terça-feira, fevereiro 20, 2007

LUCROS RECORD E ORGIAS DE CORTE

Para o são entendimento popular capitalista o mundo está fora de ordem. Por um lado, os lucros das empresas crescem cada vez mais, nomeadamente os dos grandes conglomerados. O ano de 2006 baterá de novo todos os records. O número de empresas com um lucro líquido de mais de mil milhões de euros, em comparação com o ano anterior, crescerá de 14 para 21. E, por outro lado, prossegue simultaneamente a demissão de pessoal em grande escala. A antiga empresa federal Deutsche Telekom, transformada em "Global Player", suprimiu em média 10.000 postos de trabalho por ano desde 1995; até 2008 vão desaparecer ainda 32.000. Na Allianz a planeada supressão de 7.500 jobs causou aflição. Nem os caminhos de ferro ficam de fora: dos 331.000 empregados, que contava em 1994, a empresa já só tem 190.000 – com tendência para diminuir. A Siemens está em vias de cortar 14.000 empregos, a Volkswagen 20.000. A mesma grande tendência estrutural se encontra em muitas pequenas empresas.
Os media burgueses, que antes invocavam a desmontagem social neo-liberal como suposta necessidade natural, gostam de concordar com o "são sentimento popular" de que as orgias de corte de postos de trabalho são "imorais". É a mais estúpida das argumentações. Pois no caso não se trata de uma questão de moral, mas de uma questão de lógica económica. A ideia de que as empresas realizam a mais valia que é produzida dentro das suas quatro paredes é uma ideia errada do marxismo vulgar. Na realidade, a mais valia constitui uma relação social e as empresas realizam na concorrência sempre uma parte da mais valia total. Elas têm tanto mais êxito, quanto mais favorável conseguem fazer a sua oferta. E conseguem-no melhor quando racionalizam e tornam a força de trabalho supérflua. É precisamente esta a auto-contradição capitalista: as empresas que realizam a maior parte da mais valia total são as que mais fortemente minam a produção de mais valia como tal, através da dispensa da única fonte de valor, a força de trabalho.
Esta auto-contradição capitalista assumiu uma nova qualidade na terceira revolução industrial. A produção real de mais valia já está tão profundamente minada que os lucros dependem cada vez mais de bolhas financeiras sem substância; eles apresentam-se já apenas como ganhos diferenciais na compra e venda de partes de empresas. Hoje na RFA já há mais seres humanos a trabalhar em sociedades que são participações na posse de Private-Equity-Fonds do que em grandes conglomerados. "Mais valia pelo desmantelamento" titulava a "Wirtschaftswoche" [Semana Económica] a propósito da tomada e desmantelamento pelas sociedades de investimento que ameaça a Deutsche Telekom. Naturalmente isso não seria mais valia real, no sentido de Marx, mas um simples ganho de bolhas financeiras. Nestas condições a supressão de empregos já não tem a ver com estratégias de economia real, mas tornou-se uma função do capital financeiro, um simples "sinal" na economia de bolhas financeiras, para fazer subir o preços das partes desmanteladas das empresas. A identidade entre lucros record e orgias de corte faz parte do auto-canibalismo objectivo do capital na terceira revolução industrial. Não tem aqui cabimento qualquer moralismo, exige-se é uma crítica nova do próprio modo de produção dominante.
Robert Kurz
http://obeco.planetaclix.pt/

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