domingo, abril 11, 2010

O NEGRO E O VERMELHO

Em todos os tempos se queixaram do excesso de população; em todos os tempos a propriedade se encontrou incomodada com a presença do pauperismo, sem se aperceber que só ela era a sua causa: também nada de mais curioso que a diversidade dos meios que imaginou para a extinguir. O atroz e o absurdo disputam a palma.
A exposição das crianças foi a prática constante da antiguidade. A exterminarão em grosso e em particular dos escravos, a guerra civil e estrangeira também contribuíram. Em Roma, onde a propriedade era forte e inexorável, esses três meios foram tanto tempo e tão eficazmente empregues que por fim o Imperio se encontrou sem habitantes. Quando os bárbaros chegaram não encontraram ninguém: os campos já não eram cultivados; a erva crescia nas ruas das cidades italianas.
Na China, em tempos imemoriais, foi a fome se encarregou de varrer os pobres. Sendo o arroz quase a única subsistência do pequeno povo, um acidente faz que a colheita falte e em alguns dias a fome mata os habitantes por miríades; e o mandarim historiógrafo escreve, nos anais do Império Médio, que em tal ano de certo imperador uma fome levou 20, 30, 50, 100.000 habitantes. Depois enterram-se os mortos, voltam a nascer crianças, até que uma outra fome faça a mesma mortandade. Tal parece ter sido a economia confuciana de todos os tempos.
Extraio os seguintes pormenores de um economista moderno.
«A Inglaterra é devorada pelo pauperismo desde os séculos XIV e XV; promulgam-se leis de sangue contra os mendigos.» (No entanto a população nem sequer era um quarto do que é hoje).
«Eduardo proíbe que se peça esmola, sob pena de prisão... As ordenanças de 1547 e 1656 apresentam disposições análogas, em caso de incidência. Elisabete manda que cada paróquia alimente os seus pobres. Mas o que é um pobre? Carlos II decide que uma residência não contestada durante 40 dias confirma o estabelecimento na comuna; mas contesta-se e o recém-chegado é forçado a ir-se embora. Jacques II modifica esta decisão, de novo alterada por Guilherme. No meio das análises, relações e modificações o pauperismo cresce, o operário definha e morre.
«A taxa dos pobres em 1774 ultrapassa 40 milhões de francos; 1783, 1784, 1785, importam em 53 milhões por ano; 1813, mais de 187.500.000 francos; 1816, 250 milhões; em 1817, supõem-se 317 milhões.
«Em 1821, a massa dos pobres inscritos nas paróquias foi avaliada em 4 milhões, passando do terço ao quarto da população.
«França. Em 1544 Francisco I institui uma taxa de esmola para os pobres; com obrigatoriedade de pagamento. 1566, 1586 relembram o princípio, aplicando-o a todo o reino.
«Sob o governo de Luís XIV, 40000 pobres infestavam a capital (tantos como hoje, em proporção). Foram promulgadas severas medidas sobre a mendicidade. Em 1740, o parlamento de Paris reproduz, por sua iniciativa, a quotização forçada.
«A Constituinte, assustada com a grandeza do mal e as dificuldades do remédio, ordena o statu quo.
«A Convenção proclama como dívida nacional a assistência à pobreza. - A lei fica sem execução.
«Napoleão também quer remediar o mal: o sentido da sua lei é a reclusão.
«Assim, dizia Napoleão, preservarei os ricos da importunidade dos pobres e da imagem desagradável das enfermidades da alta miséria.» Ó grande homem!
Destes factos, que bem poderia multiplicar, resultam duas coisas: uma, que o pauperismo é independente da população, outra que todos os remédios experimentados para o extinguir foram ineficazes.
O catolicismo fundou hospitais, conventos, aconselhou a esmola, quer dizer, encorajou a mendicidade: o seu génio, falando pelos padres, não foi mais longe.
O poder secular das nações cristãs tanto ordenou impostos sobre os ricos como a expulsão e prisão dos pobres, quer dizer, por um lado a violação do direito de propriedade, por outro a morte civil e o assassínio.
Os economistas modernos, imaginando que a causa do pauperismo reside completamente na superabundância de população, entregaram-se sobretudo a limitar a sua expansão. Uns querem que se proíba o casamento ao pobre, de tal maneira que após se ter clamado contra o celibato religioso se propõe um celibato forçados que necessariamente se transformará num celibato libertino.
Outros não aprovam esse meio demasiado violento e que tira ao pobre, dizem, o único prazer que conhece no mundo. Quereriam só que se lhes recomendasse prudência.

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