O presente manifesto foi divulgado por um grupo de estudantes da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Esse mesmo grupo está também a organizar para o dia 29/03/2007, às 15h30m, no Bar da Esplanada da Faculdade de Letras, o debate "Viva quem muda sem ter medo do escuro" [1], com a participação de Eduarda Dionísio (antiga aluna da FLUL), José Mário Branco (músico, aluno da FLUL) e da Associação SOS Racismo.
A Faculdade de Letras tem um passado de luta pela liberdade, contra a opressão, a discriminação e a ignorância que não pode ser esquecido. Desde a luta contra o fascismo em tempos de ditadura ao activo movimento estudantil por uma escola aberta a todos, a faculdade marcou a sua presença. Ao longo da História, estudantes, professores e funcionários manifestaram-se contra as guerras, as desigualdades, o racismo, a xenofobia, o fechamento e a intolerância, existentes dentro e fora da escola.
A nossa faculdade sempre soube olhar para fora, sempre soube que através do conhecimento se combatem os preconceitos mais obscuros e absurdos da nossa sociedade. A Faculdade de Letras é isso mesmo, a experiência do ensino, do conhecimento e da partilha da diversidade cultural, expressão da humanidade. É o espaço onde tem lugar o estudo das várias Línguas, das diversas Culturas, das Artes e das relações que mantêm entre si, da discussão, da crítica e do pensar, da análise da História, das pessoas e dos lugares. Aqui conquista-se o espaço para a diversidade e para um mundo mais justo, livre e consciente.
Não podemos, portanto, assistir passivamente às discriminações racistas e a tentativas de intimidação de que têm sido alvo estudantes dentro da faculdade ou a folclóricas mas preocupantes manifestações neonazis como a que assistimos na passada quinta-feira, dia 15 de Março, dentro do nosso espaço escolar. Não podemos compactuar com ideais fascistas e discriminatórios, fechando os olhos às ameaças de violência e ao mal-estar vivido pelos nossos colegas no dia-a-dia da faculdade. Só a ignorância, o conformismo, a passividade e o vazio cultural deixam espaço à intolerância e favorecem a cultura do medo e os novos obscurantismos.
A liberdade de expressão é inconciliável com a discriminação e a apologia da desigualdade. É por isso que este espaço, que é nosso e é de todos, foi, tem de ser e será um espaço de liberdade e respeito, desde os bares aos corredores, passando pelas salas de aula, centros de investigação e bibliotecas, bem como todos os lugares em que decorre a vida associativa, departamental e institucional desta faculdade.
Todos nós, que estudamos e trabalhamos aqui e aqui vivemos e convivemos, mulheres e homens de diferentes idades, nacionalidades e cores, podemos e devemos tornar a Faculdade de Letras um lugar sem racismo e sem discriminação, um espaço realmente aberto a todos, onde todos possam estudar e trabalhar em liberdade.
[1] Versos da canção “O rei vai nu”, de Sérgio Godinho, que faz parte do álbum Canto da boca (1981) (n. IA).
http://www.infoalternativa.org/portugal/port153.htm
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