Tal como o Carlos, só consigo perceber as declarações de final e início de ano de Bento XVI pressupondo que ensandeceu de vez!De facto, equiparar os cientistas a terroristas e as vítimas de terrorismo a embriões sem consciência de si nem do meio ambiente no mínimo não reflecte grande sanidade mental! E a afirmação de ser a Igreja «paladina dos direitos fundamentais de cada pessoa» corrobora o diagnóstico.Bastaria a um Bento XVI na posse das suas faculdades mentais lembrar o Sílabo dos Erros do seu predecessor Pio IX- que reforça a enciclica Quanta Cura na condenação pela Igreja de tudo o que agora é suposta ser «paladina» - para não se atrever a debitar o monte de inanidades que constam na sua mensagem de Ano Novo!Na realidade, é no mínimo bizarro que no mesmo texto em que condena o relativismo das inadmissíveis «concepções antropológicas do homem», Bento XVI declare ser a Igreja «paladina» de tudo o que num passado recente tão veementemente condenou!Nomeadamente «as perversas opiniões e doutrinas» que «com Nossa autoridade apostólica as reprovamos, proscrevemos e condenamos; e queremos e mandamos que todas elas sejam tidas pelos filhos da Igreja como reprovadas, proscritas e condenadas» como sejam a democracia, a liberdade de expressão, que corrompe as almas, a liberdade de consciência e de imprensa mas especialmente a liberdade religiosa!Não se percebe como em apenas algumas décadas a Igreja, segundo Bento XVI detentora da «verdade absoluta» e impoluta de abominados «relativismos», passou de repudiar e declarar loucura a pretensão de que «a liberdade de consciências e de cultos é um direito próprio de cada homem» para reinvidicar, «de modo particular», «o respeito da liberdade religiosa de cada um»!Mais bizarro ainda se lembramos a ululação de ser «contra a doutrina da Sagrada Escritura, da Igreja e dos Santos Padres» « afirmar que 'a melhor forma de governo é aquela em que não se reconheça ao poder civil a obrigação de castigar, mediante determinadas penas, os violadores da religião católica'»Já a existência de uma «tão grande conspiração de inimigos contra o catolicismo e esta Sé Apostólica» que carpia Pio XII na boa tradição de vitimização católica, foi reiterada na alocução de hoje em que Bento XVI saudou os «mártires» actuais, isto é, os fundamentalistas «católicos que mantêm a sua fidelidade à sede de Pedro» «à custa de graves sofrimentos» (infligidos pela imaginada guerra ao Natal?).Fundamentalistas católicos que têm agora mais um item proibido a acrescentar à longa lista dos prazeres profanos de que se devem abster: as festas de réveillon, esses «ritos mundanos» que Bento XVI criticou no Te Deum de domingo.Achei divertidissimo que o líder de uma Igreja que vende exorcismos, milagres e uma vida no Além como evasão deste «vale de lágrimas», critique os «ritos mundanos, marcados principalmente pela diversão e vividos frequentemente para evadir a realidade» e que só servem para «exorcizar os aspectos negativos» da vida e para «proporcionar sorte improvável».
Palmira F. da Silva
http://www.ateismo.net/diario/
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