Na AutoEuropa, onde o Estado português já muito investiu e os trabalhadores já muito cederam, as negociações entre a comissão de trabalhadores (CT) e a administração da empresa chegaram a um impasse. E durante as negociações, como forma de chantagem, a administração chegou a deixar no ar a hipótese de uma deslocalização desta unidade fabril para a Alemanha.
Na discussão entre a administração e a CT estava em debate a flexibilidade dos tempos de trabalho e a proposta daquela implicava trabalho ao sábado (até ao máximo de 8 dias por ano) pagando-os como dias de trabalho normal. Na linha daquela “flexibilidade” e “mobilidade”muito elogiadas por patrões e governantes burgueses. E na carta enviada aos trabalhadores, em 20 de Maio, a administração, depois de dizer que “infelizmente não se conseguiu chegar a um consenso”, afirma que agora irá tomar as decisões adequadas a uma situação em que a fábrica está a laborar a 43% da sua capacidade normal.
Entretanto, o ministro da Economia, também fazendo chantagem sobre os trabalhadores, veio dizer que é preciso manter a “competitividade”da empresa – isto é, afinal, condições salariais mais baixas. Ao mesmo tempo, o capitalista Belmiro de Azevedo veio dar uma ajudinha, classificando de “estranhas” as exigências dos trabalhadores da AutoEuropa, que se limitam a defender o que está consagrado nos acordos estabelecidos (por exemplo, não aceitar que o trabalho ao sábado seja pago como dia normal). Belmiro aconselhou mesmo os trabalhadores em geral a “habituarem-se” ao que chama a “mobilidade” no emprego – sugerindo, no fundo, que tudo aceitem na actual situação de crise do capitalismo.
Entre as decisões a serem eventualmente tomadas pela administração contam-se: a não renovação dos contratos a prazo a cerca de 250 trabalhadores, a passagem a um único turno (perdendo os trabalhadores 15% do salário – o subsídio de turno) e ainda a aplicação do lay-off.
Para os capitalistas é assim, quando há dificuldades económicas não adianta o “bom comportamento” dos trabalhadores ou os investimentos feitos pelo Estado: os custos ficam sempre para os explorados! Esperamos que dos próximos plenários dos trabalhadores da AutoEuropa surjam decisões fortes de unidade e luta capazes de fazer face à chantagem do governo e do patronato! Não só para que os trabalhadores da AutoEuropa levem a melhor, mas também porque o seu exemplo pode ser útil para outros trabalhadores em condições semelhantes – na medida em que a luta aponte formas práticas de resistência que façam recuar o patronato.
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