segunda-feira, abril 21, 2008

O Memorando e a Moção dos sindicatos de professores

Amanhã é outro dia: tempo de combate e esperança. Tempo moral.

Um comentário sobre a consulta aos professores relativamente ao acordo entre os sindicatos de professores e o Governo de 11-4-2008. Mais tarde, farei aqui uma análise e síntese do contexto político do acordo.

O acordo entre sindicatos de professores e Governo de 11-4-2008 - "Memorando de Entendimento entre a Plataforma Sindical de Professores e o Ministério da Educação" (não-datado) - envolveu ainda, em anexo, uma Declaração da Plataforma Sindical e uma Declaração da Ministra da Educação que têm o objectivo de limpar a face de cada um, tentando cada um demonstrar que não cedeu e que ganhou.

Como tenho repetido, os 100 mil professores não participaram na manifestação por causa do aburdo do método e da substância da avaliação dos docentes, mas por causa da regressão do ensino, no meio do delírio pedagógico e didáctico do Ministério da Educação, e da degradação da função do professor. Ora, o acordo não resolve, nem estabelece um método para resolver, as queixas maiores e, portanto, despreza-as, reduzindo o capital de descontentamento à fatídica avaliação.

Mais ainda, o Memorando de Entendimento contém, no seu ponto 9, um saco-de-trinta-dinheiros de um novo escalão remuneratório no topo da carreira, o que não vi ninguém na Marcha pedir e envergonha o sentido missionário da indignação. A reivindicação de mais dinheiro acaba por ser sempre a prova-do-algodão das lutas dos sindicatos politicamente alinhados. Mesmo quando a questão não é dinheiro - e na luta dos professores não é! -, a tentação do capital (o vil metal) bate mais forte, principalmente nos sindicatos comunistas. Enlameia-se a indignação funda dos professores quando na luta os sindicatos misturam o dinheiro - qualquer que seja o eufemismo usado para o designar (carreiras, escalões e outros palavras do jargão esotérico) - e o quadro (que não o da aula).

Por isso, considerei que o acordo significa a venda dos professores ao Governo pelos sindicatos politicamente controlados pelo PC e PS. Os 100 mil professores que se manifestaram não são todos comunistas: na manifestação existiria uma representação mais ou menor proporcional da preferência partidária dos eleitores, corrigida, admita-se, pela não participação de professores que tenham considerado que participar na manifestação constituiria uma forma de ataque ao Governo que apoiam politicamente. Foi com desconforto que os professores assistiram no Terreiro do Paço em 8 de Março de 2008, no final da Marcha, o discurso de... Manuel Carvalho da Silva, que pareceu uma tentativa de instrumentalizar professores para objectivos que a larga maioria não partilhava; enquanto não foi consentida a intervenção de nenhum líder independente de uma luta que começou inorgânica até ser montada pelos sindicatos.

A motivação dos sindicatos politicamente controlados parece ter sido conseguir um acordo a qualquer preço, adoçado pela oferta do bombom amargo do novo escalão, para partir os dentes ao sindicalismo independente que se divisava, mantendo a função de intermediário exclusivo da classe e... do Governo.

Como temiam os sindicatos políticos, que, numa admissão da sua perda de representatividade, afirmaram ir proceder a uma espécie de ratificação do acordo celebrado pelas cúpulas em plenários nas escolas, a primeira reacção pública dos professores ao acordo foi negativa, conforme se pôde ver pelos blogues, caixas de comentários e fórum livres do controlo, directo e indirecto, governamental dos media.

Avisado por uma leitora, li a revelação do prof. Mário Lopes no blog Movimento Cívico em Defesa da Escola Pública e da Dignidade da Docência de que na prometida consulta aos professores após acordo com o Ministério as cúpulas sindicais, numa evidência de deslealdade política, não terem submetido o texto do próprio Memorando de Entendimento aos professores nos plenários - organizados e preparados pelos sindicatos -, mas uma Moção em que o acordo é referido de passagem. Fui confirmar e verifiquei que é verdade a tese do "Gato por lebre". O que foi dado a votar aos professores, nas escolas onde os sindicatos organizaram reuniões, foi uma moção reivindicativa face ao Governo, cujos resultados (até 17/04/2008, com 766 escolas: 669 - 87,3% - aprovaram a moção; e 97 - 12,7% rejeitaram a moção) são, paradoxalmente, usados para demonstrar adesão ao acordo dos sindicatos com o Ministério!...

A luta dos professores foi instrumentalizada pelos sindicatos controlados para propósitos políticos que desonram as suas justas razões.
http://doportugalprofundo.blogspot.com/

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