Defendo a avaliação dos professores. Mesmo sabendo que, já agora, a maior parte das experiências de avaliação de professores nos países europeus incide mais sobre os conhecimentos dos docentes do que sobre o seu desempenho; têm como primeiro objectivo identificar fragilidades no ensino leccionado e melhora-lo e muito menos definir a progressão na carreira; e só muito parcialmente é uma avaliação individual.
Ainda assim, defendo, em geral, a avaliação de todos os profissionais, começando sempre, para dar o exemplo, pelo topo da hierarquia. Defendo que essa avaliação só pode ser séria se depender de objectivos claros. E sei que isso só acontece em empresas ou instituições organizadas e exigentes, coisa rara no nosso país.
No caso dos professores, uma avaliação justa e adequada só pode acontecer com mais autonomia das escolas. Porque se a avaliação depende (só pode depender) de objectivos, e se os objectivos e metas dificilmente podem ser os mesmos em escolas completamente diferentes, é difícil acreditar na eficácia de avaliações burocráticas nacionais.
Mas, como bem disse aqui um comentador, tenho uma dúvida: quantos dos que gritam pela avaliação dos professores e os chamam de privilegiados e de incompetentes são, no seu trabalho, avaliados de forma objectiva, com grelhas e critérios escritos e definidos previamente? Quantos têm um colega seu a assistir a um dia de trabalho e a avaliar a forma como o desempenham? Quantos fazem exames frequentemente para saber dos seus conhecimentos? Quantos são sujeitos à avaliação da qualidade do que produzem? Quantos são promovidos tendo exclusivamente estes critérios em conta? Vou mais longe: em quantos dos locais de trabalho o salário que cada um recebe é público e conhecido de todos os seus colegas e a razão de ser esse e não outro o seu salário é explicita e clara?
Num país onde nem os gestores são realmente avaliados (como se vê pelos resultados que obtêm e os salários que recebem, quando comparados com os seus colegas europeus), num país onde a objectividade nos critérios de contratação é a excepção e a regra é a referência que veio do primo da tia de um amigo, num país onde um aluno mediano de boas famílias arranja com muito mais facilidade emprego do que um bom aluno sem berço, num país onde os critérios salariais dos quadros das empresas é quase uma ciência oculta, num país onde a maior parte das empresas relaciona-se com os seus funcionários ao sabor de humores e simpatias pessoais, é salutar ver esta agitação em defesa da exigência. Neste país, onde toda a gente se mata a trabalhar e os outros são todos uns mandriões, uns incompetentes e uns privilegiados, podíamos começar a mudar de registo para ver se chegávamos a algum lado.
Sou a favor da avaliação de todos os profissionais. Mas começo a ficar cansado destes linchamentos de vítimas selectivas: primeiro os funcionários públicos, depois os professores… Que tal começarmos a defender uma cultura de exigência antes de mais no lugar onde trabalhamos. Porque quem só leia os jornais e os blogues fica com a sensação que vive num país com empresas e serviços de excelência onde sobrevive uma ilha de desorganização: o Estado. Pois eu, que praticamente toda a minha vida trabalhei no sector privado, sei bem como isso é falso. O nosso Estado é apenas um excelente retrato do resto do país. Sente-se mais porque é mais centralizado e mais pesado. Mas a cultura é a mesma.
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