sábado, março 31, 2007

Livros e ministério da educação

"Ministério da Educação" não rima com "livros". Os livros, na mentalidade do ministério, são "redutores" e, além disso, elitistas. Acho que nunca nenhum técnico ministerial algum dia lhe ocorreu que a qualidade do ensino passa pela qualidade dos livros que se estudam. Tudo são actividades lúdicas, tudo são competências, tudo é muito complicado e muito pimba e muito “eduquês”. Aposta-se na Internet e nos CD-ROMs, na idioteira da expressão "novas tecnologias" e em formação a metro para os professores aprenderem a fazer brincadeiras nas bibliotecas e para saberem mandar e-emails.

O mais simples de tudo — pôr os professores e estudantes a estudar por bons livros, promover a edição de bons livros para professores e estudantes — é coisa que não lembra aos originais pedagogos que mandam no ministério. É caso para dizer que com cães destes mais vale ir à caça com gatos.

Imagine-se como seriam as coisas se desde há 20 anos o Ministério da Educação se tivesse limitado a fazer a gestão das colocações dos professores e a mandar pintar paredes e mudar sanitas partidas, sem fazer qualquer intervenção no ensino propriamente dito — sem mexer nos programas, nos manuais, no desenho curricular, em nada que diga respeito ao ensino propriamente dito. Está a imaginar? Óptimo. Agora pergunte-se isto: seria possível estarmos hoje pior do que estamos? Eu não tenho dúvidas de que estaríamos pelo menos, na pior das hipóteses, na mesma. Mas quero crer que estaríamos bem melhor, pois no nosso país, os muitos professores de alto profissionalismo — e que estudam por bons livros, sobretudo estrangeiros — têm de lutar contra o ministério da educação para fazer um bom trabalho. Se os pedagogos do ministério estivessem quietos, tudo andaria sobre rodas. Nomeadamente porque os muitos professores de excelência que temos por esse país fora teriam mais tempo para estudar por bons livros estrangeiros e assim preparar aulas de excelência, em vez de andarem afogados em nova legislação todas as semanas, novos programas, novos manuais, novas brincadeiras na biblioteca, novas disciplinas de fantasia.
Desidério Murcho
http://dererummundi.blogspot.com/

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