Classe dominante dos EUA resolve por cobro a Bush
A notícia de hoje [30/Novembro] de que o importante Iraq Study Group (ISG), dirigido pelo antigo secretário de Estado James Baker, apelará a uma retirada das forças de combate americanas no Iraque é o começo do fim da guerra naquele país. Despida do seu linguajar diplomático, as recomendações do ISG constituem uma impressionante bofetada na administração de George W. Bush e tudo o que a representa. "Temos de mudar o debate nacional do permanecer na rota para o como começar o caminho da saída", disse um dos membros da comissão do ISG, segundo The New York Times . Confrontado com o consenso do ISG, apoiado por uma maioria Democrata no Congresso que foi catapultada para o poder por um eleitorado americano nauseado com a guerra, o presidente Bush não terá outra escolha senão capitular. No princípio de 2007 as tropas americanas começarão a voltar para casa. Cansados de guerra, os Republicanos mais importantes, ansiosos por colocarem o Iraque fora da mesa antes das eleições de 2008, apoiarão fortemente a saída estratégica do ISG. Isto marca uma mudança de curso geral e irreversível para a política externa americana, e um golpe mortal no vice-presidente Dick Cheney e a remanescente, mas minguante, população de neoconservadores no interior da administração. Para agravar ainda mais as coisas, a política será executada pelo secretário da Defesa Robert M. Gates, um antigo membro do ISG, que expurgará o Pentágono de neocons, de fieis a Rumsfeld e variados outros extremistas. A decisão do ISG, que será anunciada oficialmente em 6 de Dezembro, representa um reconhecimento formal pelo establishment da política externa americana de que a criminosa guerra de agressão de Bush no Iraque está perdida. Uma guerra que se destinava a demonstrar ao mundo a força e o pavor da potência americana está a acabar como uma prova positiva de que os Estados Unidos são demasiado fracos para subjugar uma nação fragmentada de 25 milhões de habitantes. Uma guerra que se destinava a assegurar um lugar proeminente para os Estados Unidos no Golfo Pérsico rico em petróleo está a acabar com a América em plena retirada, deixando um Iraque estilhaçado, um Irão ressurgente e uma Arábia Saudita que está raivosa, amarga e desgostosa com o trabalho mal feito da América. Uma guerra que se destinava a fortalecer o poder regional de Israel está a acabar com o que é provável, agora, ser um impulso revigorado para uma solução diplomática em relação à questão palestina, que virá a expensas de Israel — na Síria, no Líbano e nos territórios ocupados. Foi uma guerra que alienou os aliados da América, encorajou seus aliados e rivais, inflamou seus inimigos e estripou o seu prestígio. Cada dia que a ocupação do Iraque continua, mais tais efeitos são ampliados. Ao apoiar o fim da guerra, o Iraq Study Group pelo menos decidiu parar a hemorragia. No entanto, é demasiado tarde para parar a hemorragia no Iraque. Seiscentos mil mortos iraquianos depois, os Estados Unidos partirão do Iraque deixando para trás um país cujos cidadãos estarão a lutar durante décadas para reconstruir a sua sociedade. A invasão americana do Iraque é um crime de guerra de primeira magnitude, uma guerra ilegal que destruiu um país que nunca atacou os Estados Unidos, que não tinha quaisquer armas de destruição em massa, que não tinha ligações com a Al-Qaida, que não teve conexão com os ataques do 11 de Setembro, e que — no começo da guerra — era um país pequeno, pobre e com um exército dizimado. A guerra civil no Iraque pode na verdade piorar, e pode perdurar durante anos. Toda e cada uma destas mortes pesará sobre a consciência de George W. Bush — se, de facto, ao colossal hipócrita da Bíblia resta qualquer consciência. Mesmo quando as pessoas responsáveis em Washington se mexiam para encontrar uma fórmula que acabasse com a guerra, Bush cambaleava numa outra viagem ao estrangeiro, como o maníaco Capitão Queeg. "Eu não vou retirar nossas tropas do campo de batalha antes de as missão estar completa", vociferou Bush na Letónia, onde mais uma vez embaraçou a América numa cimeira da NATO. "Não podemos aceitar nada menos do que a vitória". A partir da Letónia, Bush arrastou-se para Aman, na Jordânia. Ali, foi humilhado por Nouri al-Maliki, o sem poderes e ineficaz primeiro-ministro do Iraque, o qual decidiu que tinha coisas mais importantes a fazer do que comparecer a um jantar marcado com o presidente do Estados Unidos. (Com Bush suficientemente humilhado, eles encontraram-se hoje.) As ruínas da política de Bush do Médio Oriente esparramam-se diante dele. Como destacou impolidamente o rei Abdullah da Jordânia , o Médio Oriente não confronta apenas uma e sim três guerras civis separadas: Iraque, Líbano e Palestina. Os ayatolas megalomaníacos do Irão estão a flexionar os seus músculos por toda a região, treinando rebeldes xiitas no Iraque, apoiando o Hezbollah no Líbano e pressionando as cleptocracias árabes do Golfo. Um Israel brutal está a acumular cadáveres de palestinos, mesmo quando ameaça o Líbano e a Síria e emite advertências negras acerca do bombardeamento de instalações nucleares do Irão. O Afeganistão está a sair rapidamente do controle. O Paquistão pode cair um dia destes nas mãos de islamistas da direita radical e inclinar-se para a guerra com a Índia. O registo de Bush no Médio Oriente é de uma incompetência de tirar o fôlego. A retórica vazia de uma "Guerra global ao terror" não pode disfarçar uma política que levou ao caos e à carnificina. As recomendações do ISG não são suficientes. A sua intenção afirmada de apelar a uma "retirada" de 15 brigadas de combate ainda deixa aberta a porta para uma presença militar americana residual no Iraque muito maior do que o necessário. O seu fracasso aparente em pedir uma calendário específico , embora politicamente conveniente — um compromisso entre os seus membros Republicanos e Democratas, confirmadamente — pode permitir um deslizamento ou uma procrastinação. E há legiões de diabos nos pormenores. Mas, ao começar o processo, o ISG fez a George Bush uma oferta que ele não pode recusar. Enquanto isso, o ISG — de facto, nem um milhar de ISGs — não pode garantir que as repercussões da ocupação americana do Iraque não desandem fora de controle. A guerra civil no Iraque poderia terminar, com a ajuda de ajuda maciça diplomática externa e o envolvimento construtivo dos seis vizinhos do Iraque — ou poderia escalar, fazendo mais outro milhão de mortes iraquianas. E se assim for, isto podia pressionar o Irão, a Turquia, a Arábia Saudita e outros, ateando uma sangrenta conflagração regional. Ninguém sabe. O ISG não sabe. Há medidas que podem ser tomadas para diminuir as probabilidade de se desencadear o cenário do pior caso. Tais medidas não podem ser deixadas aos Estados Unidos. Goste-se ou não, o Iraque é agora um país extremado, e a comunidade mundial — as Nações Unidas, a Liga Árabe, os vizinhos do Iraque, a Organização da Conferência Islâmica e potências como a China e o Japão — precisarão intervir junto a Kofi Annan, o secretário-geral da ONU, que já se ofereceu para abrigar uma conferência de reconciliação nacional das seitas guerreiras e grupos étnicos do Iraque. Uma centena de outras iniciativas como essa serão necessárias. Oremos para que não seja demasiado tarde.
Robert Dreyfuss
http://resistir.info/
A notícia de hoje [30/Novembro] de que o importante Iraq Study Group (ISG), dirigido pelo antigo secretário de Estado James Baker, apelará a uma retirada das forças de combate americanas no Iraque é o começo do fim da guerra naquele país. Despida do seu linguajar diplomático, as recomendações do ISG constituem uma impressionante bofetada na administração de George W. Bush e tudo o que a representa. "Temos de mudar o debate nacional do permanecer na rota para o como começar o caminho da saída", disse um dos membros da comissão do ISG, segundo The New York Times . Confrontado com o consenso do ISG, apoiado por uma maioria Democrata no Congresso que foi catapultada para o poder por um eleitorado americano nauseado com a guerra, o presidente Bush não terá outra escolha senão capitular. No princípio de 2007 as tropas americanas começarão a voltar para casa. Cansados de guerra, os Republicanos mais importantes, ansiosos por colocarem o Iraque fora da mesa antes das eleições de 2008, apoiarão fortemente a saída estratégica do ISG. Isto marca uma mudança de curso geral e irreversível para a política externa americana, e um golpe mortal no vice-presidente Dick Cheney e a remanescente, mas minguante, população de neoconservadores no interior da administração. Para agravar ainda mais as coisas, a política será executada pelo secretário da Defesa Robert M. Gates, um antigo membro do ISG, que expurgará o Pentágono de neocons, de fieis a Rumsfeld e variados outros extremistas. A decisão do ISG, que será anunciada oficialmente em 6 de Dezembro, representa um reconhecimento formal pelo establishment da política externa americana de que a criminosa guerra de agressão de Bush no Iraque está perdida. Uma guerra que se destinava a demonstrar ao mundo a força e o pavor da potência americana está a acabar como uma prova positiva de que os Estados Unidos são demasiado fracos para subjugar uma nação fragmentada de 25 milhões de habitantes. Uma guerra que se destinava a assegurar um lugar proeminente para os Estados Unidos no Golfo Pérsico rico em petróleo está a acabar com a América em plena retirada, deixando um Iraque estilhaçado, um Irão ressurgente e uma Arábia Saudita que está raivosa, amarga e desgostosa com o trabalho mal feito da América. Uma guerra que se destinava a fortalecer o poder regional de Israel está a acabar com o que é provável, agora, ser um impulso revigorado para uma solução diplomática em relação à questão palestina, que virá a expensas de Israel — na Síria, no Líbano e nos territórios ocupados. Foi uma guerra que alienou os aliados da América, encorajou seus aliados e rivais, inflamou seus inimigos e estripou o seu prestígio. Cada dia que a ocupação do Iraque continua, mais tais efeitos são ampliados. Ao apoiar o fim da guerra, o Iraq Study Group pelo menos decidiu parar a hemorragia. No entanto, é demasiado tarde para parar a hemorragia no Iraque. Seiscentos mil mortos iraquianos depois, os Estados Unidos partirão do Iraque deixando para trás um país cujos cidadãos estarão a lutar durante décadas para reconstruir a sua sociedade. A invasão americana do Iraque é um crime de guerra de primeira magnitude, uma guerra ilegal que destruiu um país que nunca atacou os Estados Unidos, que não tinha quaisquer armas de destruição em massa, que não tinha ligações com a Al-Qaida, que não teve conexão com os ataques do 11 de Setembro, e que — no começo da guerra — era um país pequeno, pobre e com um exército dizimado. A guerra civil no Iraque pode na verdade piorar, e pode perdurar durante anos. Toda e cada uma destas mortes pesará sobre a consciência de George W. Bush — se, de facto, ao colossal hipócrita da Bíblia resta qualquer consciência. Mesmo quando as pessoas responsáveis em Washington se mexiam para encontrar uma fórmula que acabasse com a guerra, Bush cambaleava numa outra viagem ao estrangeiro, como o maníaco Capitão Queeg. "Eu não vou retirar nossas tropas do campo de batalha antes de as missão estar completa", vociferou Bush na Letónia, onde mais uma vez embaraçou a América numa cimeira da NATO. "Não podemos aceitar nada menos do que a vitória". A partir da Letónia, Bush arrastou-se para Aman, na Jordânia. Ali, foi humilhado por Nouri al-Maliki, o sem poderes e ineficaz primeiro-ministro do Iraque, o qual decidiu que tinha coisas mais importantes a fazer do que comparecer a um jantar marcado com o presidente do Estados Unidos. (Com Bush suficientemente humilhado, eles encontraram-se hoje.) As ruínas da política de Bush do Médio Oriente esparramam-se diante dele. Como destacou impolidamente o rei Abdullah da Jordânia , o Médio Oriente não confronta apenas uma e sim três guerras civis separadas: Iraque, Líbano e Palestina. Os ayatolas megalomaníacos do Irão estão a flexionar os seus músculos por toda a região, treinando rebeldes xiitas no Iraque, apoiando o Hezbollah no Líbano e pressionando as cleptocracias árabes do Golfo. Um Israel brutal está a acumular cadáveres de palestinos, mesmo quando ameaça o Líbano e a Síria e emite advertências negras acerca do bombardeamento de instalações nucleares do Irão. O Afeganistão está a sair rapidamente do controle. O Paquistão pode cair um dia destes nas mãos de islamistas da direita radical e inclinar-se para a guerra com a Índia. O registo de Bush no Médio Oriente é de uma incompetência de tirar o fôlego. A retórica vazia de uma "Guerra global ao terror" não pode disfarçar uma política que levou ao caos e à carnificina. As recomendações do ISG não são suficientes. A sua intenção afirmada de apelar a uma "retirada" de 15 brigadas de combate ainda deixa aberta a porta para uma presença militar americana residual no Iraque muito maior do que o necessário. O seu fracasso aparente em pedir uma calendário específico , embora politicamente conveniente — um compromisso entre os seus membros Republicanos e Democratas, confirmadamente — pode permitir um deslizamento ou uma procrastinação. E há legiões de diabos nos pormenores. Mas, ao começar o processo, o ISG fez a George Bush uma oferta que ele não pode recusar. Enquanto isso, o ISG — de facto, nem um milhar de ISGs — não pode garantir que as repercussões da ocupação americana do Iraque não desandem fora de controle. A guerra civil no Iraque poderia terminar, com a ajuda de ajuda maciça diplomática externa e o envolvimento construtivo dos seis vizinhos do Iraque — ou poderia escalar, fazendo mais outro milhão de mortes iraquianas. E se assim for, isto podia pressionar o Irão, a Turquia, a Arábia Saudita e outros, ateando uma sangrenta conflagração regional. Ninguém sabe. O ISG não sabe. Há medidas que podem ser tomadas para diminuir as probabilidade de se desencadear o cenário do pior caso. Tais medidas não podem ser deixadas aos Estados Unidos. Goste-se ou não, o Iraque é agora um país extremado, e a comunidade mundial — as Nações Unidas, a Liga Árabe, os vizinhos do Iraque, a Organização da Conferência Islâmica e potências como a China e o Japão — precisarão intervir junto a Kofi Annan, o secretário-geral da ONU, que já se ofereceu para abrigar uma conferência de reconciliação nacional das seitas guerreiras e grupos étnicos do Iraque. Uma centena de outras iniciativas como essa serão necessárias. Oremos para que não seja demasiado tarde.
Robert Dreyfuss
http://resistir.info/
Sem comentários:
Enviar um comentário