segunda-feira, fevereiro 26, 2007

A BOMBA RELÓGIO DAS PENSÕES EMPRESARIAIS

Quanto mais delgada se torna a camada da produção de mais valia real na terceira revolução industrial, mais o desenrolar do capitalismo se desloca para o plano da circulação de títulos financeiros. O processo secular de expansão da superestrutura do crédito, inicialmente nascida para pré-financiar investimentos reais, há muito se autonomizou numa acumulação aparente na circulação. No essencial, trata-se de uma ampla antecipação contínua de um futuro fictício de criação de mais valia, que na realidade nunca mais acontecerá. Neste desvio, insustentável a longo prazo, manifesta-se o limite interno do modo de produção capitalista. No recurso ao futuro fictício geram-se encargos acumulados: toda a economia mundial arrasta consigo uma montanha de dívidas, créditos duvidosos e títulos de amortização. Um aspecto pouco evidenciado destes encargos acumulados é constituído pelas pensões devidas pelas grandes empresas ocidentais. Constituídas na já longínqua era fordista de prosperidade tornaram-se, com o tempo, um handicap e um factor de risco do novo capitalismo financeiro.
A crescente redução de pessoal, através de despedimentos em massa, cria em contrapartida um crescente exército fantasma" de ex-produtivos, com direito a pensões da empresa. Por isso cada vez mais firmas nos países anglo-saxónicos cancelam completamente as pensões de empresa ou reduzem estes encargos nos novos contratos de trabalho. Muitas vezes os novos empregados "precarizados" ficam completamente excluídos das "final salary pensions" (pensões da empresa com pagamento garantido). Assim se quebra um pilar da garantia de futuro dos idosos, que é particularmente importante nos USA e na Grã-Bretanha, em virtude da fraqueza do sistema de segurança social estatal. Tal tendência há muito atingiu também a Alemanha e outros países ocidentais. Mas isso em nada muda os encargos acumulados, que atingiram proporções enormes. Os recursos dos fundos dos conglomerados não chegam para cobrir os compromissos. O que já levou a falências espectaculares, como a da Delta Airlines ou da fornecedora de componentes para automóveis Delphi. Pela mesma razão, a notação do crédito da General Motors e da Ford regrediu para o "nível do refugo". O mesmo destino atingiu por cá a ThyssenKrupp, porque os encargos com pensões já atingiram o valor bolsista da empresa. E as outras grandes empresas que integram o índice bolsista Dax não estão muito melhor.
Se até hoje os fundos de pensões empresariais serviram para auto-financiamento barato, agora a crescente falta de cobertura ameaça transformar-se em boomerang, ao vencerem-se as obrigações. Muitas grandes empresas passaram assim a pôr de fora os fundos de pensões, tratando-se, contudo, apenas de uma cosmética da técnica de balanço. As faltas de cobertura das pensões de empresa dificultam cada vez mais as "tomadas" no mercado de empresas pesadamente hetero-financiadas, porque as sociedades de private-equity não podem assumir tais obrigações com um peso de milhares de milhões. Assim se forma um círculo vicioso do capital financeiro: para diminuir as faltas de cobertura seria preciso promover uma nova alta das acções; esta, porém, é travada precisamente por causa das faltas de cobertura. Este dilema conduz, da parte das grandes empresas, à mesma lógica que da parte da segurança social estatal: a assistência médica e a longevidade dos pensionistas tornam-se "um problema". Morre depressa, pensionista, para que o capitalismo ainda consiga mais um sopro de ar para respirar.
Robert Kurz
http://obeco.planetaclix.pt/

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