domingo, abril 11, 2010

O NEGRO E O VERMELHO

depois 25.000, 15.000, 10.000, etc., até 1.500 e 1.000 francos, mínimo do salário de um cidadão. Pinheiro gostava das distribuições e já não concebia um Estado sem grandes dignitários assim como um exército sem tambores-mores; e como também amava ou julgava amar a liberdade, a igualdade, a fraternidade, fazia dos bens e dos males da nossa velha sociedade um eclectismo de que saía uma constituição. Admirável Pinheiro! Liberdade até à obediência passiva, fraternidade até à identidade da língua, igualdade até ao júri e à guilhotina, tal foi o seu ideal da República. Génio desconhecido, de que o século presente não era digno e que a posteridade vingará.
Escuta, proprietário. De facto, existe a desigualdade das faculdades; em direito não é admitida, não conta para nada, não se tolera. Basta um Newton por século para 30 milhões de homens; o psicólogo admira a raridade de um tão belo génio, o legislador só vê a raridade da função. Ora a raridade da função não cria um privilégio em benefício do funcionário e isso por várias razões, todas igualmente peremptórias.
1.º - A raridade do génio não foi, nas intenções do Criador, um motivo para que a sociedade se ajoelhasse diante do homem dotado de faculdades eminentes, mas um meio providencial para que cada função fosse exercida com a maior vantagem.
2.º - O talento é mais uma criação da sociedade do que um dom da natureza; é um capital acumulado do qual a pessoa que o recebe é apenas depositário. Sem a sociedade, sem a educação que nos lega o seu poderoso auxílio, o natural mais belo ficaria, no próprio género que deve fazer a sua glória, abaixo das capacidades mais medíocres. Quanto maior é o saber de um mortal mais bela a sua imaginação, mais fecundo o seu talento, também mais custosa a sua educação, mais brilhantes e numerosos os seus antecessores, maior é a sua dívida. O trabalhador produz desde que sai do berço até entrar no tumulo: os frutos da arte e da ciência são tardios e raros, muitas vezes a árvore perece antes de amadurecer. A sociedade, cultivando-lhe o talento, sacrifica a esperança.
3.º - A medida de comparação das capacidados não existe: a desigualdade dos talentos não é a mesma que a especialidade dos talentos, sob iguais condições de desenvolvimento.
4.º - A desigualdade dos tratamentos é económicamente impossível, assim como o direito de lucro. Admitindo o caso mais favorável, aquele em que todos os trabalhadores tenham fornecido o seu máximo de produção: para que seja equitativa a repartição de produtos entre eles é preciso que a parte de cada um seja igual ao quociente da produção dividida pelo número de trabalhadores. Feita esta operação o que resta para preencher os salários superiores? Absolutamente nada.
Dir-se-á que é preciso lançar uma contribuição sobre todos os trabalhadores? Mas, então, o seu consumo já não será igual à produção, o salário não pagará o serviço produzido, o trabalhador não poderá comprar o seu produto e cairemos em todas as misérias da propriedade. Não falo da injustiça feita ao trabalhador despojado, das rivalidades, das ambições excitadas, das raivas acesas: todas estas considerações podem ter a sua importância mas não vão direitas ao assunto.
Sendo, por um lado, a tarefa de cada trabalhador curta e fácil e sendo iguais os modos de a cumprir com êxito, como haver grandes e pequenos produtores? Por outro lado, sendo todas as funções iguais entre si, quer pela equivalência real dos talentos e das capacidades quer pela ccoperação social, como é que ulm funcionário poderia usar a excelência do seu génio para reclamar um salário proporcional?
Mas que digo? na igualdade os salários são sempre proporcionais às faculdades. Que significa o salário em economia? É aquilo que compõe o consumo reprodutivo do trabalhador. O próprio acto pelo qual o trabalhador produz esse consumo, é, portanto, igual à produção que se lhe pede: quando o astrónomo produz observações, o poeta versos, o sábio experiências, consomem instrumentos, livros, viagens, etc.; ora se a sociedade fornece esse consumo que outra proporcionalidade de honorários exigiriam o astrónomo, o sábio, o poeta? Concluímos, pois, que na igualdade o adágio de Saint-Simon, A cada um segundo a sua capacidade, a cada capacidade segundo as suas obras, encontra a sua plena e perfeita aplicação.
III. - A grande chaga, a ferida horrível e sempre bendita da proriedade, é o facto de com ela a população se conservar sempre e necessariamente superabundante, seja qual for a quantidade de que se reduza.

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