sábado, dezembro 02, 2006

A penúltima montagem dos meios de comunicação venezuelanos

No passado dia 14 de Novembro, foi apresentada em Caracas em conferência de imprensa uma sondagem pré­‑eleitoral promovida pela fundação CEPS, com sede em Espanha, e dirigida por vários professores do grupo de Investigação “Globalização e Movimentos Sociais” (GMS), da Universidade Complutense de Madrid, em colaboração com a empresa venezuelana Veneopsa. A profissional que a apresentou foi a investigadora Carolina Bescansa da Universidade Complutense. O resultado do estudo apresentava uma diferença de entre 15 e 20 por cento na expectativa de voto de Hugo Chávez em relação ao segundo, Manuel Rosales.

Alguns meios de comunicação da oposição indignaram-se com o resultado desfavorável ao seu candidato, e decidiram apresentar a sua própria “investigação jornalística” sobre a legitimidade da investigação e os profissionais.

Dois dias depois, a 16 de Novembro, no programa da Globovisión “Aló Ciudadano”, cujo nome pretende arremedar o programa semanal de Chávez Aló Presidente, a presentadora María Isabel Párraga tenta desautorizar a professora afirmando que é falso que seja investigadora da Universidade Complutense de Madrid. Para isso, ao vivo a partir do cenário, entra na Internet e dirige­‑se ao site oficial da Universidade madrilena. A partir dali digita “Carolina Descansa”, isto é, substituindo o apelido Bescansa por Descansa, comprova que – evidentemente – não aparece no site da Universidade nenhuma professora com esse nome e assim afirma à audiência do programa que essa pessoa não é professora da Complutense. Não volta a tentar com o nome dos outros dois professores que participaram no projecto, mas sim com Javier Cazalis, o director executivo da empresa venezuelana que tinha colaborado no estudo. Logicamente, não aparece como professor da Universidade Complutense. Deste modo, mediante a mudança do apelido na sua busca, a jornalista “demonstra” a usurpação dos responsáveis como falsos professores madrilenos.

As operações manipuladoras dos meios de comunicação venezuelanos são sempre bem coordenadas entre vários deles. No dia seguinte, a 17 de novembro, o editorial do diário El Nacional retoma a denúncia dos que denomina “impostores” e cita o nome da professora espanhola como “Carolina Bescans”. Já não substituem o B por um D, mas eliminam o “a” do final para o caso de ocorrer a algum avisado leitor procurar o nome no site da Universidade ou simplesmente no Google e descobrir a verdade. Seguem-no na denúncia outros meios de imprensa como El Nuevo País ou 2001.

No jornal El Universal de 19 de Novembro, a virulenta jornalista opositora Marta Colomina escreve sobre «os falsos números, da falsa sondagem, da falsa universidade Complutense, destes pícaros espanhóis».

A verdade foi desmontada pela própria Universidade Complutense no dia 23 de Novembro, no denominado “Informe del Grupo de Investigación de la Universidad Complutense de Madrid al que pertenece Carolina Bescansa, a propósito de la reciente encuesta sobre intención de voto en las elecciones venezolanas” [“Relatório do Grupo de Investigação da Universidade Complutense de Madrid ao qual pertence Carolina Bescansa, a propósito da recente sondagem sobre as intenções de voto nas eleições venezuelanas”]. Este documento, elaborado em Madrid por Montserrat Galcerán e Mario Domínguez, coordenadores do grupo de Investigação “Globalização e Movimentos Sociais” (GMS) é iniciado afirmando que «perante o tumulto provocado pela desqualificação brutal de que foi objecto a recente sondagem sobre as intenções de voto nas próximas eleições venezuelanas, tornada pública pela investigadora principal Sra. Carolina Bescansa Hernandez, os abaixo assinados, co-directores do grupo de investigação da Universidade Complutense de Madrid ao qual pertence a dita professora, querem fazer constar o seguinte».

A seguir denunciam que «o facto de desprestigiar a equipa da nossa Universidade, dizendo que a doutora Carolina “Descansa” (em lugar de Bescansa) e a equipa que respalda o dito estudo não faz parte dessa Instituição, simplesmente porque não gostam das conclusões, ou insinuar que a primeira responsável deste estudo ou bem não existe ou bem é uma assalariada de uma tendência política em particular, são atitudes pouco sérias que envilecem a profissão jornalística». Além disso, reconhecem a credibilidade e rigor do estudo e lamentam «profundamente o descrédito que tais artimanhas tentam projectar sobre o nosso trabalho e as instituições a que pertencemos, algo que só podemos explicar como resultado do clima crispado com o qual a oposição ao presidente Chávez está a tentar turvar todo o processo eleitoral».

É só um exemplo dos métodos toscos de mentira e engano nos meios de comunicação da Venezuela. É fácil imaginar a credibilidade que podem merecer quando difundem as suas críticas ao governo de Hugo Chávez ou a inútil esperança em que alguma vez informem com veracidade do que acontece nesse país.
Pascual Serrano
Rebelión
http://www.infoalternativa.org/midia/midia056.htm

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