quinta-feira, janeiro 18, 2007

Laicidade e democracia

A laicidade do Estado é condição indispensável à existência da democracia. Sem total respeito por todas as crenças, não-crenças e anti-crenças, numa absoluta neutralidade confessional, é impossível assegurar a paz religiosa e neutralizar os ímpetos prosélitos dos crentes mais exaltados.As teocracias islâmicas, no desespero do ocaso de uma civilização falhada, perturbam a estabilidade mundial e são um perigo para a paz que alguns líderes ocidentais agravam.O fascismo islâmico, longe de constituir a vacina que se impunha quanto à separação sanitária entre o Estado e a Igreja, deu origem a um estranho mimetismo que conduziu à infiltração de regimes ocidentais por um agressivo clericalismo de contornos nebulosos.O boato e as campanhas pagas, ou ingénuas, servidas por uma multidão de beatos, têm criado as condições propícias para o avanço do clericalismo. O exemplo mais boçal foi a invenção de que a comemoração do Natal estava em perigo quando o único risco é o da sua obrigatoriedade.Poucos sabem que a imaginária guerra ao Natal foi inventada nos EUA, há pouco mais de um ano, pelos comentadores da cadeia extremista FOX, que distorceram a realidade e inventaram pretensas ofensas dos «humanistas» aos rectos cristãos americanos. O que, então, fracassou nos EUA teve êxito, um ano depois, na Europa.A cruzada para introduzir referências confessionais na Constituição Europeia foi um treino para novas ofensivas que culminaram na contestação da Conferência Episcopal Espanhola à legislação sobre família e ensino do Governo Zapatero, à exigência clerical de várias confissões para o assalto ao ensino privado e, recentemente, na mobilização das hostes católicas, em Portugal, na luta contra a descriminalização da IVG.Não há anticlericalismo sem clericalismo, nem liberdade sem laicidade. A teocracia é a mais grotesca negação da democracia. Os europeus parecem ter esquecido as guerras da Reforma e da Contra-Reforma e nada terem aprendido com a desintegração recente da Jugoslávia.

Carlos Esperança
http://www.ateismo.net/diario/

Sem comentários: