Pelo que é possível ler pela sucessão de comentários que se vão acumulando em vários posts, no fundo (quase) todas as posições discordantes que vão sendo expressas estão mais próximas umas das outras no essencial do que pode parecer.
Não é que se queira aqui gerar um consenso cinzento, nada disso. Antes pelo contrário e tudo o mais. Só que parece evidente que, com uma ou outra inclinação ou desvio em relação a princípios basilares e a objectivos globais, estamos quase todos em consonância no que se pretende, apenas parecendo haver discordâncias na forma de lá chegar.
Fixemos o que me parece incontroverso, na medida do possível:
Todos queremos que a Educação no nosso país não seja um factor de estagnação ou não desenvolvimento.
Também todos - salvo uma minoria, tudo bem - pretendem que os alunos desenvolvam as melhores aprendizagens, adquiram as melhores competências e consigam o melhor desempenho que seja humanamente possível, de acordo com as capacidades de cada um(a). Nisto acho que encarregados de educação e docentes (e muitos acumulam) estão de acordo.
Aparentemente, as soluções desenvolvidas nas últimas décadas não têm obtido os resultados desejados.
Existe uma modalidade de discurso sobre Educação, que se convencionou crismar como Eduquês, que torna complexo o que é essencialmente simples e tende a fomentar uma atitude excessivamente relativista quanto a aspectos como a organização do currículo, a avaliação e a gestão da (in)disciplina na sala de aula e nas Escolas.
Existe muita e respeitável pesquisa na área educacional, que pode servir de base para boas práticas pedagógicas, desde que não se tome nenhum método como necessariamente universal e válido para todas as idades, as matérias académicas e os níveis de ensino.
Sem a colaboração activa e articulada dos vários agentes envolvidos no fenómeno educativo (famílias, alunos, professores, outros técnicos educativos, “sociedade civil” e tutela) em torno de uma política estável e equilibrada, perdem-se demasiadas energias, tempo e recursos em disputas estéreis e em sucessivas experiências ineficazes.
E acho que isto cobre a generalidade do que é razoavelmente consensual. Ora em minha opinião, aquilo em que se discorda é muito menos relevante, tanto em termos quantitativos como qualitativos. E é muito pouco, se forem colocados de lado os ataques espúrios entre alguns dos agentes envolvidos ou as tentativas de hegemonizar as soluções adoptadas e a adoptar.
Vejamos: podemos discordar sobre os melhores métodos de organizar as escolas ou o processo de ensino/aprendizagem; mas somos (ou deveríamos ser) certamente capazes de identificar bons exemplos e perceber que nem sempre são redutíveis a uma única fórmula. Só que não é raro que misturemos de forma voluntária ou inconsciente elementos incompatíveis nas posições apresentadas.
Eu exemplifico: é habitual encontrarmos em aliança críticas à escola pública por não facultar a todos os alunos possibilidades de sucesso e apresentarmos como exemplo de boas práticas e bons desempenhos, escolas privadas que praticam uma política de matrículas selectiva e métodos pedagógicos dos mais tradicionais.
Outro exemplo: não é raro que se critiquem os professores do sistema público de ensino por serem conservadores, poucos adeptos à mudança, rotineiros e pouco críticos em relação a vícios instalados no sistema. Mas depois elogiam-se estabelecimentos de ensino ou modelos de gestão em que os docentes são meras rodas da engrenagem, sem qualquer margem de autonomia. Estava quase a dar como exemplo outra vez alguns estabelecimentos de ensino privados com regras de funcionamento muito rígidas, mas prefiro antes enfatizar o cada vez maior controle directo que o ME exerce sobre o mais pequeno detalhe da gestão das escolas.
Mas há mais: criticam-se práticas pedagógicas por serem herdadas do antigamente, por não promoverem a inovação e as novas experiências, mas entronizam-se as escolas que surgem em destaque nos rankings dos resultados dos exames que funcionam com regras draconianas em termos de disciplina e (auto-)regulação dos alunos.
Há que ter um mínimo de coerência e não querer o melhor de dois mundos, quando agora mal se consegue ter o que é razoável de um: desejamos uma escola onde todos têm lugar e direito ao seu sucesso e ao mesmo tempo resultados globais só ao alcance de elites; querer ter uma escola aberta e multicultural e depois elogiar escolas que praticam um evidente proselitismo; pretender práticas pedagógicas (inter)activas e liberdade para cada aluno seguir o seu ritmo de aprendizagem e os seus interesses, mas depois aceitar de bom grado currículos atomizados, fragmentados e sobrecarregados; ou criticar a carga horária por ser excessiva e depois reclamar porque os alunos têm um ou dois “furos” por semana.
Temos que, de uma vez, escolher exactamente o que se pretende de uma forma coerente. Não é possível colocar tudo no mesmo saco. Ora o que os falsos consensos tentam por vezes é esta quadratura do círculo que, querendo tudo conseguem pouco mais do que nada.
Concentremo-nos nas fases essenciais do processo de aprendizagem: conhecer, aplicar, relacionar, aplicar em novas situações e, por fim, questionar e eventualmente reconstituir todo o processo. Mas isto não se faz tudo de uma só vez e por uma ordem arbitrária. Questionar antes de conhecer, só porque… não leva a lado nenhum. Relacionar sem ter com o que o fazer? Não pode ser.
Portanto, reconduzamos a educação à sua dimensão essencial sem receio de sermos mais ou menos tradicionais, mais ou menos conservadores. Os primeiros países a atingirem níveis de alfabetização e literacia elevados não o fizeram a questionar porque aprendiam a tabuada ou o abecedário. Em primeiro lugar aprenderam-na(o) e depois…
http://educar.wordpress.com/
Não é que se queira aqui gerar um consenso cinzento, nada disso. Antes pelo contrário e tudo o mais. Só que parece evidente que, com uma ou outra inclinação ou desvio em relação a princípios basilares e a objectivos globais, estamos quase todos em consonância no que se pretende, apenas parecendo haver discordâncias na forma de lá chegar.
Fixemos o que me parece incontroverso, na medida do possível:
Todos queremos que a Educação no nosso país não seja um factor de estagnação ou não desenvolvimento.
Também todos - salvo uma minoria, tudo bem - pretendem que os alunos desenvolvam as melhores aprendizagens, adquiram as melhores competências e consigam o melhor desempenho que seja humanamente possível, de acordo com as capacidades de cada um(a). Nisto acho que encarregados de educação e docentes (e muitos acumulam) estão de acordo.
Aparentemente, as soluções desenvolvidas nas últimas décadas não têm obtido os resultados desejados.
Existe uma modalidade de discurso sobre Educação, que se convencionou crismar como Eduquês, que torna complexo o que é essencialmente simples e tende a fomentar uma atitude excessivamente relativista quanto a aspectos como a organização do currículo, a avaliação e a gestão da (in)disciplina na sala de aula e nas Escolas.
Existe muita e respeitável pesquisa na área educacional, que pode servir de base para boas práticas pedagógicas, desde que não se tome nenhum método como necessariamente universal e válido para todas as idades, as matérias académicas e os níveis de ensino.
Sem a colaboração activa e articulada dos vários agentes envolvidos no fenómeno educativo (famílias, alunos, professores, outros técnicos educativos, “sociedade civil” e tutela) em torno de uma política estável e equilibrada, perdem-se demasiadas energias, tempo e recursos em disputas estéreis e em sucessivas experiências ineficazes.
E acho que isto cobre a generalidade do que é razoavelmente consensual. Ora em minha opinião, aquilo em que se discorda é muito menos relevante, tanto em termos quantitativos como qualitativos. E é muito pouco, se forem colocados de lado os ataques espúrios entre alguns dos agentes envolvidos ou as tentativas de hegemonizar as soluções adoptadas e a adoptar.
Vejamos: podemos discordar sobre os melhores métodos de organizar as escolas ou o processo de ensino/aprendizagem; mas somos (ou deveríamos ser) certamente capazes de identificar bons exemplos e perceber que nem sempre são redutíveis a uma única fórmula. Só que não é raro que misturemos de forma voluntária ou inconsciente elementos incompatíveis nas posições apresentadas.
Eu exemplifico: é habitual encontrarmos em aliança críticas à escola pública por não facultar a todos os alunos possibilidades de sucesso e apresentarmos como exemplo de boas práticas e bons desempenhos, escolas privadas que praticam uma política de matrículas selectiva e métodos pedagógicos dos mais tradicionais.
Outro exemplo: não é raro que se critiquem os professores do sistema público de ensino por serem conservadores, poucos adeptos à mudança, rotineiros e pouco críticos em relação a vícios instalados no sistema. Mas depois elogiam-se estabelecimentos de ensino ou modelos de gestão em que os docentes são meras rodas da engrenagem, sem qualquer margem de autonomia. Estava quase a dar como exemplo outra vez alguns estabelecimentos de ensino privados com regras de funcionamento muito rígidas, mas prefiro antes enfatizar o cada vez maior controle directo que o ME exerce sobre o mais pequeno detalhe da gestão das escolas.
Mas há mais: criticam-se práticas pedagógicas por serem herdadas do antigamente, por não promoverem a inovação e as novas experiências, mas entronizam-se as escolas que surgem em destaque nos rankings dos resultados dos exames que funcionam com regras draconianas em termos de disciplina e (auto-)regulação dos alunos.
Há que ter um mínimo de coerência e não querer o melhor de dois mundos, quando agora mal se consegue ter o que é razoável de um: desejamos uma escola onde todos têm lugar e direito ao seu sucesso e ao mesmo tempo resultados globais só ao alcance de elites; querer ter uma escola aberta e multicultural e depois elogiar escolas que praticam um evidente proselitismo; pretender práticas pedagógicas (inter)activas e liberdade para cada aluno seguir o seu ritmo de aprendizagem e os seus interesses, mas depois aceitar de bom grado currículos atomizados, fragmentados e sobrecarregados; ou criticar a carga horária por ser excessiva e depois reclamar porque os alunos têm um ou dois “furos” por semana.
Temos que, de uma vez, escolher exactamente o que se pretende de uma forma coerente. Não é possível colocar tudo no mesmo saco. Ora o que os falsos consensos tentam por vezes é esta quadratura do círculo que, querendo tudo conseguem pouco mais do que nada.
Concentremo-nos nas fases essenciais do processo de aprendizagem: conhecer, aplicar, relacionar, aplicar em novas situações e, por fim, questionar e eventualmente reconstituir todo o processo. Mas isto não se faz tudo de uma só vez e por uma ordem arbitrária. Questionar antes de conhecer, só porque… não leva a lado nenhum. Relacionar sem ter com o que o fazer? Não pode ser.
Portanto, reconduzamos a educação à sua dimensão essencial sem receio de sermos mais ou menos tradicionais, mais ou menos conservadores. Os primeiros países a atingirem níveis de alfabetização e literacia elevados não o fizeram a questionar porque aprendiam a tabuada ou o abecedário. Em primeiro lugar aprenderam-na(o) e depois…
http://educar.wordpress.com/
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