Estas palavras que se evadem da cinzenta e gélida prisão de Brians, pretendem devolver, de alguma maneira, todo o calor e carinho a todos e a todas que com o seu apoio e solidariedade têm conseguido derrotar, dia após dia, a solidão e a rotina que mascara a reclusão; aos que me têm dado tanto ânimo e força nestes momentos e rompem esta barreira que nos separa fazendo com que em nenhum momento deixe de sentir a liberdade; a todo e todas que têm mostrado que com um simples papel e caneta se pode devolver a esperança e o desejo de continuar a lutar; a todos e todas que lutam contra este negócio da tortura, o castigo e a repressão que são as prisões.
E aos restantes… Que é que posso contar que não saibam já? Como se reprime uma luta? Como se amordaçam e aprisionam as vozes? Como as suas asquerosas leis controlam as nossas vidas?
Podia contar-vos como no dia 15 de dezembro de 2009, antes de amanhecer, um punhado de Guardas Civis entraram em minha casa, levaram tudo o que quiseram e me seqüestraram.
Podia tentar explicar-vos o que senti ao escutar gritos de dor e de medo vindos de uma cela de uma delegacia.
Podia transmitir-vos as experiências que algumas presas quiseram compartilhar comigo, nas quais se falava de humilhação, de tortura, de desamparo, de solidão.
Podia falar-vos sobre o que se observa deste lado do muro, como este “Negócio Penitenciário” lucra com as pessoas seqüestradas e como a isto chamam “reinserção” (estranha palavra…).
Podia ilustrar com alguns casos, que pude presenciar neste mês e meio que levo de privação de liberdade, da parte do funcionamento do Sistema sanitário da prisão, onde a metadona e outras drogas legais são o melhor método de controlo; e onde a saúde e a vida das pessoas importam muito pouco.
Podia falar-vos da tristeza que sinto quando de manhã cedo ouço a muitas dizerem esta frase: “um dia a menos”, em lugar de “um dia a mais”.
Podia dizer-vos que, atrás destes muros, se isolam e se destroem as pessoas.
Mas… tudo isto já vos soa familiar... não é verdade? Já o ouvimos antes, já o vivemos.
Já se passou muitas outras vezes, já o sentimos. Sabemos que nos encontramos dentro de um sistema injusto que nos condena a “não viver”, no qual a falsa idéia de “bem estar” cega as pessoas e as condena, no qual o trabalho nos condiciona, as leis nos controlam e a prisão nos reprime e castiga.
Recuso-me a ser vítima de tudo isto, nem sequer agora me sinto assim.
Quero ser e serei sempre o seu “problema”. E é por isso que o que quero realmente trasmitir-vos, com estas palavras, são os desejos de continuar a lutar, de não nos rendermos, de seguirmos resistindo, de tentarmos, ao menos, respirar livres e sentirmo-nos vivos e vivas.
Penso em todas e todos vós e sinto-me viva, livre e forte, e é isso também que a vossa solidariedade tem sabido ser: mais forte que as grades.
Por isso, esta carta vai dirigida a todos e todas os e as que em cada dia sabem que vale a pena lutar, a todas as pessoas seqüestradas nestes Centros de Extermínio e a todas e todos que seguem lutando dentro e fora das prisões…
Recebam um fraternal abraço pleno de Liberdade e rebeldia.
Liberdade para todas e todos os presos!
Abaixo os muros das prisões!
Viva a Anarquia!
Tamara H. Heras - 26 de janeiro de 2010
Endereço para escrever a Tamara:
Tamara Hernandes Heras
C.P. Brians - Dones Carretera de Martorell a Capellades, km 23 Código Postal 08635 Sant Esteve Sesrovires – Espanha
Tradução - Liberdade à Solta
agência de notícias anarquistas-ana
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