Gérard Molina (Paris) contesta, no artigo intitulado Comemorações... (Le Monde diplomatique, Março de 2005), a formulação segundo a qual a Alemanha teria sido “esquecida” em matéria de colónias.
A Alemanha chegou tarde à colonização, mas, após a conferência de Berlim (1884-1885), estabeleceu rapidamente a sua esfera de influência sobre quatro vastos territórios de África (Togo, Camarões, Sudoeste africano e África oriental alemã), o que a tornou a terceira potência neste continente. Foi o tratado Versailles (1919) que a julgou “indigna de colonizar” e lhe retirou todos os territórios. Não se trata aqui de erudição, pois a África serviu de laboratório às políticas de segregação, de espaço vital e de exterminação.
No início do século XX, as colónias alemãs eram as únicas em África a proibir os casamentos entre brancos e pretos, incluindo os mestiços cristãos. Foi na sua colónia do Sudoeste africano (a actual Namíbia) que a Alemanha realizou em 1904-1905 um genocídio contra as tribos hereros, que se rebelavam regularmente. Após o assassinato de mais de três quartos dos 70.000 hereros, os 16.000 sobreviventes só conseguiram a salvação no exílio para outras regiões. Quando foi conhecida na metrópole a ordem de exterminar os hererós, a comoção da opinião pública obrigou o governo de Berlim a desdizê-la, mas era demasiado tarde. Uma mesma política etnocidária foi desencadeada contra os namas, descendentes dos khoikhoi ou “hottentot”.
(...) Sublinhar estes factos não deve levar a relativizar a singularidade da Shoah, mas mostra que esta não emerge como um acontecimento incompreensível face ao qual qualquer ensaio de explicação seria a priori impossível, ou mesmo obsceno. Hannah Arendt, muito ao corrente da história alemão moderna, reconheceu explicitamente esta relação: «Os primeiros a compreender a influência decisiva da experiência sul‑africana foram os líderes da multidão que, como Carl Peters, decidiram que deviam eles também fazer parte de uma raça de senhores. As possessões coloniais africanas ofereciam o solo mais fértil para o desabrochamento do que se tornaria a elite nazi.»
Le Monde diplomatique
http://www.infoalternativa.org/memoria/memoria007.htm
A Alemanha chegou tarde à colonização, mas, após a conferência de Berlim (1884-1885), estabeleceu rapidamente a sua esfera de influência sobre quatro vastos territórios de África (Togo, Camarões, Sudoeste africano e África oriental alemã), o que a tornou a terceira potência neste continente. Foi o tratado Versailles (1919) que a julgou “indigna de colonizar” e lhe retirou todos os territórios. Não se trata aqui de erudição, pois a África serviu de laboratório às políticas de segregação, de espaço vital e de exterminação.
No início do século XX, as colónias alemãs eram as únicas em África a proibir os casamentos entre brancos e pretos, incluindo os mestiços cristãos. Foi na sua colónia do Sudoeste africano (a actual Namíbia) que a Alemanha realizou em 1904-1905 um genocídio contra as tribos hereros, que se rebelavam regularmente. Após o assassinato de mais de três quartos dos 70.000 hereros, os 16.000 sobreviventes só conseguiram a salvação no exílio para outras regiões. Quando foi conhecida na metrópole a ordem de exterminar os hererós, a comoção da opinião pública obrigou o governo de Berlim a desdizê-la, mas era demasiado tarde. Uma mesma política etnocidária foi desencadeada contra os namas, descendentes dos khoikhoi ou “hottentot”.
(...) Sublinhar estes factos não deve levar a relativizar a singularidade da Shoah, mas mostra que esta não emerge como um acontecimento incompreensível face ao qual qualquer ensaio de explicação seria a priori impossível, ou mesmo obsceno. Hannah Arendt, muito ao corrente da história alemão moderna, reconheceu explicitamente esta relação: «Os primeiros a compreender a influência decisiva da experiência sul‑africana foram os líderes da multidão que, como Carl Peters, decidiram que deviam eles também fazer parte de uma raça de senhores. As possessões coloniais africanas ofereciam o solo mais fértil para o desabrochamento do que se tornaria a elite nazi.»
Le Monde diplomatique
http://www.infoalternativa.org/memoria/memoria007.htm
Sem comentários:
Enviar um comentário