quinta-feira, janeiro 18, 2007

Formação de Professores Colaboração do PJ

Acho que as entradas do Paulo Guinote são por vezes provocatórias e por norma não deixa sem resposta os seus comentadores. Ele gosta da vibração da batalha argumentativa e, em diversas ocasiões, recordei-me da célebre frase que Robert Duvall proferiu em Apocalipse Now, de Francis Ford Coppola: “I love the smell of napalm in the morning.” Foram várias as ocasiões em que discordei das suas opiniões que me pareciam por vezes enviesadas ou excessivas.Todavia, tenho que dizer que subscrevo completamente as suas palavras relativamente à formação inicial de professores que se anuncia e que vou repetir para ver se alguém nos ouve. O que vem aí é “ALGO MAU, MUITO MAU, MAS MESMO MUITO, MUITO, MUITO MAU.”
Esqueçam as reformas da Ana Benavente que tantos criticam. Esqueçam as aulas de substituição e o trabalho não pago. Esqueçam a TLEBS. Esqueçam mesmo, se conseguirem, o Estatuto da Carreira Docente recentemente aprovado. O que se anuncia é simplesmente isto: O FIM DA EDUCAÇÃO EM PORTUGAL.
Com a actual legislação já aprovada em Conselho de Ministros, e que aguarda a promulgação do Presidente da República, reforma-se a formação inicial de professores. A trave-mestra de tal reforma é o completo abastardamento da formação científica dos futuros docentes. O professor generalista é a pior praga que existe. É aquele que tendo que saber tudo acaba por não saber nada.
Esqueçam a História, a Geografia, a Biologia ou a Geologia, por exemplo. A proposta colapsa estes grupos disciplinares para o 3º ciclo e para o ensino secundário. Passará a existir o professor de História e Geografia, assim como o professor de Biologia e Geologia.O diploma prevê, por exemplo, como patamar mínimo para ser admitido num curso de Mestrado que habilita para docência, 60 créditos na área da História ou Geografia para leccionar História do 7º ano ao 12º ano. 60 créditos correspondem a um ano lectivo. UM ANO!!!! Existe formação complementar prevista na área da docência no curso de mestrado, mas ela nunca será suficiente para colmatar as imensas lacunas de uma formação que se pretende minimamente sólida no plano científico.
Ensinar não é dizer aquilo que se sabe, mas para ensinar é preciso dominar muito bem uma área científica. Sem esta base nada se sustém. Pode-se providenciar uma formação luxuosa em áreas importantes das Ciências da Educação (Teoria do Currículo, História da Educação, Sociologia da Educação, Psicologia da Educação, Didáctica, etc., etc.).
Podem-se ainda arranjar os melhores orientadores e as melhores escolas para realizar o estágio. Por fim, pode ainda tentar transformar-se o ano probatório num período de crescimento pessoal e profissional.Nada disto será suficiente para colmatar uma deficiente formação científica de base, ainda para mais quando as licenciaturas se reduzem em duração e se pretende, ao mesmo tempo, formar para várias disciplinas. Nem mesmo a Filosofia ou a Matemática escapam: os grupos disciplinares mantêm-se, mas a formação mínima de acesso ao mestrado situa-se nos 120 créditos, ou seja, dois anos de formação. Conseguem imaginar, por exemplo, um professor de Matemática ou de Filosofia a leccionar no ensino secundário com esta formação científica de base?
Poder-se-á argumentar que estes patamares são os mínimos para ter acesso a um curso que habilita para a docência. Mas não deixa de ter um profundo significado político quando a fasquia é colocada tão baixa. E precisamente numa altura em que, por via de um excesso de formação de professores, encontravam-se reunidas as condições para dar um salto quântico nesta área e que poderia ser assim sintetizada: é preciso formar muito menos professores mas muito melhores professores. Entre a excelência e a mediocridade o Ministério da Educação preferiu a segunda.
PJ
http://educar.wordpress.com/

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