domingo, janeiro 07, 2007

Maquiavel em todo o seu esplendor

As origens Nascido em Laleia, Manatuto, lado nascente de Timor-Leste, portanto lorosae, Alexandre Gusmão beneficiou de estar integrado numa família conceituada e beneficiada aos olhos da Igreja Católica e do Colonialismo Português. Por tudo isso usufruiu dos privilégios da administração colonial e acabou por vir estudar para Dili e ingressar na Administração Pública. Como todos os jovens também ele tinha os seus sonhos, mas porque os horizontes eram pouco espaçosos naquela ilha paradisíaca de nada valia sonhar com o impossível. Os sonhos, as ambições não podiam ir muito além de uma carreira no funcionalismo público de então. Gusmão conseguira-o, por via do privilegiado estatuto da sua família, mas essa não era a sua ambição daquele momento. Alexandre Gusmão queria ser figura do desenvolvimento agrícola de Timor. Ter as suas propriedades de exploração agrícola, os seus empregados, a sua independência e bem-estar arrancado ao terreno fértil que o viu nascer. Se bem o pensou, melhor o tentou. O crédito Julgando beneficiar do seu estatuto de funcionário público requereu um empréstimo financeiro á banca colonial... Que não, não senhor, não lhe emprestariam nem um chavo, que o seu projecto enfermava de incongruências e não era fiável nem viável. O colonialismo frustrara a mente voluntariosa e ambiciosa do jovem Alexandre. Abespinhado, acabou por se demitir da função pública colonial e andar um pouco aos caídos por Dili, fazendo as patacoadas próprias de um jovem com algumas habilitações e experiências, muito reprovadas para as convenções de então. Aquele jovem era uma enorme dor de cabeça para a família, principalmente para o pai, pessoa muito considerada pela sua postura exemplar para a época. Fez uma tentativa de emigrar para a Austrália, que não resultou, tendo o 25 de Abril de 1974 surpreendido Gusmão dias depois de ter regressado a Timor. Alexandre ingressa então no jornal A voz de Timor estagiando e auferindo um parco ordenado, que mesmo assim era muito bom em comparação com os ganhos dos timorenses comuns. O Che Guevara de Lorosae Invadido de um nacionalismo serôdio por contágio de outros elementos realmente esclarecidos e anti-colonialistas Alexandre Gusmão adere á ASDT, partido social-democrata, fundado por José Ramos Horta e outros. Mais tarde a ASDT viria a transformar-se na FRETILIN com um programa mais ambicioso e consonante com os tempos revolucionários que então se viviam. O desempenho de Alexandre era de simples aprendiz das teorias maoístas, marxistas, guevaristas, etc. Che Guevara cativou-o particularmente e de forma a influencia-lo durante muitos anos de luta contra a ocupação indonésia. No topo da sua mente figurava a luta pela libertação e independência do seu país, não como Guevara que via as coisas de um modo universal. Alexandre era um guevarista, comportando-se como tal mesmo em relação á sua família, pais, mulher e filho. Um combatente tem por sua família o combate pela liberdade e os seus camaradas, nada mais. A captura do guerrilheiro e o "estrelato" A partir daí foi por demais conhecido o percurso de Gusmão, agora Xanana. Com a sua captura pelos indonésios a sua imagem correu mundo, popularizando-se e adquirindo estatuto romântico-heroico para preencher as faltas de tais personagens que eram e continuam a ser actualmente raras ou inexistentes. O julgamento, a prisão em Cipinang, catapultaram Xanana para as páginas dos jornais de todo o mundo e assim um anónimo timorense passou a herói e vítima da boçalidade indonésia. A gaiola dourada Só ao princípio a prisão de Xanana era sentida sob a forma mais rigorosa do termo e a sua imagem corria mundo capitalizando atenções para a agenda política da Fretilin e da luta pela libertação de Timor-Leste. O regime indonésio, liderado por Suharto, estava a apodrecer lentamente e já se prognosticava a sua queda, o que representava um sério problema para aquela estratégica região e para o caso de Timor-Leste. Os governos australianos sempre jogaram com um pau de dois bicos em relação á invasão e consequente ocupação de Timor pela Indonésia e com o sofisma de explorarem o petróleo no Mar de Timor, reconheceram a anexação pelo putrefacto regime indonésio, apoiando a Indonésia nas Nações Unidas, juntamente com os USA, ou obstando a que medidas para a reposição da legalidade e reconhecimento de Timor estado soberano fossem tomadas. A Austrália tinha de limpar as suas mãos sujas de toda esta sua política em nome da exploração ilegal do petróleo no Mar de Timor. Num fantástico golpe de rins, característico de países e políticas sujas, o assunto começou a ser equacionado por qualificados mentores. A aproximação a Xanana Gusmão foi a solução encontrada e a que acabou por resultar plenamente quando a fórmula foi encontrada. Os discípulos de Maquiavel Várias tentativas diplomáticas foram feitas ao longo dos anos em que o líder da guerrilha timorense foi residente na prisão indonésia, mas a receptividade de Xanana era moderada e parecia sempre esbarrar no comportamento pró-indonésio da Austrália. Foi uma tentativa simples e impensável que resultou: uma mulher! Xanana Gusmão foi vencido pela gula do sexo e convívio amistoso com uma sua admiradora e apoiante da luta de libertação de Timor-Leste. Kristie, de seu nome, australiana de origem, personificando a via para a continuidade desencabrestada da exploração petrolífera. A bem urdida abordagem ao futuro homem forte de Timor independente, a fabricar, resultara e agora só era necessário garantir a sua consistência e a prossecução do vasto plano. Maquiavel em acção Manipulável, perante a "inteligência" norte-americana, inglesa e australiana, o presidiário caiu que nem um pato. A Indonésia foi arregimentada para que a "abertura" do regime acontecesse o mais pacificamente possível e levada a mostrar boa vontade em relação ao líder da guerrilha timorense. Os encontros amorosos entre Kristie e Xanana aconteceram muitas vezes fora da prisão de Cipinang, em locais previamente definidos e acordados com as autoridades indonésias colaborantes. A libertação estava para breve e Xanana sabia-o. Só aqueles que desconheciam que Shuarto ia cair de podre é que ainda resistiam, caso da guerrilha timorense que continuava a perder resistentes em operações contra o invasor. Tudo aconteceu num abrir e fechar de olhos. Xanana casou-se com a australiana com o mais puro dos sentimentos, garantindo assim á Austrália o passaporte para o controle do líder, do país e do petróleo, bem como todos os benefícios que daí para si advirão. Liberdade rumo á "independência" Noutro abrir e fechar de olhos Suharto resigna á sua política de punhos de aço e a Indonésia passa a conhecer a auto-estrada para a democracia. O direito ao referendo é reconhecido em Timor-Leste e a independência não tardou - com o saldo negativo de muitas chacinas por parte dos pró-indonésios que nunca entenderam o que se preparava há tanto tempo. Xanana é libertado finalmente com honras de chefe de estado e recebido em muitos países sob esse estatuto. Era o natural PR para Timor-Leste, assim estava delineado pelas altas políticas internacionais e os grandes lobbies do petróleo. A República dos Xananas Xanana será sempre refém do bem urdido plano que dura há anos e tudo é tão natural para ele que se lesse esta análise a repudiaria com todas as forças que conseguisse reunir. É muito provável que uma pessoa tão limitada quanto a mulher por quem se apaixonou agora esteja a seu lado naturalmente, com sentimentos recíprocos aos do homem que a ama. Pode mesmo querer iludir-se que a farsa só existiu no princípio, mas a verdade é que a farsa continua e a manipulação também. Consciente ou inconscientemente, deve ser horrível sobreviver assim, com a alma vendida ao diabo. Para Timor-Leste o futuro há muito reservado foi o "progresso" de uma jovem nação denominada República dos Xananas!
Gonçalo Tilman Gusmão
http://resistir.info/

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