno Englehart, que acrescentou: «Nós somos pequenas bases e estamos sob constante vigilância dos comandantes. Sentimos que o nosso papel principal como dissidentes foi transmitir o nosso testemunho ao povo americano. A nossa maior campanha foi a divulgação do cartaz “Bush mente, quem morre?” (Bush lies, who dies?) por toda a base. Quando os afixámos em cada esquina e nas portas das latrinas, os soldados deixaram-nos lá ficar.»
Os veteranos participam agora em desfiles contra a guerra e incentivam o crescente número de pessoas que protestam contra a ocupação do Iraque.
John Catalinotto
http://www.infoalternativa.org/usa/usa131.htm
Sem comentários:
Enviar um comentário