segunda-feira, abril 09, 2007

E a Opinião Pública Existe?

Gosto de ler, ver e ouvir sempre imensas invocações da opinião pública e dos seus humores para todos os efeitos e conforme as conveniências. Há políticos - como a nossa MLRodrigues - que se escudam numa opinião pública pretensamente favorável para (des)fazerem o que (des)fazem. Há outros - como o nosso Primeiro e outros antes del, como o actual Presidente - que quando fazem algo que as sondagens desaprovam, afirmam que é assim que se demonstra coragem política e não cedência ao populismo.
A opinião pública é pau para toda a obra e objcto de muita confusão. Ora a opinião pública está longe de ser algo facilmente definível ou mesmo apreensível. Há a opinião publicada que é algo diferente e existem as sondagens, que são meras amostras recolhidas em condições muito particulares.
A discussão é antiga e a citação que vou usar tem quase 35 anos. É de Pierre Bourdieu, mas até é daqueles tempos em que ele não se importava ainda de ser quase facilmente compreensível por pessoas não sobredotadas no seu vocabulário muito particular. Neste caso, demonstra com alguma clareza que a “opinião pública” como muitos gostam de a evocar ou não existe ou é um conjunto de fenómenos muito diversos. E ainda hoje tem toda a razão.
De forma breve, eu quis dizer que a opinião pública não existe sob a forma que lhe atribuem aqueles que têm interesse em afirmar a sua existência. Afirmei que há de uma parte opiniões mobilizadas, opiniões constituídas, grupos de pressão mobilizados em torno de um sistema de interesses; e da outra parte há disposições, ou seja, a opinião em estado implícito que, por definição, não é opinião se por isso entendermos alguma coisa que se possa formular em discurso com uma certa pretensão de coerência. (…) a opinião [pública] no sentido da definição social implicitamente admitida por aqueles que fazem sondagens de opinião ou aqueles que utilizam os resultados de sondagens de opinião, digo simplesmente que tal opinião não existe. (Pierre Bourdieu, “L’Opinion Publique n’Existe Pas” in Les Temps Modernes, nº 318, Janeiro de 1973, pp 1308-1309)
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