sábado, março 03, 2007

Sobre o Novo Regime de Formação de Professores

Colaboração da Maria Lisboa
Acompanhar os alunos desde o 1º ano ao 6º, foi a teoria que esteve na base da criação das ESEs. Os alunos teriam um professor formado numa variante, desde o 1º ao 4º ano, e no 5º e 6º o professor exerceria a variante em que fosse formado. As restantes áreas seriam dadas pelos professores das outras turmas, que “por acaso” seriam formados noutras variantes. Como as variantes, excepção feita às das áreas das expressões, são todas aos pares, já aqui haveria uma grande redução de professores. Constituir-se-iam ciclos de “vida do professor” de 6 anos… pressupondo a sua estabilidade. A concretização deste puzzle de colocações (professores de diferentes variantes), o nº de turmas de 1º ciclo (em especial do 4º ano) a existir numa mesma escola, constituiriam um quebra-cabeças quase inultrapassável.
Não podemos esquecer que o valterzinho foi um dos grandes impulsionadores e implementadores das ESEs e que estas, a par da implementação das EBIs, visavam a estrutura profissional e curricular que referi.
O dito sr não viu a “menina dos seus olhos” posta em prática porque, apesar da criação das ESEs e da formação híbrida que delas resultou, os diferentes MEs, mesmo com todos os erros cometidos, não conseguiram ir tão longe. Apenas por dificuldades logísticas? – não saberemos. O que sabemos é que o valterzinho, tendo o poder na mão, não iria deixar passar a sua oportunidade. Deu para perceber isso quando a 1ª coisa que fez ao chegar ao governo foi criticar a formação existente. Como é possível que um dos grandes responsáveis pela formação do país, já que era “dono” do politécnico de CB, venha criticar violenta e publicamente a formação de professores, pondo em causa a sua competência científica? Não teria voz, nem influência, nos meandros institucionais para tratar o assunto no local apropriado? Ou traria já alguma, na manga, como se veio a verificar?
O que é certo é que associando a sua ideia de base à obsessão dos cortes orçamentais, a qualquer preço, ainda vai conseguir ser mais maquiavélico do que inicialmente se propunha. Encontrámos o vencedor do prémio “Sócrates de Ouro”!!! Oh! Desculpem parece que afinal ainda não foi instituído!
O que vai ser implementado é um projecto curricular em que os 5º e 6º anos de escolaridade deixam de constituir um ciclo para passar a ser uma 5ª e 6ª classes. O que vai ser instituído é um sistema em que a redução de professores vai ser um facto muito palpável … talvez mais palpável do que a redução que houve nestes dois últimos anos.
Para além de tudo o que o Paulo já disse sobre o que da LBSE, se prende com este assunto, para além da aberração da criação de “super professores”, a desculpa da mudança de 1 para diversos professores em idades tão baixas, afectando a capacidade de relação com o adulto e, consequentemente, com a aprendizagem é uma falácia, como todos sabemos. A minha escola é uma EBI c/ JI e, antes de nos tirarem as horas todas (não foi este último roubo, foi o outro anterior, o das percentagens para os créditos lectivos), considerando a filosofia da criação deste tipo de escolas que previa na sua implementação, uma interacção vivida entre os 3 ciclos, os professores dos 2º e 3º ciclos, de algumas áreas específicas: inglês, EF, EM e EV davam aulas aos alunos do 1º ciclo (e do pré, os de EF), enquanto os professores do 1º ciclo que ficavam livres, nesses tempos, davam apoio a alunos com problemas em LP (a quase totalidade dos alunos é caboverdeana, havendo também muitos ciganos, tanto uns como outros com grandes dificuldades de adaptação à língua portuguesa) – portanto não havia, nem perda de recursos humanos, nem professores “à boa vida”). Esta experiência durou uns 4/5 anos. Todos os professores que receberam os alunos que vieram “deste 1º ciclo” constataram a sua melhor socialização inter pares, a sua melhor interacção com o adulto, a sua maior capacidade de aceitação da disciplina (e aqui integro também as “diferentes disciplinas”, resultantes das diferentes personalidades, dos diferentes professores), uma melhor adaptação às diferentes aprendizagens. E repararam também na diferença existente entre os alunos oriundos da nossa escola e os oriundos das outras escolas do 1º ciclo (nos aspectos referidos, claro). É, portanto, falso que os alunos sejam muito novos para terem diversos professores. Pela experiência que tivemos aconselho, precisamente, o contrário. O aumento (em idade dos alunos) da situação que se irá verificar, apenas tenderá a aumentar a infantilização (cada vez maior nos tempos que correm) das crianças e a adiar, no tempo, para idades “fora das tabelas normais” o processo de interacção/socialização com diferentes adultos.
PS: acrescento que o mesmo se passa relativamente à percepção que os professores das ES com 3º ciclo têm dos alunos que chegam das EB2/3. Os oriundos das últimas são (no geral) mais infantis dos que fazem o 3º ciclo nas primeiras. A personalidade, a socialização, entre outras, constroem-se, precisamente na diversidade do contacto com os mais velhos… adultos, ou apenas “mais velhos”.
Maria Lisboa
http://educar.wordpress.com/

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