sábado, março 03, 2007

Complacência

Na sua coluna desta semana na revista Sábado, Pacheco Pereira sublinha a complacência como os insucessos ou magros resultados da política deste Governo têm vindo a ser recebidos pela opinião publicada e não só, comparando essa complacência há que ele considera ter existido durante o período guterrista.
Eu acho que em nenhuma área da governação tal complacência se tem feito mais sentir que na Educação. Tanto por parte dos órgãos de comunicação social, muito dóceis na sua generalidade aos dossiês comunicacionais emanados do ME, como por parte de opinadores como o próprio Pacheco Pereira que, como António Barreto, Marcelo Rebelo de Sousa, Miguel Sousa Tavares ou Vasco Pulido Valente (salvo José Gil ou Manuel A. Pina, quase todos os “notáveis acham muito bem o que se vai passando ou clamam mesmo por mais sangue como o iluminado MST), acham que a Ministra e os seus secretários desenvolvem acção meritória, mas só que com alguma falta de jeito comunicacional. No fundo, acham que o conteúdo está certo e que a forma de apresentar a coisa é que não é a melhor.
Isto é triste, porque todos parecem ter sido tocados por uma qualquer varinha mágica que lhe nebulou a argúcia e os deixou insensíveis à verdadeira essência dos actos praticados. Ou então pura e simplesmente não entendem exactamente do que falam em termos de funcionamento do sistema educativo e engolem os números que são servidos publicamente e acham que a política desenvolvida está muito bem.
Ora a colecção de dislates e asneiras do trio ministerial há muito ultrapassou o que fez Cavaco Silva - avesso a tais práticas - demitir um ministro como Carlos Borrego.
• Penaliza-se a progressão de docentes por causa de licenças de maternidade ou paternidade e justifica-se com o facto de não terem idade para se reproduzir? É um problema de forma.
• Um secretário de Estado ameaça os sindicatos de não negociar caso existam protestos de rua? É apenas um excesso de linguagem, não é nada de sério.
• Manipulam-se estatísticas sobre assiduidade, investimento na educação? São detalhes ou certamente lapsos.
• A Ministra utiliza frequentemente linguagem abusiva e ofensiva para com os docentes? São simples problemas de expressão, a senhora tem falhas comunicacionais.
• Um secretário de Estado despacha de forma manifestamente ilegal e é desautorizado repetidamente pelos Tribunias? Foi uma mera inabilidade técnica.
• Os direitos dos professores são atropelados à margem de garantias constitucionais e do enquadramento legal vigente, a começar pela Lei de Bases do Sistema Educativo? Ninguém se aborrece, a Ministra está no caminho certo, isso são amendoins.
• A Ministra afirma em entrevista que os alunos devem andar de tijolos na mão a trabalhar nas obras da Escola e devem vender-se t-shirts e canecas a preços de mercado para fazer verbas para o orçamento escolar, contra tudo o que é legalmente permitido? Ninguém dá por nada.
Complacência, sim é uma das palavras certas.
Outra é cegueira.
Uma outra é ainda colaboracionismo. No mau sentido, entenda-se. Naquele sentido aplicável aos que, com o devido conhecimento, colaboram por omissão em gritantes injustiças e atropelos, justificando isso com bens maiores, razões de Estado ou regime.
Mas a ditadura do orçamento não legitima tudo. Não foi o que muitos destes senhores acharam e escreveram sobre a política de Salazar enquanto ministro das Finanças sob a Ditadura Militar? Eu parece-me que li isso algures…
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