domingo, março 23, 2008

Vídeo expõe apartheid e obriga governo a reavaliar política

Reitz - What's really behind the "urination" scene?



Tão logo o vídeo caiu na Internet, o governo foi obrigado a reconhecer que "o racismo ainda é um dos maiores desafios" e ordenou uma investigação completa da situação
O vídeo começa de forma inocente: quatro estudantes brancos se divertem embebedando cinco empregados negros, que parecem se divertir também. Corta para uma cena de dança de salão e outra numa pista de atletismo, em que os negros correm ao som da trilha de Carruagens de Fogo. Assim continua por sete minutos o que seria um trote não muito diferente do que se vê em várias universidades pelo mundo, até chegar o trecho que chocou a África do Sul, demolindo o mito de que, 14 anos após o fim do apartheid, o país de Nelson Mandela seja uma democracia racial plena, e está obrigando o governo a reavaliar toda a sua política de integração.

De costas para a câmera, um estudante aparentemente urina numa tigela de "jaggie", um cozido gosmento que leva tomate, alho, abacaxi e cenoura, e serve a mistura para os negros (o estudante alega que simulou a urina e que despeja água de uma garrafa). Ajoelhados no chão, os negros comem e vomitam. A frase final, em africâner, língua derivada do holandês que é falada pela maioria dos brancos sul-africanos, é provocação explícita: "Isso é o que chamamos de integração".

O vídeo está no site YouTube. Sua divulgação, no final de fevereiro, produziu ondas de choque cujo epicentro é Bloemfontein, cidade universitária no centro do País que até esse episódio tinha como única distinção o fato de ser o berço do escritor J. R. R. Tolkien, de O Senhor dos Anéis (que saiu ainda criança).

Mas este também é o coração africâner do país, onde os brancos se estabeleceram no século 19 após uma marcha desde a costa do Atlântico, subjugando sociedades africanas pelo caminho. A saga dos "voortrekers", algo como "pioneiros", tem lugar cativo na mitologia branca.

Não se sabe ao certo como o vídeo caiu nas mãos de organizações civis de negros. Mas tão logo caiu na Internet, o governo foi obrigado a reconhecer que "o racismo ainda permanece um dos maiores desafios de nossa jovem democracia" e ordenou uma investigação completa da situação nas universidades. Reitores de 23 universidade públicas discutem conjuntamente um plano para evitar a repetição do episódio. Protestos têm ocorrido com freqüência no campus. Já os brancos se sentem acuados, mesmo os que condenam o vídeo. O vídeo veio à tona agora, mas é na verdade de setembro do ano passado. Dois dos estudantes que o produziram já se formaram. Os outros dois foram expulsos.

O vídeo pode ser original em africâner pode ser visto aqui:



http://www.opovo.com.br/opovo/internacional/775077.html

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